Ao visitar Chapecó, Bolsonaro acabou mostrando força do lockdown

Com viagem, Bolsonaro gerou comparações entre Chapecó (SC) e Arararaquara (SP). Mas números provam que a última cidade se saiu bem melhor no combate à Covid-19 graças ao lockdown

Tetê Viviani

Lockdown em Araraquara: vidas salvas

Na quarta-feira passada (7), Jair Bolsonaro viajou até Chapecó com um só objetivo: apresentar a cidade no oeste de Santa Catarina como um exemplo de combate à Covid-19. “É uma cidade para ser olhada pelos demais prefeitos do Brasil”, discursou, logo após atacar o lockdown e insistir no “tratamento precoce” à base de cloroquina e outras drogas sem eficácia contra o coronavírus.

A estratégia de Bolsonaro era óbvia. Um dia antes, Araraquara (SP), governada pelo prefeito Edinho Silva, do PT, havia recebido grande destaque por chegar ao segundo dia seguido sem mortes por Covid-19, graças a um lockdown de 10 dias. Bolsonaro queria, então, mostrar uma cidade defensora do “tratamento precoce” e que tivesse bons resultados. Escolheu Chapecó. Mas, na verdade, acabou mostrando mesmo que a medida eficaz é o lockdown.

Para chegar a essa conclusão, basta olhar, no gráfico abaixo, os dados de óbitos por Covid-19 nas duas cidades, que, ressalte-se, têm tamanho semelhante. Enquanto Araraquara soma 238 mil habitantes, Chapecó tem população de 224 mil.

Total de mortos por Covid-19:

Pelo gráfico acima, é possível ver que, após ser atingida pela variante P1 no começo do ano, Araraquara começou a apresentar um aumento significativo no número de mortes por Covid-19. Assim, o total de óbitos da cidade paulista chegou a 158 em 17 de fevereiro, quase se igualando ao total de mortes de Chapecó, que naquele dia somava 164 vítimas.

Edinho Silva, então, seguiu as recomendações científicas e decretou o lockdown quatro dias depois, em 21 de fevereiro. O prefeito chapecoense, João Rodrigues (PSD), não fez o mesmo. Resultado: de 17 de fevereiro até 7 de abril, quando Bolsonaro fez sua visita, Chapecó viu o total de mortos saltar de 164 para 544, um crescimento de 231%.

Já Araraquara freou o avanço das mortes, chegando a 7 de abril com um total de vítimas quase 40% mais baixo que o do município catarinense e uma queda de mais de 70% no número semanal de óbitos. É possível dizer que 10 dias de lockdown salvaram centenas de vidas em Araraquara. Quantas vidas seriam salvas caso a medida fosse adotada nacionalmente?

Distorções e omissões

Os “bons resultados” de Chapecó que Bolsonaro foi propagandear haviam sido anunciados no domingo (4) em um vídeo divulgado na internet pelo prefeito João Rodrigues, que mencionou o “tratamento precoce” entre as medidas adotadas no município.

Não demorou para que Rodrigues fosse desmascarado por diversos veículos de imprensa. Para aparentar uma situação melhor que a realidade, ele distorceu dados (leia aqui e aqui) e não mencionou que sua cidade tem taxa de mortalidade maior que as médias estadual e nacional (leia aqui).

Mesmo assim, Bolsonaro manteve a visita a Chapecó e fez o que mais sabe fazer: contou mentiras como se fossem verdades e disse que Chapecó era um exemplo para o país graças à cloroquina. Não é. Exemplo é Araraquara, graças ao lockdown.

Da Redação

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast