Depois do aumento dos alimentos, inflação do aluguel dispara

Prévia do IGP-M, índice que determina o reajuste dos aluguéis de imóveis, mostra alta de 2,67% em novembro. Em 12 meses, índice passou de 19,45% para 23,79%. Movimento aponta para a escalada também da inflação oficial, que não tem refletido a carestia dos alimentos porque os critérios de cálculo foram modificados em janeiro

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Depois da inflação de alimentos, a explosão dos alugués

Preparem-se para uma dura negociação com as imobiliárias. Os preços no atacado estão fazendo o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) avançar cada vez mais. Na primeira prévia de novembro, o índice medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) já alcançou 2,67%. No primeiro decênio de outubro, o índice havia registrado taxa menor, de 1,97%, chegando a 3,23% ao final do mês. Com esse resultado, a taxa em 12 meses passou de 19,45% para 23,79%.

Em 2020, o IGP-M tem registrado variação bem acima da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que acelerou a alta a 3,48% na primeira prévia de novembro, depois de subir 2,45% em outubro e fechar em 0,86%. O resultado é 0,22 ponto percentual acima dos 0,64% de setembro.

O IGP-M é utilizado como referência para a correção de valores de contratos, como os de aluguel de imóveis. Ele sofre influência considerável das oscilações do dólar, além das cotações internacionais de produtos primários, como commodities e metais. E pode ser considerado a ponta do iceberg inflacionário em que tem se transformado o IPCA.

O índice de inflação vinha se arrastando ao redor de 2% em 12 meses, abaixo da meta de 4% estabelecida pelo Banco Central. Isso mesmo depois de o BC ter baixado a taxa básica de juros da economia (a Selic) para a mínima histórica de 2%. Agora, começa a dar sinais de que vai subir.

O IPCA-15, que funciona como uma espécie de prévia da inflação oficial, fechou outubro com alta de 0,94%. Essa é a maior variação para o mês desde 1995. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 3,52%.

Desde que o Brasil deixou o período de recessão 2015-2016, o que se chamou de recuperação da economia foi um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na casa de pífios 1,1% a 1,2%.

A “recuperação” medíocre se desfez com a pandemia do coronavírus e a alta recorde do desemprego, enquanto a informalidade, refúgio natural para o trabalhador desempregado, caiu com a crise. Quando a renda é instável, a demanda por produtos e serviços se reduz ao essencial, contendo os índices de inflação ao consumidor.

O IGP-M, porém, não olha apenas para o preço final. Dentro desse indicador da FGV, existem três pesquisas distintas: uma de preços ao produtor (IPA-M), que mede variação de custos até que o item esteja pronto para ser vendido ao lojista; outra, de preços da construção civil (INCC-M), e a terceira, de preços ao consumidor (IPC-M). A alta mais expressiva está justamente nos preços ao produtor, segmento que inclui o custo de matérias-primas e que responde por 70% do IGP-M total.

“Nesta primeira leitura de novembro, a taxa do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA) segue influenciada pelos aumentos dos preços das matérias-primas brutas (2,31% para 4,19%) e dos bens intermediários (2,66% para 3,88%)”, destacou André Braz, coordenador dos Índices de Preços da FGV.

“Quando a gente olha o IGP-M, vê que o desafio inflacionário agora é para o setor industrial que depende de commodities”, afirma André Braz, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV). As altas sucessivas do dólar e da demanda por algumas dessas commodities, cujos preços são definidos no mercado global, têm impacto direto sobre várias cadeias produtivas da indústria nacional.

“O IGP-M sempre antecipou o IPCA. Em 2018 foi a primeira vez que o IGP-M subiu e o IPCA não acompanhou”, lembra Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco. Quando a moeda americana saiu do patamar de R$ 3,30 para mais de R$ 4, em 2018, o impacto visível foi nos produtos com base em matéria-prima importada – caso do pão.

No final de 2019, quando houve o primeiro estirão de preços da carne, o dólar alto passou a encarecer também os produtos fabricados por aqui. Os aumentos descontrolados de preços de óleo de soja, milho e arroz vistos agora são reflexo desse processo, que inclui o descaso irresponsável do desgoverno Bolsonaro com os estoques reguladores de alimentos e o encanto do agronegócio nacional pela alta simultânea do dólar e dos preços das commodities.

Essa alta generalizada dos preços de alimentos no mercado nacional foi mascarada nos cálculos do IPCA, que é medido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com base em uma pesquisa de orçamento das famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos, os critérios de cálculo do índice sofreram mudanças em janeiro deste ano e passaram a conferir peso maior a gastos com serviços, que caíram com a crise do coronavírus. Por isso o descompasso estatístico.

“Falar de inflação ao consumidor hoje é falar de alimentos, e eles tiveram alta de 10%”, afirma André Braz, do Ibre-FGV. “A inflação percebida no orçamento das famílias acaba sendo maior que a oficial devido à alta dos preços dos alimentos, principalmente”, acrescenta o economista Marcio Milan, da Tendências Consultoria.

Segundo os economistas, os alimentos deverão continuar sofrendo novas altas, ainda que em ritmo mais modesto. Isso significa que o consumidor, além de lidar com reajustes do aluguel que ultrapassam a casa dos 20%, continuará a enfrentar a inflação nas gôndolas dos supermercados.

Da Redação

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