Bolsonaro transforma América do Sul em novo epicentro da pandemia
País ultrapassa a Rússia e já segundo em número de casos de infecção por coronavírus, com mais de 330 mil casos. Em um dia, foram contabilizadas 1.001 mortes e 30.803 novos casos. Organização Mundial da Saúde declara América do Sul o novo epicentro da pandemia. Imperial College de Londres aponta descontrole da taxa de contágio no país e prevê 6.980 mortes nesta semana, com margem que pode variar entre 5.850 a 8.070 óbitos
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Refém de um presidente negacionista que joga com a vida do povo brasileiro e alimenta uma crise institucional atrás da outra, o Brasil ultrapassou a Rússia em número de casos de Covid-19 nesta sexta-feira (22) e já responde por 330 mil casos casos das mais de 5,2 milhões de infecções registradas no mundo. Nas últimas 24 horas, o país contabilizou mais 1.001 mortes e 20.803 novos casos. Só o estado de São Paulo bateu 5.773 mortes, 215 desde a quinta-feira. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou pela manhã que a América do Sul é o novo epicentro da pandemia e, o Brasil, a nação mais afetada pela doença.
“De certa forma, a América do Sul se tornou um novo epicentro para a doença, vimos muitos países sul-americanos com aumento do número de casos e, claramente, há preocupação em muitos desses países. Mas certamente o mais afetado é o Brasil neste momento”, afirmou Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde, da OMS, em coletiva de imprensa. Ryan também referiu-se à recente aprovação, pelo governo brasileiro, do uso “amplo” da hidroxicloroquina para tratamento de infecções por Covid-19. “As evidências clínicas atuais não apoiam o amplo uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. Pelo menos não até a conclusão de estudos e resultados mais claros”, concluiu Ryan.
O Imperial College de Londres alertou nesta sexta-feira que a taxa de contágio está fora de controle no país. Segundo o jornal ‘O Estado de S. Paulo’, a renomada instituição advertiu que o país pode ter 6.980 mortes nesta semana, com uma margem que pode variar entre 5.850 a 8.070 óbitos. O número é o mais alto entre 54 países com transmissão de vírus ativa. Pela metodologia do College, a taxa de transmissão da doença (Rt), que indica para quantas pessoas cada infectado pode transmitir a doença é considerada descontrolada quando está acima de 1. A do Brasil foi calculada em 1,3.
De certa forma, a América do Sul se tornou um novo epicentro para a doença, vimos muitos países sul-americanos com aumento do número de casos e, claramente, há preocupação em muitos desses países. Mas certamente o mais afetado é o Brasil neste momento
Legião de assintomáticos, perigo invisível
Segundo último levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), divulgada nesta sexta-feira (22), cerca de 35% das pessoas que contraem coronavírus são assintomáticas. O CDC também estima que, no melhor de cinco cenários avaliados, por volta de 0,4% dos doentes que apresentam sintomas morrerão. Um dos dados mais alarmantes diz respeito às contaminações: a agência calcula que 40% da transmissão de coronavírus está ocorrendo antes que as pessoas apresentem sintomas da doença.
Segundo o CDC, os cinco cenários desenhados pela agência poderão ser utilizados por técnicos do governo americano para o planejamento de estratégias de combate à pandemia. Quatro desses cenários representam “os limites inferior e superior da gravidade da doença e da transmissibilidade viral”, segundo a agência.
Apesar da alta confiabilidade da estimativa do CDC, especialistas consideram os números muito otimistas. “Embora a maioria desses números seja razoável, as taxas de mortalidade estão muito baixas”, afirmou o biólogo Carl Bergstrom, da Universidade de Washington, à rede ‘CNN’. “A meu ver, a ‘melhor estimativa’ é extremamente otimista, e o cenário do ‘pior caso’ é ainda bastante otimista, mesmo como a melhor estimativa. Certamente, devemos considerar cenários piores”, disse Bergstrom sobre os números do CDC.
Pesquisa aponta responsabilidade por mortes
Enquanto Bolsonaro aumenta as apostas de sua roleta russa macabra, cresce na população a percepção de que a omissão do presidente está por trás da tragédia brasileira. Pesquisa divulgada nesta sexta pelo Instituto Paraná Pesquisas aponta que 35,1% da população considera Bolsonaro o grande responsável pelas mortes por coronavírus no país.
Para 12,7% os governadores têm culpa pelos óbitos e 9,4% afirmam que a população é responsável. STF também recebeu votos (5,6%), os prefeitos (4,1%), a China (4,0%) e o Congresso (3,2%). Para concluir o levantamento, o instituto ouviu, entre os dias 15 e 19 de maio, 2.258 pessoas com 16 anos ou mais em 194 municípios dos 26 Estados e o Distrito Federal.
Brasil, exemplo explosivo de casos de Covid-19
O ex-administrador dos programas de saúde Medicare e Medicaid na administração de Barack Obama, Andy Slavitt criticou, na quinta-feira (22) a atuação de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. Em uma seqüência de tuítes, Slavitt afirmou que o Brasil faz um trabalho pior do que os EUA e teria um resultado pior. Ele ilustrou o comentário com um gráfico do Financial Times, que mostra a evolução da doença entre os países. O ex-conselheiro de Obama sugeriu que a situação no país deve piorar ainda mais. “Não deve melhorar, ao contrário”.
O Brasil é um exemplo vivo do que aconteceria se relaxássemos novamente os padrões de distanciamento social: uma nova explosão [de casos]
Comparando Brasil e EUA, Slavitt escreveu que as favelas do Rio de Janeiro dividem semelhanças com lares de idosos, prisões e alojamentos americanos. Também traçou um paralelo entre São Paulo e Nova York, afirmando que o estado paulista “se parece muito” com o epicentro novaiorquino.
Para o especialista, é quase como se Bolsonaro seguisse uma cartilha: “Ele realiza grandes comícios políticos lotados e travou uma “guerra contra os governadores que tentaram bloquear seus estados; Demitiu seu ministro da saúde por discordar sobre o distanciamento social; Força o uso de drogas [de eficácia] não comprovadas”, listou. E concluiu: “O Brasil é um exemplo vivo do que aconteceria se relaxássemos novamente os padrões de distanciamento social: uma nova explosão [de casos]”.
Isolamento, o único caminho
Apesar da forte resistência de Bolsonaro às recomendações de isolamento social, a quarentena ainda é o único caminho para que o Brasil. Para o vice-diretor-geral da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa, o distanciamento deve continuar a ser praticado no país, uma vez que ele diz considerar que o pico de contaminações da pandemia deve permanecer am alta até junho.
“Se o isolamento social não está funcionando, [é preciso], verificar como se pode aumentar a adesão da população para que e consiga diminuir a velocidade [de contágio] o mais rápido possível”, afirmou Barbosa, em entrevista à ONU News’. O vice-diretor chama a atenção para os enormes desafios para a população das periferias e favelas. Segundo ele, há muitas aglomerações, não só pelas famílias numerosas que vivem sob o mesmo teto como os espaços físicos das ruas, e precariedade de infraestrutura.
“O acesso à agua para lavar as mãos, uma medida fundamental de prevenção, é difícil. Além disso, as pessoas sentem uma carga maior, da dificuldade econômica produzida pela pandemia”. É preciso, de acordo com o especialista, que o governo adote medidas para ampliar o acesso às redes de proteção social e o auxílio emergencial para que as famílias tenham condições de passar por esse período difícil.
Barbosa reiterou que tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a OPAS não recomendam medicamentos específicos para uso em tratamento de infecções por Covid-19. Ele informa que há vários estudos em andamento, inclusive um coordenado pela Organização Mundial da Saúde, com a participação de vários países América Latina e do Caribe. “Até termos uma evidência científica que comprove que algum medicamento traz benefícios para quem toma, o uso de qualquer medicamento deve ser feito dentro de princípios éticos para medicamentos experimentais”argumenta. “Ou seja, o médico informa a família que está usando um medicamento que não tem comprovação de benefícios, quais os riscos, os eventos adversos que podem ocorrer, e obtém o consentimento da família. São regras gerais para uso de medicamento ainda em fase experimental”, conclui.
Da Redação, com agências internacionais