Deputada Rosa Amorim: “Se o campo não planta, a cidade não janta”

Parlamentar estadual do PT-PE fala da importância do trabalhador e trabalhadora rural no dia que marca a data de celebração da categoria

Matheus Alves

"A agricultura familiar faz mais do que plantar alimentos, ela também é guardiã de conhecimentos ancestrais sobre o manejo da terra", afirma Rosa Amorim (PT-PE)

Neste 25 de maio é celebrado no Brasil o Dia dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais. Para marcar a data, a Secretaria Nacional de Mulheres do PT entrevistou a deputada estadual (PT-PE) Rosa Amorim, liderança do Movimento dos Terra. 

Nascida em um assentamento do MST, Amorim recebeu mais de 39 mil votos e garantiu cadeira na Assembleia Legislativa. A petista integra o Movimento dos Sem Terra (MST) e é uma das mulheres que o grupo lançou para disputar as eleições estaduais de 2022. 

Nesta entrevista, a parlamentar fala da importância dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e do enfrentamento que o maior movimento do campo do Brasil enfrenta, como a quinta CPI, por exemplo. 

Secretaria Nacional de Mulheres do PT: Fale um pouco sobre ao 25 de maio, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural.

Deputada Rosa Amorim: O dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural, 25 de maio, foi estabelecido pela lei nº 4.338. Isto representou e representa até hoje o reconhecimento da categoria como profissão, uma vez que enfrentamos por muito tempo a dificuldade no acesso aos direitos trabalhistas para quem trabalha no campo, seja para quem produz por conta própria ou para quem vende o seu trabalho, que muitas vezes sequer tem sua carteira de trabalho assinada.

Uma curiosidade é que os trabalhadores e trabalhadoras rurais têm duas datas: 25 de maio e 25 de julho. O primeiro é no aniversário de falecimento do deputado federal Fernando Ferrari, que era um dos defensores da categoria, ajudou a redigir o estatuto do Trabalhador Rural e participou da elaboração do projeto de reforma agrária.

Já o 25 de julho é o dia mundial das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais, que marca a data quando os colonos europeus chegaram ao Brasil após a abolição. É uma data que os movimentos sociais e de luta pela terra vêm lutando para subverter como um dia de luta, que também é o dia da agricultura familiar. Uma data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que sabe a força e a potência da agricultura familiar no mundo.

Apesar de muitas pessoas confundirem as datas e às vezes terem dúvida sobre qual é a certa, ambas são dias de cobrar reconhecimento da profissão e por direitos para quem garante a produção agrícola em todo o país.

SNMPT: Qual a importância da data em um momento onde vemos o MST ser foco de uma CPI?

Rosa Amorim: Esta data sempre representou para nós, do MST, um dia de luta, porque não é de hoje que os trabalhadores e trabalhadoras rurais e, principalmente, aqueles que lutam contra o latifúndio, são subjugados e perseguidos. Quando a gente fala em agricultura familiar como pilar da luta pela Reforma Agrária, a gente fala também na perseguição e nos conflitos dos quais somos alvo. Esta é a 5ª CPI da qual o MST é alvo em seus quase 40 anos de história e isto reflete o que já acontece nos acampamentos e assentamentos. Dados do Relatório de Conflitos no Campo, lançado no último mês, já apontam que 180 mil famílias sofrem conflitos por terra, um número que aumenta todos os anos.

A nossa luta é com muita gente que atua na política há muito tempo, são ruralistas, financiadores do agronegócio, bolsonaristas e latifundiários, que não têm interesse na democratização do direito à terra. Desde o início do MST esta realidade já estava dada. A perseguição que a gente vê no Congresso Nacional é só um pedaço da perseguição que o MST sofre há quatro décadas. Não baixamos a cabeça até hoje e não baixaremos agora. A nossa luta é justa!

SNMPT: Qual a relevância desses trabalhadores e trabalhadoras para o Brasil?

Rosa Amorim: Tem uma palavra de ordem que costumamos dizer e é um jeito simples de falar qual a relevância, é assim: “se o campo não planta, a cidade não janta”. O que as pessoas esquecem é que por trás de cada alimento produzido, tem uma trabalhadora ou um trabalhador rural, muitas vezes famílias inteiras, que são responsáveis por mais de 70% do alimento que a população brasileira coloca na mesa. Do Amapá ao Rio Grande do Sul, a agricultura familiar está plantando para que você coma.

O MST, inclusive, além de produzir para comercialização, também vem realizando campanhas de solidariedade desde o início da pandemia para garantir que quem está em situação de vulnerabilidade e não tem o que comer não passe fome. Foram toneladas de alimentos que alimentaram o povo brasileiro em um momento em que o nosso País voltava para o mapa da fome e atravessamos uma pandemia de Covid-19, enquanto Jair Bolsonaro deixou o Brasil à deriva. Os trabalhadores rurais são quem garante a alimentação de verdade no nosso País.

SNMPT: Qual o impacto que a agricultura familiar e a reforma agrária têm no Brasil? 

Rosa Amorim: A agricultura familiar faz mais do que plantar alimentos, ela também é guardiã de conhecimentos ancestrais sobre o manejo da terra, sementes crioulas e técnicas de agroecologia que aliam agricultura e defesa do meio ambiente. É um contraponto ao agronegócio, que usa um modelo exploratório na agricultura, no meio ambiente e também dos trabalhadores rurais que trabalham para os outros.

A agricultura familiar, aliada à reforma agrária, luta pelo direito de todo trabalhador e trabalhadora rural ter direito ao seu pedaço de terra para trabalhar, pelo combate ao latifúndio que explora e que seja garantido o que está previsto na Constituição Federal, que é a função social da terra. Se tem tantas terras abandonadas e tantos trabalhadores buscando terras para morar e trabalhar, a Reforma Agrária não é só uma lei, mas é o justo. A democratização do direito à terra é sobre repartir e é isso que queremos para o nosso país.

 Da Redação do Elas por Elas, com informações do MST

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