Brasil enfrenta pandemia sem governo, alertam Lula e ex-ministros da Saúde
“Pela primeira vez na história da República, o Brasil está enfrentando uma epidemia, que ameaça a segurança da Nação e dos seus cidadãos, sem a participação e a presença do governo federal”, denuncia o ex-ministro José Gomes Temporão
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“O papel de um governo não é fazer encrenca, é tentar fazer com que administração funcione como uma orquestra”, advertiu o ex-presidente Lula em live na terça-feira (5), com participação dos ex-ministros da Saúde Humberto Costa, José Gomes Temporão, Arthur Chioro e Alexandre Padilha. “Estamos desgovernados na pandemia, na economia e na governança mundial”, definiu Lula.
O ex-presidente Lula e os ex-ministros da Saúde defenderam a formação de um grande pacto nacional em defesa da vida, mobilizando toda a sociedade em torno de políticas econômicas, sociais e sanitárias. Todos defenderam o isolamento, com apoio social e econômico aos trabalhadores e aos mais pobres. “É preciso transmitir para a sociedade um sentimento de seriedade e de esperança”, disse Lula.
“Pela primeira vez na história da República, o Brasil está enfrentando uma epidemia, que ameaça a segurança da Nação e dos seus cidadãos, sem a participação e a presença do governo federal”, denuncia Temporão. Para o ex-ministro entre 2007 e 2010, além de não ajudar, como já identificaram as pesquisas, Bolsonaro atrapalha a luta contra a pandemia. “Quando o governo federal aparece é para piorar a situação, através da postura irresponsável e criminosa do presidente da República”, disse Temporão.
País enfrenta dois inimigos
Para Humberto, o país enfrenta dois inimigos no combate à pandemia. “O primeiro é o próprio vírus que já demostrou sua capacidade de infectar as pessoas. O segundo inimigo, lamentavelmente, é o presidente da República”, destacou. “Ele sabota, desacredita e desobedece todas as recomendações feitas por autoridades internacionais e nacionais da área da saúde”, disse Humberto. Para o ex-ministro, a situação não é mais grave devido à mobilização de governadores e prefeitos.
“Diferentemente de outros chefes de Estado, o presidente tem sido um obstáculo para o enfrentamento a essa pandemia”, reafirmou Humberto Costa, o primeiro ministro da Saúde do governo Lula, entre 2003 e 2005. Para o atual senador pelo PT de Pernambuco, Bolsonaro “procura minimizar a gravidade do momento em que estamos vivendo”, denuncia o senador. Humberto destacou o papel das bancadas do PT no Senado e na Câmara na defesa de medidas para apoiar a população no combate à pandemia.
Defendendo o afastamento de Bolsonaro, o ex-ministro Arthur Chioro alertou que o país está sendo alvo de uma política de desmonte do Estado brasileiro, na saúde pública e na economia. Segundo ele, sem políticas sociais e econômicas, as pessoas tem dificuldades de cumprir com as medidas de isolamento. Em consequência, “a periferização do Covid-19 está matando nas periferias”, denuncia Chioro, ministro da Saúde em 2014 e 2015.
Subordinação à ordem econômica
Na mesma direção, ex-ministro entre 2007 e 2010, Temporão afirma que o país vive um descolamento total entre a política econômica e a politica de saúde. “Nós tínhamos que ter nesse momento uma política econômica a serviço da saúde para dar sustentabilidade ao processo de isolamento social, à manutenção da vida das pessoas”, disse. Para ele, “há uma subordinação à ordem econômica”.
Ex-ministro entre 2011 e 2014, Padilha defendeu a necessidade de uma articulação mundial para enfrentar a pandemia. Infelizmente, lamenta, “temos um presidente que a ONU classifica como genocida”. Os ex-ministros acusaram Bolsonaro junto a ONU de violar o direito humano à saúde e à vida e de potencial genocídio por não cumprir as recomendações de autoridades sanitárias e da Organização Mundial da Saúde para a pandemia de Covid-19.
Hoje deputado federal (PT-SP), Padilha defendeu a proteção aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde e serviços essenciais que correm o risco da contaminação para atender às necessidades da população. Junto a Lula, Padilha convocou a solidariedade com os profissionais da saúde, afastados ou mesmo mortos pela infecção.
Só o Estado garante direitos
Para Lula e os ex-ministros, a superação da crise impõe a afirmação do papel estratégico do Estado na saúde e na economia, com o reconhecimento e a valorização do SUS, investimentos em educação, ciência e na produção. “Será que a gente vai passar mais um século vendo o mercado dizer como vai viver a sociedade”, questionou Lula. “Somente o Estado pode garantir os direitos de todos, independente do berço em que nasceram”, disse.
Para os ex-ministros dos governos Lula e Dilma, diante da nova realidade mundial, o país precisa de investimentos, reconversão de indústrias e novas plantas industriais para produzir respiradores, máscaras, álcool em gel e medicamentos.
Os ex-ministros também ressaltaram a necessidade de debater o tema da propriedade das patentes da nova vacina, em pesquisa por mais de cem empresas, laboratório e governos do mundo. “A vacina tem que ser disponibilizada para todos os seres humanos”, sentenciou Lula.