Artigo: Bolsonaro quer se salvar nas águas do São Francisco, por Francisco do PT

“Todo o Nordeste sabe que a transposição deixou de ser conversa e se tornou realidade no governo de Luiz Inácio Lula da Silva”, escreve o deputado estadual Francisco do PT

Foto: Wanderley Filho

O deputado estadual Francisco do PT

Francisco do PT (*)

Nesta terça-feira (8), Bolsonaro está no nosso estado numa tentativa desesperada de recuperar a popularidade do seu governo às custas das águas da transposição do São Francisco. A data escolhida é para aproveitar a correnteza das chuvas que aconteceram neste momento no rio Piranhas para fakear o volume real da água realmente emitida pelo Velho Chico. Dizer que é uma obra dele será fake. Dizer que a obra está concluída também é fake. Então vamos aos fatos sobre o projeto bicentenário e seus verdadeiros protagonistas.

A Biblioteca Nacional assegura a existência de documentos de 1810, no final do Brasil Colônia, como primeira referência à transposição do São Francisco. No entanto, a ideia foi levada a cabo no período do Império, quando D. Pedro II, em 1847, ouviu a proposta de uma equipe de especialistas que ele havia indicado com o objetivo de apontar uma solução para a seca do semiárido nordestino. O imperador brasileiro foi taxativo ao afirmar que “gastaria até a última joia da coroa, mas realizaria o encanamento (este era o termo utilizado à época) que levaria água do rio São Francisco até o Ceará. Acabou o reinado de D. Pedro II e ele não gastou nenhuma das joias reais e muito menos fez sequer um milímetro de transposição.

Presidente Lula – Veio a República e passaram 34 presidentes e quase 200 anos até que a primeira escavação fosse feita, o primeiro saco de cimento colocado e, depois disso, fossem construídos centenas de quilômetros de canais da transposição do São Francisco. Todos e todas sabem o nome do 35º presidente da República Federativa do Brasil, que tirou o projeto do papel. Ironicamente, foi um nordestino retirante da seca.

É ele mesmo. Todo o Nordeste sabe que a transposição deixou de ser conversa e se tornou realidade no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula começou, Dilma continuou e os dois juntos fizeram mais de 90% de uma obra gigantesca que, nos dias atuais, conta com 477 km de canais em dois eixos (leste e norte), contendo quatro túneis de 23 km de extensão, 14 aquedutos, 27 reservatórios, nove estações de bombeamento, nove subestações de 230 kv, 270 km de linhas de transmissão e seis ramais interligados.

Bolsonaro mentiroso – Diante deste banho de mais de 400 km de água fria nos planos de apropriação do mérito por Bolsonaro é necessário alertá-lo que até fake news tem limites. Negar esta história é desafiar a inteligência do povo nordestino. O que Bolsonaro tenta fazer neste momento é o mesmo que Temer quis realizar em 2017, quando inaugurou uma obra incompleta e sem nenhuma grandeza política, tentando convencer que a transposição do São Francisco era mérito de menos de um ano de seu mandato golpista. Nem era dele e nem estava completa.

De lá para cá, a sociedade civil organizada e as autoridades políticas da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com a solidariedade de Pernambuco, lutaram pela conclusão da tão sonhada transposição do São Francisco. Relembro aqui episódios importantes, a começar pela memorável inauguração popular feita por Lula e o povo de todo Nordeste, na cidade de Monteiro/PB. Quis Deus que este professor de Geografia e neste momento deputado estivesse naquele ato histórico.

Pressão popular – E depois disso, Temer e Bolsonaro abandonaram o projeto da transposição, sendo necessária a realização de muita pressão popular para provocar a retomada da obra, como foi o caso da I Caravana das Águas, promovida pelos bispos do Nordeste com as participações dos comitês das bacias hidrográficas beneficiadas e a Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado Federal, que era presidida naquele momento pela então senadora Fátima Bezerra.

Desde 2019, quando assumi o mandato de deputado estadual e passei a presidir a Frente Parlamentar das Águas, que participamos de visitas técnicas às obras do Projeto de Integração do São Francisco (PISF), promovemos debates, integramos a Frente Parlamentar das Assembleias Legislativas dos estados receptores das águas do rio e articulamos a II Caravana das Águas, cobrando a conclusão da obra e a garantia da inclusão do ramal do Apodi. Tudo isso com o único propósito de não deixar a transposição cair no esquecimento.

Depois de tudo isso, chega o presidente Bolsonaro querendo convencer o Nordeste que este antecedente não é importante. Se a obra da transposição fosse comparada a um consórcio poderíamos dizer que Bolsonaro estaria reclamado o recebimento do bem depois que outro pagou mais de 90% das parcelas.

Obra não concluída – Além disso, se faz essencial alertar que a obra não está concluída. O projeto original da transposição do São Francisco prevê a entrada de água no Rio Grande do Norte por dois acessos. A primeira é pelo Seridó, através do rio Piranhas. E a segunda descarga da água do Velho Chico no estado será pelo Alto Oeste, por meio do canal do Apodi. Daí uma pergunta de mais de 100 km é aqui colocada: “Cadê o ramal do Apodi?” “Como dar por concluída uma obra que está incompleta?”.

Não aceitaremos menos do que 100% daquilo que o Rio Grande do Norte merece e a mesma motivação que o povo potiguar teve para pressionar a obra, fazendo com que ela andasse um pouco mais, é a energia que redobra a nossa disposição para seguir cobrando o canal do Apodi. Aproveitamos para alertar a Bolsonaro que acelere o passo em busca da recuperação da sua popularidade com ações concretas, que efetivamente melhorem a vida do povo nordestino, pois esse povo sabe muito bem quem assim atuou na Presidência da República e não hesitará em reconduzi-lo ao cargo, em 2023.

Bolsonaro é seca e o povo está querendo inverno.

*Francisco do PT é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores e líder do governo Fátima Bezerra na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte

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