Aliado do vírus, Bolsonaro mantém país no escuro sobre início da vacinação
Índia pode impedir importação de 2 milhões de doses da vacina da Oxford. Segundo o Ministério da Saúde, são necessárias 104,2 milhões de doses apenas para vacinar os grupos prioritários, que somam 49,6 milhões de pessoas mas a pasta não garantiu nem mesmo as seringas e agulhas necessárias. “Não é despreparo a falta de seringas e agulhas pra vacinação contra covid-19 no Brasil, é atitude deliberada do governo pra desmontar o SUS e não salvar vidas”, denunciou a presidenta Nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR)
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O Brasil continua no escuro no que diz respeito ao início da vacinação contra a Covid-19 no país. No mundo, mais de 50 países deram início às imunizações, resultando na vacinação de pelo menos 12 milhões de pessoas, segundo levantamento da Universidade de Oxford. Com os consecutivos atrasos do anúncio, pelo Instituto Butantan, dos resultados dos testes finais da CoronaVac – a mais nova data é 7 de janeiro -, as expectativas estão concentradas nos dois milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca, cuja importação encontra-se incerta depois da notícia de que a Índia não permitirá exportação da vacina nos próximos meses.
Em um ambiente tomado pelo caos, o presidente Jair Bolsonaro considera razoável que o país não tenha plano ou data para a execução de um programa de imunização nacional. O Ministério da Saúde não garantiu nem mesmo as seringas e agulhas necessárias. “Não é despreparo a falta de seringas e agulhas pra vacinação contra covid-19 no Brasil, é atitude deliberada do governo pra desmontar o SUS e não salvar vidas”, denunciou a presidenta Nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). “Houve tempo pra comprar, não fizeram, agora querem suspender exportações. Isso custará vidas e a conta é sua Bolsonaro”, afirmou.
O governo alega que fez licitação para comprar 331 milhões de seringas mas só conseguiu oito milhões “porque o preço oferecido é bem inferior ao dos fabricantes”. O episódio é apenas mais uma prova de que a falta de compromisso de Bolsonaro com a saúde da população faz parte de uma estratégia bem calculada de sabotagem ao combate à pandemia, em curso desde a chegada do surto ao país.
Fiocruz aciona Itamaraty
A Fiocruz, que está à frente das negociações junto à Universidade de Oxford e coordenou os testes no Brasil, acionou o Ministério das Relações Exteriores para tentar garantir a importação dos imunizantes da AstraZeneca. A vacina da Oxford tornou-se a grande aposta do governo Bolsonaro para adiantar-se ao governador de São Paulo, João Dória, que pretende a vacinar a população no estado com a CoronaVac.
O governo não se pronunciou sobre o assunto. Sem maiores esclarecimentos, a Fiocruz limitou-se a comentar que “o Ministério das Relações Exteriores está à frente das negociações relacionadas à importação das doses prontas das vacinas da Índia”, conforme relata a ‘Folha de S. Paulo’. Mesmo que o Brasil negocie com sucesso a importação da vacina da Oxford, dois milhões de doses não serão capazes nem mesmo de cobrir uma pequena parcela dos grupos prioritários em um país com 210 milhões de habitantes, de acordo com informações do próprio Ministério da Saúde. A pasta prevê 104,2 milhões de doses apenas para vacinar os grupos prioritários, que têm 49,6 milhões de pessoas.
Brasil, uma vergonha
Em meio ao caos provocado pela falta deliberada de planejamento, o vírus continua sua escalada veloz pelo país, onde a palavras ‘quarentena’ e ‘lockdown’ parecem soar como uma memória desbotada. Apesar de o Brasil passar por uma nova onda de explosão de casos, aproximando-se rapidamente dos 200 mil mortos, nenhuma medida para endurecer a restrição da circulação de pessoas foi anunciado. Ao contrário do Reino Unido, que entrou em um terceiro ‘lockdown’ para frear mutações que tornam o vírus até 70% mais transmissível , o Brasil festeja o verão. A mutação B.1.1.7. já foi, inclusive, detectada em São Paulo.
“Tenho visto imagens vergonhosas do Brasil. Média da última semana: 36 mil casos e 700 vítimas por dia pela pandemia”, afirmou o comissário de Economia da União Europeia e ex-primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni, referindo-se às cenas de aglomerações que se repetem pelo país. O resultado será ainda mais dramático: a plataforma Geocovid projeta que o país pode ultrapassar 11 milhões de contaminações até o fim de janeiro, caso as medidas de isolamento social sejam completamente abandonadas.
Da Redação, com informações de ‘Folha de S. Paulo’, ‘El País’, ‘Rede Brasil Atual’ e ‘Brasil de Fato’