“Bolsonaro é carta fora do baralho”: Gisele Cittadino no Café PT

Cientista política lança com Carol Proner livro sobre golpe fracassado de 8 de janeiro, analisa julgamento histórico e aposta em vitória de Lula em 26

Reprodução/TvPT

Cittadino destaca importância do julgamento do STF contra Bolsonaro

A professora Gisele Cittadino, doutora em ciência política, participou do Café PT nesta segunda-feira (22), para falar sobre o lançamento do livro 8 de janeiro: golpe derrotado, democracia preservada, organizado em parceria com a jurista Carol Proner. O novo título integra uma coleção de obras coordenadas pelas autoras desde 2016. “Nesse último a gente fez muito parecido com os livros anteriores. A gente convidou criminalistas, porque o assunto era especialmente um assunto criminal, mas também professores, pesquisadores, cientistas políticos e políticos profissionais.”

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Uma tradição de resistência

Cittadino relembrou os conteúdos dos livros anteriores. “O primeiro livro foi em 2016, sobre a resistência ao golpe. Em seguida, lançamos A resistência internacional ao golpe de 2016. Depois, Comentários sobre uma sentença anunciada, sobre o acórdão do Sérgio Moro, e Comentários a um acórdão anunciado, sobre o TRF-4. Ano passado, lançamos 10 anos da Lava Jato. E agora, finalmente, o livro sobre o 8 de janeiro”, afirmou.

A nova coletânea reúne 71 artigos, escritos por mais de 90 autores. “A gente convidou os mais importantes criminalistas do país. São pessoas que têm nome reconhecido, que já escreveram livros, artigos, que estão sempre tratando de temas relevantes”.

O golpe anunciado

Ao ser questionada sobre como o 8 de janeiro entra para a história, Gisele foi categórica: “O 8 de janeiro não causou surpresa a ninguém. Tanto porque era um golpe em alguma medida anunciado, desde que Bolsonaro assume o poder”.

Ela lembrou as falas violentas do ex-presidente. “Ele chega a mencionar a importância, a necessidade de metralhar, ele fala sobre a ‘ponta da praia’. A ponta da praia era o lugar onde os ditadores e os torturadores da ditadura militar brasileira desovavam corpos”.

Segundo Cittadino, não havia dúvida de que Bolsonaro e seu núcleo preparavam uma ruptura institucional. “Nunca houve nenhuma surpresa de que esse golpe poderia vir mais cedo ou mais tarde”.

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Golpes na história do Brasil

A professora destacou a análise do historiador Carlos Fico, que criou uma tabela explicando as 14 tentativas de golpe de Estado que aconteceram no Brasil desde a proclamação da República. “Se o Bolsonaro tivesse dado o golpe, seria a 15ª”, disse.

Para ela, a grande novidade foi a reação do Supremo. “Muita gente dizia lá atrás que essa condenação não viria. Mas veio.”

O voto de Carmen Lúcia

Gisele ressaltou que um momento marcante foi a atuação da ministra Carmen Lúcia. “Foi um voto perfeito, muito correto. Primeiro o fato, depois as provas e as confissões e por último o direito.”

Ela lembrou também o simbolismo da fala da ministra: “Eu quero falar mais, porque nós mulheres ficamos aí quase 2000 anos sem a fala e agora eu quero falar”, disse, citando o discurso de Carmen.

“Foi só uma coincidência que o terceiro [e decisivo] voto tenha sido o dela, mas para nós mulheres certamente uma coincidência muito feliz e que a gente precisa celebrar mesmo.”

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Impactos em 2026

Gisele Cittadino acredita que o julgamento de Bolsonaro e aliados terá efeitos nas eleições. Para a cientista política, Bolsonaro está fora do jogo. “Já estava inelegível para 2026. Mas eu acho que com essa condenação agora há uma certa prorrogação dessa inelegibilidade. Bolsonaro, na linguagem popular, é uma carta completamente fora do baralho”.

Ela alerta, porém, que a ideologia do ex-presidente persiste. “Existe bolsonarismo para além de Bolsonaro. O problema é que Bolsonaro não tem compromisso com a política, não tem compromisso com o Brasil, não tem compromisso com nenhum sucessor”.

Quanto à extrema direita, aponta Tarcísio de Freitas como alternativa, mas sem viabilidade. “Ele precisa se vender como o homem de Bolsonaro”. Já o centro, representado por figuras como Aécio Neves, também não teria força. “O partido dele foi destruído, conseguiu parir o bolsonarismo, mas não tem nenhuma chance de emplacar”.

Por fim, Gisele ressaltou seu otimismo para o pleito do próximo ano. “Eu tô muito animada com a eleição de 2026. Eu acho que há uma possibilidade do presidente Lula ganhar no primeiro turno, ainda que seja o mandato mais difícil dele, por conta de pressões externas e de um Congresso dominado pela direita”.

Da Redação

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