CPMI revela relações do empresário Domingos Sávio com governo Bolsonaro
Fraude no INSS: parlamentares do PT apontam que movimentações financeiras indicariam envolvimento de ex-gestores da autarquia no esquema de desvios
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No segundo depoimento da terça-feira (28), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS ouviu o empresário Domingos Savio de Castro, apontado por parlamentares do PT como um dos articuladores do esquema que desviou milhões de reais de aposentados e pensionistas. A oitiva reforçou a tese de que a rede de fraudes nasceu nos governos Temer e Bolsonaro e só passou a ser investigada de forma estruturada no Governo Lula, que mandou suspender os descontos ilegais e determinou a devolução dos valores às vítimas.
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Teia do crime
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) expôs transferências e conexões que, segundo ele, revelam a engrenagem financeira do esquema. “Entre 17 de fevereiro de 2023 e 17 de agosto de 2023, foram transferidos R$ 1,4 milhão para o senhor Erick Fidélis”, afirmou. “Entre setembro de 2023 e maio de 2024, há registros de R$ 13,8 milhões”. Para Pimenta, as movimentações ligam Domingos a outros operadores, como Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho e André Fidélis, ex-dirigentes do INSS no governo Bolsonaro. “Criaram uma nova diretoria e incluíram entidades fraudulentas para permitir os contratos”.
Empresas de fachada
Já o deputado Alencar Santana (PT-SP) direcionou suas perguntas sobre as operações da empresa Cal Vox, criada por Domingos Sávio em maio de 2022, quando José Carlos Oliveira, ex-ministro de Bolsonaro, presidia o INSS. “O senhor já teve problemas com o Judiciário por fraudes cometidas contra pessoas que tiveram dados manipulados. A Cal Vox surge em plena gestão Bolsonaro, sob o comando de Oliveira, que já havia sido superintendente no governo Temer”.
Segundo Alencar, o depoente replicou um velho esquema. “O senhor cria uma empresa de representação e passa a operar convênios com a Unaspub (União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos), uma entidade de servidores que passou a descontar de aposentados, o que é ilegal”. O parlamentar detalhou o cronograma das irregularidades: “No dia 26 de abril de 2022 é feito o ACT (Acordo de Cooperação Técnica) entre a Unaspub e o INSS. Uma semana depois, o senhor monta a Cal Vox para prestar serviços à mesma entidade. A Unaspub passa a faturar milhões, mais de R$ 700 milhões”.
O petista ainda revelou que os funcionários recebiam bônus por fraudes, estimulando adesões forjadas. “Prometiam prêmios a quem trouxesse mais associados, manipulando dados pessoais e enganando cidadãos”. E concluiu dizendo que, “me lembro que houve um veto do presidente Bolsonaro a uma MP que permitiu a negociação de dados de aposentados. Os senhores usaram dados, muitas vezes fraudados, para realizar descontos indevidos”.
Lula desmonta quadrilha
Fechando a tríade, o deputado Rogério Correia (PT-MG) destacou que a Unaspub é o retrato da fraude institucionalizada. “Em 2022, movimentou R$ 11 milhões; em 2025, R$ 48 milhões; no total, R$ 335 milhões! Uma entidade com 181 mil filiados e apenas dois seguidores nas redes sociais não presta serviço algum”.
Correia explicou que o grupo cobrava R$ 40, R$ 50, R$ 60 por mês de aposentados sem que eles sequer soubessem dos descontos. “Era uma entidade de fachada, usada como laranja. Hoje, os aposentados pedem o dinheiro de volta e o governo Lula determinou a devolução dos valores roubados”.
Por fim, o petista acrescentou que “essas quadrilhas atuam há muito tempo. Infiltraram-se no INSS e, no governo Bolsonaro agiram com total liberdade. Achavam que iriam culpar o governo atual, mas o que aparece é o rastro de corrupção deixado pelo anterior”.
Para Correia, a CPMI representa um divisor de águas. “O que vemos é a desmontagem de uma quadrilha, graças ao trabalho da Polícia Federal, da Controladoria-Geral da União, da imprensa e de um governo que realmente quer investigar e punir, que é o Governo do Presidente Lula”.
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Do site do PT na Câmara
