Dependente, Brasil pede licença aos EUA para comprar fertilizantes

Em 2020, quando Bolsonaro fechou a Fafen, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) alertou que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos

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Dependência externa

Após o desgoverno Bolsonaro fechar, paralisar obras e atividades e arrendar fábricas de fertilizantes da Petrobras, o Brasil se debate com a dependência de insumos importados. A ponto de o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, ter que pedir ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, licença especial para que o Brasil compre fertilizantes do Irã, que sofre sanções dos EUA desde a Revolução Iraniana de 1979.

França admitiu o contato subserviente em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores do Senado, nesta quarta-feira (6). “Pedi uma garantia de que a empresa possa fazer negócio com a empresa iraniana e não vai ser sancionada depois. O negócio com o Irã normalmente é mínimo em relação a essas empresas. Elas querem todas é poder fazer negócio com a Europa e com os Estados Unidos”, declarou aos senadores.

“No Irã há um grande excedente de fertilizantes, mas os importadores brasileiros têm dificuldades para negociar”, prosseguiu o chanceler. “Na prática, o que fazemos com o Irã é um escambo, porque depositamos os recursos numa conta no Brasil, que é usada pelo Irã na compra de insumos médicos e alimentos. Por isso negocio com os Estados Unidos uma trégua temporária nesse embargo.”

O alto preço do desmonte da Petrobras

Em 2006, durante o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o país importava 58% da demanda por fertilizantes de seus agricultores e já produzia 42%, conforme dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas de Fertilizantes (Sinprifert).

Para abastecer o crescente setor do agronegócio e também a agricultura familiar, a Petrobras passou a investir na ampliação do seu setor de Fertilizantes Nitrogenados. Em 2014, a empresa mantinha três fábricas –em Sergipe, Paraná e Bahia.

A obra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), em Três Lagoas (MS), avançava. Também havia planos de construção de mais três plantas do tipo – uma em Uberaba (MG), uma em Laranjeiras (SE) e uma em Linhares (ES).

Sob pressão máxima do lawfare promovido pela força tarefa da lava jato, a Petrobras abandonou os planos para a área de Fertilizantes Nitrogenados em 2016, durante o governo-tampão do usurpador Michel Temer. Naquele ano, o Brasil já importava 73% de todos os fertilizantes que consumia.

Hoje, as unidades do Nordeste estão arrendadas para a Proquigel, do Grupo Unigel, e a do Paraná está parada, ou “hibernada”, como dizem os comunicados da Petrobras. A obra da UFN III foi interrompida em 2015, já 80% concluída, sob a alegação de superfaturamento – o que nunca foi demonstrado. Agora, a gestão bolsonarista da Petrobras, ironicamente, negocia a venda da unidade para um grupo russo (Acron).

“Ele fechou a Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) no Paraná, não concluiu a fábrica do Mato Grosso do Sul e paralisou atividades em outras duas fábricas, uma em Sergipe e outra na Bahia, para depois arrendá-las”, acusa o petroquímico Gerson Castellano, diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em entrevista ao Portal da CUT.

“A gente já alertava sobre isso lá atrás. Em 2020, quando Bolsonaro fechou a Fafen, alertamos que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos”, afirma Castellano. “Estamos ficando dependentes de outros derivados também.” A consequência é o que está acontecendo agora com os preços dos alimentos.

Para o dirigente sindical, Bolsonaro não tem nenhuma condição de comandar um governo. “Eles estão perdidos e não têm planejamento estratégico, seja para fertilizantes, seja para o refino de outros derivados, seja para qualquer coisa. Eles não sabem o que estão fazendo no comando do país”, conclui.

Governo russo manda fabricantes paralisarem exportações

No dia anterior, na mesma CRE, o embaixador da Rússia, Alexei Kazimirovitch Labetski, disse que o país trabalha para manter a exportação para o Brasil. “Na situação atual, quando foram empreendidas as sanções ilegítimas contra nosso país, estamos abertos para trabalhar e criar os novos procedimentos necessários para a logística, que é muito importante, e novos procedimentos para o pagamento dos produtos, dos fertilizantes e dos produtos agrícolas brasileiros fornecidos para a Rússia”, afirmou.

Principal produto negociado entre Rússia e Brasil, os fertilizantes corresponderam a 60% dos quase US$ 6 bilhões importados para cá no ano passado. Mas no início desta semana, o governo da Rússia recomendou que os fabricantes de fertilizantes paralisem temporariamente as exportações.

Nota do Ministério da Indústria e Comércio russo afirmou que a medida é motivada pela desagregação na logística de exportação decorrente das sanções sofridas pela Rússia. O governo russo afirma que transportadoras internacionais suspenderam as atividades no país, prejudicando o escoamento do insumo.

“Falhas no embarque de fertilizantes podem afetar diretamente a segurança nacional de vários países e causar graves consequências na forma de escassez de alimentos para centenas de milhões de pessoas já no médio prazo”, alertou a nota do ministério.

O governo bielorrusso também já havia comunicado ao Brasil que paralisaria o envio dos insumos. O país controla cerca de um quinto do mercado global de potássio e foi um grande vendedor para o Brasil até que a Lituânia, em janeiro, cortou importante rota de trânsito em meio às sanções dos EUA impostas em 2021.

“As empresas no Brasil estão prontas para fazer negócios de quase todas as formas: pagamentos, permutas, trocas”, disse Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities no Brasil, à agência Bloomberg. “Estamos chegando perigosamente perto do plantio no Brasil e ainda precisamos de várias toneladas.”

Em março, o coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Alfenas (MG), Kleso Silva Franco Júnior, já havia constatado uma variação de 150% a 180% nos preços dos fertilizantes entre fevereiro de 2021 e 2022. “Um fertilizante tradicional de café custava em fevereiro de 2021 cerca de R$ 2,4 mil. Já em outubro, o valor chegou a R$ 5,5 mil e agora, em 2022, já temos preços em torno de R$ 6,5 mil”, afirmou ao G1.

E os reajustes continuam, diz o agrônomo. “O cafeicultor que quiser garantir seu estoque vai pagar mais caro. A única vantagem é que o café só precisa de adubo no início das chuvas, em setembro e outubro. Até lá, temos que torcer para ter fertilizantes.”

Da Redação, com agências

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