Com País atrás apenas do EUA em casos graves, Bolsonaro desdenha de mortes

Dados acendem sinal de alerta ao sobrecarregado sistema de saúde. Manaus vive calamidade e enterra mortos em vala comum. Prefeito pede à Bolsonaro respeito a coveiros. “Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República”, criticou Arthur Virgílio

Foto: Mário Oliveira

A disparada de infecções por coronavírus colocou o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de casos considerados críticos da doença, atrás apenas dos Estados Unidos. Com 8,318 registros graves, o país ultrapassou a Espanha (7.705). No momento em que se discute a reabertura gradual pelo governo de São Paulo, os dados acendem um sinal de alerta para o sistema de saúde, cuja sobrecarga já causou o colapso dos hospitais de alguns estados, como o Amazonas. Em meio à crescente disseminação da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro horroriza o mundo com seu desprezo pela vida humana. “Todos nós vamos morrer um dia”, “é a vida”, “não sou coveiro” e outras afrontas ao povo brasileiro viraram algo corriqueiro para o presidente, que insiste em desafiar a ciência.

Sabotando, há semanas, as medidas de combate ao coronavírus recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e incapaz de liderar o país na mais grave crise sanitária do país, Bolsonaro limita-se a dizer que a doença irá contaminar os brasileiros mesmo “e não adianta querer correr disso”. Enquanto isso, o Brasil chora a tragédia de Manaus (AM), onde, na terça-feira (21), corpos foram enterrados em valas coletivas. O País contabiliza 45.757 casos e 2.906 mortes.

“Queria dizer para ele [Bolsonaro] que tenho muitos coveiros adoecidos”, declarou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, visivelmente emocionado. “Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, afirmou Arthur Virgílio, à Folha de S. Paulo, chorando.

O prefeito admitiu que Manaus vive estado de calamidade. Já são 1.809 casos de contaminação pelo coronavírus, com 163 mortes. Virgílio afirmou ao jornal que pelo menos 20 pessoas das 122 enterradas no domingo na cidade morreram em casa. Na segunda já eram pelo menos 38 pessoas, dos 106 mortos. Um salto de 17% para 36,5% em apenas um dia.

“São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho?”, lamentou.

Casos como o de Manaus, cuja dramática situação do sistema de saúde reflete a ameaça que paira sobre outros municípios, são resultado direto da inoperância do Palácio do Planalto. Com alto número de subnotificações, o país não oferece testes em massa. O Rio de Janeiro ultrapassa 5,3 mil casos e tem 461 mortes. Já São Paulo tem mais de 15 mil casos e 1.093 óbitos. Diante dos fatos, Bolsonaro prefere jogar com a vida do povo brasileiro, saindo às ruas e apoiando manifestações antidemocráticas. Já o novo ministro da Nelson, Teich Saúde, esconde-se no estrondoso silêncio de seu gabinete e de falsas promessas de testes aos milhões.

Trump segue minimizando crise

Perdido, o presidente brasileiro contenta-se em copiar as atitudes do ídolo Donald Trump. Na segunda-feira (20), Bolsonaro afirmou que 70% da população será contaminada de qualquer maneira pela doença. Segundo ele, houve excesso nas medidas de restrição. “Houve uma potencialização das consequências do vírus e estamos vendo que não é verdade”, delirou Bolsonaro. Nos Estados Unidos, Trump também segue minimizando os efeitos da doença. Diante das primeiras e alarmantes projeções de vítimas fatais nos, ele já havia declarado que a morte de 200 mil seria uma “vitória” de sua administração.

Mas a realidade mostra que, assim como no Brasil, a omissão do presidente custará caro demais aos Estados Unidos. A “vitória” de Trump seria uma catástrofe maior, por exemplo, do que tragédias de profundas cicatrizes na história estadudinense, como a Guerra do Vietnã, que deixou mais de 90 mil mortos, e a Primeira Grande Guerra, que matou 116 mil americanos. O país tem 829 mil casos da doença, e contabiliza mais de 46 mil mortos.

Trump, que vem defendendo o uso da cloroquina como arma contra a disseminação do vírus, sofreu novo revés nesta semana. Um painel formado por especialistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), afirma que não há evidências que comprovem a eficácia da hidroxicloroquina, entre outros medicamentos, contra a doença. O grupo recomendou o não uso da substância.

OPAS pede mais testes

A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Ettiene, pediu nesta semana que os testes para detecção de infecções por coronavírus sejam acelerados e ampliados nas Américas. “Precisamos de uma visão mais clara sobre onde o vírus está circulando e quantas pessoas foram infectadas para guiar nossas ações”, disse ela. A agência informa que irá enviar 1,5 milhão de testes aos países da região ainda nesta semana. Também anunciou que pretende auxiliar o Brasil na compra de 10 milhões de testes. o primeiro lote, de 500 mil testes, deverá chegar na próxima semana.

A organização defende que a disponibilização de equipamentos de proteção, bem como eventuais vacinas e medicamentos deve ser irrestrita. “[O acesso] não deve ser um privilégio de certos países ou comunidades. Nosso objetivo coletivo deve ser garantir que o acesso a testes, tratamentos, vacinas e outras tecnologias esteja disponível para todos com base nas necessidades”.

Da Redação

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