Coronavírus está no comando do país, aponta o francês ‘Le Monde’

Enquanto pandemia varre país, imprensa internacional continua repercutindo a péssima atuação do governo brasileiro diante da crise sanitária. “A doença de Bolsonaro é um símbolo poderoso da resposta fracassada de seu governo ao surto”, afirma a agência Reuters. Depois de chamar Bolsonaro de garoto-propaganda da hidroxicloroquina, a ‘Associated Press’ alerta para os perigos do uso da droga, que pode causar efeitos colaterais fatais. País perdeu mais de 69 mil brasileiros e superou 1,7 milhão de casos da doença

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Em ritmo galopante, o Brasil já superou a contagem oficial de 84 mil mortos e 2,2 milhões de infectados

Em ritmo galopante, o Brasil se aproxima da contagem oficial de 70 mil mortos e quase 2 milhões de infectados pelo coronavírus, consolidando o processo de desgoverno no país. De acordo com a última atualização do consórcio formado por veículos de imprensa, divulgado nesta quinta-feira, 9 de julho, o país perdeu 69.254 brasileiros e registrou 1.759.103 infectados. Nas últimas 24 horas, ocorreram mais 1.199 óbitos e mais de 42 mil novos registros. 

Depois da confirmação de que Bolsonaro foi contaminado pelo vírus, a imprensa global continua a repercutir a explosão de casos no país, destacando a catastrófica reação do governo à pandemia e o uso da hidroxicloroquina defendida pelo presidente, chamado de “garoto-propaganda” da droga pela agência internacional de notícias Associated Press. Já o diário francês ‘Le Monde’ afirma que o coronavírus está no comando do país.

A reportagem publicada nesta quinta ressalta que a pandemia varre o Brasil enquanto grandes capitais como o Rio de Janeiro mergulharam em uma “anarquia total”. “Sob pressão dos círculos empresariais, mas também do presidente Jair Bolsonaro, prefeitos e governadores do país começaram a decretar por toda parte o fim das medidas de contenção que haviam adotado localmente”, relata o jornal. Ainda de acordo com o ‘Le Monde’, que descreve o panorama da pandemia a partir da capital carioca, “nenhuma distância é respeitada, quase nenhum controle é garantido”. 

A agência Reuters, por sua vez, destaca em longa reportagem que Bolsonaro aposta na hidroxicloroquina, medicamento disponibilizado pelo governo mesmo sem comprovação científica de sua eficácia no tratamento da doença. A agência menciona o vídeo gravado por Bolsonaro, quase uma peça publicitária, mostrando o presidente ingerindo a droga e dirigindo-se à câmera: “Eu confio na hidroxicloroquina. E você?”.

Fracasso do governo

“A doença de Bolsonaro é um símbolo poderoso da resposta fracassada de seu governo ao surto. Mais de 1,7 milhão de pessoas no Brasil testaram positivo para coronavírus e quase 68 mil morreram”, aponta o despacho da agência. “Somente os Estados Unidos tiveram um desempenho pior”.

Segundo a Reuters, Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde a aprovar o uso do medicamento e depois livrou-se de dois ministros da pasta que mostraram-se cautelosos quanto ao efeito positivo da droga. O ministro interino, General Eduardo Pazuello, permanece no cargo até hoje porque “provou ser mais obediente”.

De acordo com agência internacional de notícias, para entender como o governo Bolsonaro adotou essa estratégia não convencional, foram entrevistadas mais de duas dúzias de pessoas, incluindo oficiais de saúde atuais e ex-auxiliares do presidente na resposta federal, além de médicos, cientistas e especialistas em saúde pública. E revela: “O que surgiu foi a imagem de um líder preocupado com os efeitos paralisantes da quarentena imposta por governadores e prefeitos e ansioso por uma solução rápida para reabrir a economia”.

A reportagem da agência lembra que Bolsonaro buscou inspiração no seu ídolo americano, o presidente Donald Trump, para promover a hidroxicloroquina. Mas foi muito mais longe do que o colega americano. “Sob seu comando, o Exército aumentou drasticamente a produção de cloroquina”, informa.

Estratégia absurda

Segundo a professora da Harvard T.H. Chan School of Public Health, Marcia Castro, a estratégia de Bolsonaro é “totalmente absurda”. Ela diz que priorizar medicamentos não comprovados em vez de ferramentas confiáveis, como testes, rastreamento e distanciamento social é um erro. “É uma situação profundamente lamentável e não é coincidência que agora tenhamos mais de 60 mil mortes”, denuncia à agência de notícias.

Reuters informa que o Exército produziu nada menos do que 2,25 milhões de comprimidos de 150 miligramas de um medicamento que tem como possíveis efeitos colaterais problemas de visão e arritmia cardíaca.

Também repercutindo o quadro pandêmico brasileiro, a Associated Press, que chamou Bolsonaro de garoto-propaganda da hidroxicloroquina, chama a atenção para os perigos do uso da droga. “Uma série de estudos na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, além dos conduzidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), descobriram que a cloroquina e a hidroxicloroquina são ineficazes contra o Covid-19 e, às vezes, mortais por causa de seus efeitos colaterais adversos no coração”, relata. Ainda segundo a agência, vários estudos foram cancelados precocemente devido a efeitos adversos.

Índios como cobaias

De acordo com a Associated Press, o governo distribuiu comprimidos da droga em pequenas cidades, com pouca ou sem infraestrutura. Até aldeias indígenas foram visitadas. “Eles estão tentando usar o povo indígena como cobaia para testar a cloroquina, usar o indígena para fazer propaganda de cloroquina, como Bolsonaro fez em suas transmissões ao vivo, como um garoto propaganda”, denunciou a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apoib), Kretã Kaingang.

Em São Paulo, três médicos relataram à AP que pacientes solicitavam rotineiramente cloroquina à medida que a pandemia se espalhava, citando frequentemente Bolsonaro. Nas últimas semanas, no entanto, as perguntas sobre o medicamento diminuíram depois que surgiram dúvidas científicas sobre sua eficácia, destacam dois médicos.

“Eu digo a eles que não prescrevo [hidroxicloroquina] porque não há estudos que comprovem melhora dos pacientes e que existem riscos importantes com o uso indiscriminado desse medicamento”, explica a médica Natalia Magacho, do Hospital das Clínicas. “Alguns até ficam com raiva no começo. Mas todas as prescrições são de responsabilidade do médico e, como o risco supera o benefício, eu não o prescrevo”.

Da Redação, com agências internacionais

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