Depois de quebrar a Petrobras, Guedes agora quer entregar BB

Na famigerada reunião em que Bolsonaro ameaçou Moro por causa da PF e ministros defenderam prisão de juízes e governadores, o ‘Posto Ipiranga’ inovou: defendeu a venda da “porra do Banco do Brasil”

Carl de Souza

“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano”, afirmou Paulo Guedes, sem saber que estava sendo gravado

A condução do governo está marcada por reuniões desvairadas no Palácio do Planalto, recheadas de palavrões e sinais de esquizofrenia administrativa. O país assiste estarrecido ao desenrolar da crise política desencadeada por Bolsonaro, descobrindo que não é só o presidente que recorre a palavrões para ameaçar subordinados e ministros que defendem a prisão de governadores e juízes da Suprema Corte. O ‘Posto Ipiranga’ também dá sinais de descontrole emocional e sinaliza que incorporou o estilo grosseiro e chulo do ex-capitão do Exército.

Na famigerada reunião ministerial de 22 de abril, citada por Sergio Moro como o ponto de inflexão que o levou a deixar o governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que era preciso “vender logo a porra do Banco do Brasil”. Os termos grosseiros mostram que o ‘Chicago boy’, que está sob intensa pressão, não tem demonstrado controle, enquanto afunda o país com barbeiragens na condução da economia nacional. Na quinta-feira, a Petrobrás anunciou um prejuízo de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020, um recorde na história da empresa.

No encontro ministerial em que Guedes se referiu com desdém ao Banco do Brasil e Bolsonaro anunciou que não admitiria que “fodessem” com a sua família, estavam presentes os presidentes do próprio BB e da Caixa Econômica Federal. A gravação da reunião, tida como prova da interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, está em poder do Supremo Tribunal Federal (STF) e o relator do inquérito que apura o caso, o ministro Celso de Mello, decidirá se a íntegra do vídeo virá a público.

Guedes estava irritado com os resultados patéticos da condução da economia durante a pandemia. Ele passou a fazer críticas duras ao BB, reclamando que enquanto o Ministério da Economia tem desenhado medidas para garantir créditos às instituições financeiras, a fim de que os recursos cheguem às pequenas, médias e grandes empresas, o dinheiro não tem chegado na ponta. Segundo ele, caberia ao BB “puxar a fila”, já que tem o governo como seu maior acionista.

O problema, certamente, não é do BB, mesmo sob o comando do inábil Ricardo Novaes, ele próprio um defensor da privatização da instituição financeira, o primeiro banco do país, fundado em 1808 por Dom João VI. O fato de o dinheiro não chegar em mãos de empresas e famílias, afogadas em dívidas pela alta taxa de juros praticadas pelo sistema financeiro nacional, é responsabilidade direta de Paulo Guedes. O ministro, temperamental e inábil politicamente, não consegue sair da sua ortodoxia.

Segundo o economista Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, falta sabedoria ao “Posto Ipiranga”. “É preciso diminuir a incerteza vinda tanto do Palácio do Planalto (a insustentável rudeza da família Bolsonaro) quanto do Ministério de Ideologia Econômica (ausência de estratégia fiscal crível no combate à crise)”, escreveu em sua coluna, publicada na edição desta sexta-feira, na Folha de S.Paulo.

Pressionado por Bolsonaro a mostrar sinais de melhora na economia, que já vinha cambaleando e ensaiando voos curtos de galinha, e incapaz de pensar fora dos ditames da ultrapassada escola de Chicago – defensora do Estado mínimo e favorável à privatização a qualquer custo e do controle rígido das contas públicas -, Guedes empurra o Brasil para o precipício.

O Banco Central apontou que atividade econômica caiu 5,9% em março. O resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) nem captou o pior da pandemia, que ocorreu em abril, mas confirma a média das expectativas colhidas no mercado junto a consultorias e instituições financeiras. Ou seja, o pior ainda está por vir. E Paulo Guedes não tem a mais remota ideia do que fazer, além de querer vender bancos e empresas públicas. A pergunta é: quem apostaria agora no Brasil, quando a economia derrete e o governo aposta no caos como forma de se manter no poder?

Da Redação

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