Artigo: Lula e Alckmin, mais que uma chapa, por Washington Quaquá

Lula é o símbolo de uma espécie de “sonho brasileiro”. A construção nacional é um projeto inconcluso no Brasil, como nos ensinou Darcy Ribeiro

Fernando Frazão

Washington Quaquá

Parafraseando o General De Gaulle, se o Brasil fosse um país com uma elite séria, Lula seria considerado um patrimônio nacional.

Digo isso porque, como disse o ex-governador de SP Geraldo Alckmin, no seu discurso de filiação ao PSB: “Temos que ter olhos abertos para enxergar, a humildade para entender aquele que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, Lula representa a própria democracia porque é fruto da democracia”.

Lula é o símbolo de uma espécie de “sonho brasileiro”. A construção nacional é um projeto inconcluso no Brasil, como nos ensinou Darcy Ribeiro.

Um homem que nasceu no Nordeste enfrentando a seca com a mãe e os irmãos, abandonados pelo pai; se despenca para São Paulo em um “caminhão pau de arara” em busca de sobreviver; no centro do capitalismo tardio, injusto e desigual vive em barracos e vende bala e frutas para ajudar a sustentar a família; estuda em escola pública e se forma em torneiro mecânico no Senai.

Em umas das cidades/regiões mais industrializadas do mundo, se emprega em fábricas metalúrgicas e acaba atraído pela organização sindical. Diferente dos militantes das organizações de esquerda, como bom malandro brasileiro (tinha tudo pra ser carioca), entra no sindicato pelo futebol e pela assistência, sem brigar com a pelegada.

Sua ação revolucionária não é feita no planejamento estratégico e nem pensada em comitê central. É fruto do “deixa vida me levar…” do bom brasileiro. Das demandas reais da vida e da solidariedade que brota do compromisso espontâneo com os seus.

Lula é um revolucionário de estilo e compromisso ético-cristão.

Não porque é um militante marxista, leninista, trotskista, maoísta, ou feito em qualquer forma pré-concebida.

Lula é Curupira, é Sacy Pererê, Cuca, Boto, Negrinho do Pastoreiro… é uma invenção genuinamente brasileira, que desperta em nós os desejos da nacionalidade necessária e inconclusa.

A sua prisão injusta foi uma tentativa de barrar a Nação em construção e o retorno de Lula à presidência é a retomada do fio da história.

Mas o lulismo e o petismo em sua relação dialética e criativa, são maiores que os dogmas. Lula é maior que o PT mas o PT durará mais que o Lula biológico. Em 30 anos restará o Lula histórico e o lulismo, cujo legado será conduzido pelo PT.

Temos que saber que Lula símbolo (histórico) é um patrimônio que precisa ser preservado. Seu terceiro governo tem que ser melhor que os primeiros. E não faremos um melhor terceiro governo com tensionamentos desnecessários.

Diferente disso, Lula precisa ser o artífice, pois só ele pode, de uma grande concertação nacional, que organize um bloco histórico de mudança social lenta, gradual e segura rumo ao Estado de Bem Estar Social Brasileiro. Um pacto para 30 anos que transcenda o Lula biológico e seja garantido pelo Lula histórico.

Que use seu poder de sedução para ampliar as alianças de classe e de frações de classes interessadas em que o povo brasileiro tenha três refeições, casa, emprego, salário, educação, diversão e arte… Futuro e prosperidade!

É disso que se trata a chapa Lula/Alckmin. É fruto da democracia traída e da Nação inconclusa. Em busca de um pacto para suas viabilidades.

A medida mais radical que o PT e Lula podem fazer é liderar esse pacto nacional e juntar forças amplas em torno de objetivos e projetos democráticos, populares e nacionais, juntando classes, partidos e forças sociais, comunicativas e culturais amplas, mais amplas que nunca! As vezes o discurso esteticamente menos radical é o que produz maiores e mais eficazes mudanças sociais.

Viva o povo brasileiro! Viva Lula e Alckmin.

Washington Quaquá é sociólogo e vice presidente nacional do PT.

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