Bolsonaro é a versão piorada de Fernando Collor de Mello

Embora impressionem as similaridades no discurso de ambos, o radical do PSL vai além por atacar não só os “marajás” mas os negros, gays, mulheres e nordestinos

Fernando Frazão e José Cruz

Bolsonaro e Collor

“Nós vamos dar um não definitivo à bagunça, à baderna, ao caos (…) à bandeira vermelha. Vamos dar sim à nossa bandeira. Esta que está aqui. A bandeira verde amarela, azul e branca. Vamos cantar o nosso Hino Nacional e não a Internacional Socialista. Vamos fazer deste Brasil um país digno dos seus filhos que trabalham, que querem prosperar, que querem a justiça social que nós iremos alcançar”. À primeira vista, a declaração parece ser apenas mais uma verborragia hipócrita do candidato radical Jair Bolsonaro. O que espanta, na verdade, é que cada uma das palavras acima foi dita por ninguém menos que Fernando Collor de Mello.

Antes de discorrer sobre as similaridades entre ambos convém atentar-se para um detalhe que faz do candidato do PSL uma representação bastante piorada em relação ao 32º presidente eleito 1989 e que ficou menos de dois anos no cargo (março de 1990 a dezembro de 1992) por se envolver em uma série de denúncias de irregularidades e corrupção. Collor dizia que iria combater os marajás, mas não pregava o extermínio ou a exclusão de negros, pobres, gays, mulheres e nordestinos – ele próprio um representante da região.

Dito isso, é hora de colocá-los lado a lado para entender como um é a imagem e semelhança do outro no que diz respeito à apropriação do contexto histórico do país. O descrédito da política, crise econômica, desemprego, insegurança fizeram de Collor espécie de salvador da pátria por representar um ponto fora da curva: candidato sem alianças partidárias, vindo de uma legenda nanica, discurso de intolerância e patriotismo exacerbado.

Tais características são as mesmas que lançaram um nome praticamente irrelevante da política atual ao segundo turno daquela que já é considerada a eleição mais importante desde a redemocratização. O paralelo é tão espantoso que até o lema de Collor foi reeditado: “É preciso caçar e acabar com a mamata dos marajás”. Não é preciso se prolongar para deixar claro que a caça não deu certo e que Collor acabou cassado.

Só pela bandeira levantada por ambos já serviria de alerta a qualquer pessoa com um mínimo de discernimento para que mudasse as suas referências na política. Mas Bolsonaro insiste em repetir Collor e pretende seguir praticamente o mesmo modelo econômico que quase arruinou o país nos anos 1990.

O novo?

“Estou na frente porque há uma sintonia entre aquilo que eu venho pregando, e fazendo, e aquilo que espera a sociedade brasileira de um político (…) Eu sou o novo, a cara da nova política”, disse o então candidato Collor em entrevista à Revista Isto É em 1989.

Mais uma declaração que poderia ter sido dita pelo deputado intolerante. Entre um racismo e outro, ele tem repetido como mantra palavras bastantes similares às que dizia Collor durante a campanha presidencial: “Nós representamos uma nova maneira de fazer política no Brasil, sem rabo preso, sem toma lá da cá. Somos independentes e o nosso partido é o Brasil”.

Uso dá fé 

“Brasil Acima de Tudo. Deus acima de Todos”. Fica difícil aceitar que o lema da campanha construída a base de mentiras e sem qualquer fagulha de humanidade de Bolsonaro tente se aproveitar do ufanismo e da fé do povo brasileiro. Contrariando os princípios que defende, o capitão só demonstra amor ao próximo quando o próximo vota nele. Caso contrário a regra é metralhar, prender ou expulsar do país. “Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é Cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias”, afirmou.

Collor também tentou bancar o bom samaritano, ainda que sem as atrocidades ideológicas defendidas pelo atual postulante. Na época, o alagoano tentou de qualquer maneira vincular sua imagem à de frei Damião, frade conservador que era contra à “ameaça comunista” e que ainda exerce muita influência no Nordeste. A título de curiosidade, Collor foi barrado do funeral do religioso, morto em 1997.

Pátria armada, Brasil

Outro ponto de convergência no discurso de ambos está paixão desmedida pelo autoritarismo. Collor construiu boa parte de sua imagem com falas duras contra criminosos e o respeito incondicional às instituições.  Pregava a construção de um Brasil em “que a gente se sinta orgulhoso de viver nele, um país em que haja o respeito à autoridade e as instituições sejam respeitadas”.

Bolsonaro, ainda mais oportunista, quer afrouxar o Estatuto do Desarmamento aos moldes do modelo norte-americano que tanto ama – embora desconheça ou finja não saber que por lá a comercialização irrestrita tem ganhado cada vez mais críticos entre os próprios norte-americanos. “A arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade”, justificou Bolsonaro em evento em Curitiba no início de outubro.

Ataque à liberdade de imprensa

Na tarde de sexta-feira, 23 de março de 1990, seis fiscais da Receita Federal, dois agentes e um delegado da PF invadiram o prédio da Folha de S. Paulo. A justificativa era realizar “uma diligência no jornal”. Na verdade, o então presidente queria afrontar o jornal que considerava inimigo desde quando se lançou candidato. A reação foi imediata com a resposta de vários órgãos de imprensa contra a repressão e a tentativa de censura.

No último dia 21, em mais um dos seus discursos irresponsáveis e criminosos, Bolsonaro disse que irá fechar o jornal que tem escancarado o esquema ilícito da campanha do capitão e já havia desmascarado o caso de sua funcionária fantasma em Resende (RJ).

Deputado irrelevante

Tanto Collor quanto Bolsonaro têm trajetórias quase nulas no Congresso. Em 2016, por exemplo, o ex-presidente e senador por Alagoas não apresentou um projeto de lei sequer durante todo o ano. Na época, ele mantinha 79 pessoas empregadas com a verba de gabinete – mais que o dobro da média de outros parlamentares.

Bolsonaro não fica muito atrás e aprovou apenas dois projetos de lei em três décadas no Congresso Nacional. Foi autor de cerca de 170 projetos de lei, uma média de seis por ano de atuação. Os dois que avançaram são: uma redução do IPI para equipamentos de informática e a liberação da fosfoetanolamina, a tal “pílula do câncer” cuja eficácia em humanos jamais foi comprovada.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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