Bolsonarismo inventa fake news para fugir do aumento do arroz

A culpa do desabastecimento atual do arroz é do Lula, por causa da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, ocorrida em 2008! Esta fábula é a nova fake news propagada nas redes sociais pelo bolsonarismo. Leia artigo sobre o assunto por Marcelo Zero

Emily Costa

Raposa do Sol é produtiva

Circula na internet a maior fake news de todos os tempos: a culpa do desabastecimento atual do arroz é do Lula, por causa da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, ocorrida em 2008!

Em primeiro lugar, a Raposa foi identificada em 1993 pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Foi demarcada durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso e homologada em 2005 pelo seu sucessor, Luís Inácio Lula da Silva. Ou seja, foi identificada no governo Itamar, demarcada no governo FHC e homologada pelo Lula. Como é público e notório, houve contestação no STF, que acabou decidindo a favor da constitucionalidade da demarcação. Achar que foi uma decisão monocrática do Lula demonstra muita ignorância.

Em segundo, houve uma redução da área plantada de arroz em Roraima, em razão da expulsão de 20 grandes produtores de arroz que ocupavam ilegalmente a reserva. Mas isso implicou somente redução da produção de 120 mil toneladas para as atuais 73 mil toneladas atuais. Ora, a produção e arroz nacional é de quase 11 milhões de toneladas. Achar que essa diferença de 50 mil toneladas é responsável pelo atual desabastecimento é ridículo. Mais: a redução na produção de Roraima ocorreu a partir de 2009. Como que só agora aconteceu o desabastecimento?

O desabastecimento atual tem a ver com a redução dos investimentos e área plantada em todo o país, com a exportação de arroz para outros mercados e, sobretudo, com o fim da política de preços e de armazenamento públicos, que se verificou após o golpe de 2016 .

Foto: Emily Costa

Em terceiro, segundo relatório do CIMI, a Raposa é produtiva.

O Projeto Gado, uma das principais estratégias de autossustentação de raposa nas últimas décadas, e crucial durante o processo de retomadas indígenas, chegou em 2018. Segundo dados da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR), somavam 50.437 cabeças de bovinos. Em 2013, o total foi de 41.243 animais. De acordo com os indígenas, a criação de gado não é a única forma de sustento.

“Uma iniciativa para fortalecer a agricultura familiar indígena é através de um mercado solidário com trocas e vendas de produtos e a realização de feiras regionais e comunitárias ao longo do ano”, diz trecho do dossiê. A produção é orgânica, em algumas regiões de Raposa fazendo uso das técnicas de agrofloresta, e diversificada para garantir a soberania alimentar dos povos.

“As feiras se reúnem também com o objetivo do fortalecimento dos conhecimentos e saberes próprios dos povos indígenas, a riqueza da biodiversidade que os povos preservaram e o potencial que isso tem para continuar construindo um futuro sustentável com uma produção diversificada de alimentos e uma reposição e preservação da própria diversidade natural que existe em nosso território”.

Como mentem!

Marcelo Zero é assessor da liderança da bancada do PT no Senado Federal

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