Bolsonaro fecha fábricas de adubo e torna Brasil 100% dependente do exterior

Crise internacional de fertilizantes encarece o produto e causa escassez, com impacto sobre a produção agrícola e a inflação. Desabastecimento de alimentos é ameaça real

O quadro de desordem socioeconômica que une desemprego e queda de renda com inflação galopante, miséria crescente e fome ganha mais um elemento que fará a conjuntura se estender, e até piorar, no próximo ano. É a crise internacional de fertilizantes agrícolas, que encarece a produção de alimentos e poderá se desdobrar, inclusive, em escassez de comida, uma vez que a produção nacional de fertilizantes não dá conta da demanda interna. E a culpa é de Jair Bolsonaro.

Há dez dias, em evento no Palácio do Planalto, após anunciar que “vamos ter problemas de desabastecimento no ano que vem” e responsabilizar a China pela falta de adubos, Bolsonaro anunciou para “o mês que vem” o lançamento de um “Plano Emergencial de Fertilizantes”. A promessa se repete desde março. Na prática, ele manda fechar fábricas nacionais de adubos.

“Ele fechou a Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) no Paraná, não concluiu a fábrica do Mato Grosso do Sul e paralisou atividades em outras duas fábricas, uma em Sergipe e outra na Bahia, para depois arrendá-las”, acusa o petroquímico Gerson Castellano, diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em entrevista ao Portal da CUT.

Com isso, o desgoverno Bolsonaro tornou o Brasil 100% dependente de outros países, importando fertilizantes da China, Ucrânia, Lituânia e outras nações que já anunciaram redução e até interrupção na produção. Os custos se elevaram além do esperado com o inverno rigoroso no Hemisfério Norte e a crise energética na China.

“Quando chega um momento assim esses países usam o gás de forma mais racional, deixam de produzir para exportação e usam internamente, seja para produção de fertilizantes, seja para aquecimento de casas”, exemplificou Castellano. “Qualquer país faz isso – pensa em sua nação antes de tudo”, diz. Menos na “bagunça” que é o desgoverno Bolsonaro, aponta o dirigente.

“A gente já alertava sobre isso lá atrás. Em 2020, quando Bolsonaro fechou a Fafen, alertamos que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos”, afirma, lembrando que, mesmo com as fábricas em funcionamento, o Brasil ainda importava 50% dos fertilizantes usados no campo. O fato deveria justificar a abertura de mais fábricas – afinal, o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo – e não o fechamento das existentes.

“Estamos ficando dependentes de outros derivados também”, alerta o dirigente. “Pressionamos pela volta da Fafen do Paraná e que terminem a construção da Fafen Mato Grosso do Sul. Isso envolve também a recontratação dos profissionais demitidos de forma injusta no ano passado.”

Preços explodem no exterior

A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) calcula que até julho de 2021, o mercado brasileiro já utilizou 23,9 milhões de toneladas desses insumos. Apenas 3,7 milhões foram produzidos no Brasil. Para a safra que começou a ser cultivada em setembro, a previsão é de aumento da área plantada – e também dos custos.

Em artigo, Mauro Osaki, pesquisador da área de Custos Agrícolas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), relata a disparada dos preços no mercado externo de fertilizantes desde o início deste ano. O impacto sobre os custos de produção é direto.

“Diante dos aumentos nos gastos com os fertilizantes, defensivos agrícolas, diesel, com a manutenção preventiva das máquinas e também de outros itens, a estimativa do orçamento total de produção para a safra 2021/22 cresceu, sendo a maior alta a calculada para a soja, de 32,9%”, escreveu Osaki.

“No caso do trigo, o incremento nos custos de produção calculado pelo Cepea foi de 31,6%; para o milho verão, de 30,9%; para o milho segunda safra, de 28,7%; para o arroz irrigado, de 20,1%; e, para o feijão, de 16,1%.”

O pesquisador ressaltou que esses custos podem registrar novos avanços no decorrer da safra 2021/22, conforme o clima e incidências de pragas e doenças nas lavouras, a taxa de câmbio (dólar) e os preços das matérias-primas dos agroquímicos e do petróleo nos países produtores.

O preço da alimentação para a população brasileira continua subindo este ano. Até agosto, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), uma cesta básica com os 35 produtos mais comprados ficou 22,23% mais cara em 12 meses. A insegurança alimentar extrema (fome) já atinge mais de 19 milhões de pessoas no país.

Após extinguir na prática a política dos estoques regulatórios, Bolsonaro prefere ações como a publicação do decreto nº 10.833/2021, que impõe parte do chamado “Pacote do Veneno”: o Projeto de Lei (PL 6.299/2002). Anunciado pelo Executivo como uma medida que “traz mais segurança para aplicadores e incentivos à pesquisa científica”, o decreto 10.833 facilita a aprovação de agrotóxicos no Brasil, flexibilizando, inclusive, venenos causadores de câncer e mutação genética.

Na última quarta-feira (13), um grupo de 35 deputados do Partido dos Trabalhadores apresentou um projeto de decreto legislativo com o objetivo de derrubar o decreto. Entidades também estudam a proposição de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a proposta da necrocracia bolsonarista.

“Bolsonaro não tem nenhuma condição de assumir um governo. Eles estão perdidos e não têm planejamento estratégico, seja para fertilizantes, seja para o refino de outros derivados, seja para qualquer coisa. Eles não sabem o que estão fazendo no comando do país”, conclui Castellano.

Da Redação

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