Bolsonaro nomeia ex-membro de milícia que matou mais de 1,5 mil no ES
Carlos Humberto Mannato, que foi nomeado Secretário Especial, integrou o grupo Le Cocq, acusado pelo MPF de ser um esquadrão da morte e de traficar drogas
Publicado em
Jair Bolsonaro (PSL) segue exaltando as milícias, assim como o seu filho Flávio Bolsonaro (PSL), e nomeou Carlos Humberto Mannato Secretário Especial para a Câmara dos Deputados da Casa Civil, na sexta-feira (1°). Ele integrou a Scuderie Le Cocq, milícia acusada pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter matado mais de 1,5 mil pessoas no Espírito Santo.
O grupo atuou no estado entre os anos 80 e parte de 2000, segundo reportagem dos Jornalistas Livres, e era o braço armado do crime organizado capixaba. A organização assassina foi extinto pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região no fim de 2005. Para a Justiça, a entidade abrigou e protegeu, por vários anos, pessoas acusadas de pistolagem, tráfico de drogas e roubos a bancos.
Na é a primeira vez que Bolsonaro tem seu nome ligado à milícias. Há uma semana, uma operação realizada pelo Ministério Público do Rio e pela Polícia Civil prendeu milicianos em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro. Entre os milicianos procurados e foragidos está o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães. O outro criminoso é o major Ronald Paulo Alves Pereira. Os dois são suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).
Em março de 2018, Flávio Bolsonaro concedeu a Medalha Tiradentes à dupla, maior homenagem dada pelo Poder Legislativo do RJ. O ex-motorista Queiroz, que é ex-policial, conhece Adriano e se escondeu em Rio das Pedras quando foi revelado o escândalo do Coaf e as movimentações bancárias suspeitas.
A nomeação de Carlos Humberto Mannato mostra que a família Bolsonaro não tem vergonha ou receio de revelar suas ligações com o crime organizado e com esquadrões da morte. O Secretário Especial de Bolsonaro foi deputado federal e desistiu do Legislativo Federal para se candidatar a governador no Espírito Santo com o objetivo maior de dar palanque para Jair durante as Eleições em 2018. Mannato já havia tentado se eleger governador com propostas de redução da maioridade penal para 16 anos e a liberação do porte de armas para cidadãos comuns. Ele também defendeu a revisão do Estatuto do Desarmamento.
Ainda segundo a reportagem dos Jornalistas Livre, entre as vítimas dos polícias militares ligados à Le Cocq está o menino Jean Alves Cunha, de 14 anos. Ele foi assassinado com tiros na cabeça no Morro das Torres da TV, após ser sequestrado na Avenida General Osório, no Centro de Vitória. O menino foi executado uma semana antes de representar o Espírito Santo no Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em Brasília.
Le Cocq, grupo paramilitar
A Scuderie Le Cocq foi oficialmente fundada no Espírito Santo em 24 de outubro de 1984, com a meta de “aperfeiçoar a moral e servir à coletividade”. A Procuradoria Regional da República apontou que a entidade teria sido responsável por pelo menos 30 assassinatos de políticos capixabas cometidos em 18 anos e quase 1.500 homicídios anuais que transformaram o Espírito Santo no segundo Estado mais violento do Brasil, naqueles anos compreendidos entre 1990 e início de 2000, quando se deu início o processo de extinção.
A Justiça Federal, ao aceitar o pedido do MPF para extinguir a Le Cocq, alegou que o grupo“tem natureza paramilitar e persegue objetivos ilícitos em detrimento de órgãos e interesses da União”. Além disso, a Scuderie Le Cocq “intervém na apuração de crimes em que supostos associados estariam envolvidos, para assegurar-lhes impunidade”.
No ano de 2002, a Anistia Internacional divulgou um relatório em que o Espírito Santo era citado como um Estado em que os “defensores dos direitos humanos sofriam ameaças crescentes” e classificou a Scuderie Le Cocq como “uma estrutura paramilitar”, “com poderosos grupos econômicos e políticos no Estado, incluindo membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações dos Jornalistas Livres