Desde 2017, salários perderam um terço do poder de compra

Desemprego e desregulação do trabalho prejudicam categorias nas mesas de negociação. Inflação cada vez mais alta e disseminada corrói rendimentos das famílias

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Arrocho salarial

Em todo o Brasil, o Dia do Trabalhador foi também o dia de denunciar a dissolução do poder de compra de salários cada vez mais desvalorizados. Em cinco anos, a “reforma trabalhista” de Michel Temer e o deliberado abandono do papel do Estado na organização das atividades econômicas por Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes levaram o real a perder um terço de seu poder de compra. Entre março de 2017 e março de 2022, a disparidade entre a inflação e os salários chega a 31,32%.

Desde o golpe de 2016, a inflação vem ganhando de goleada dos rendimentos das famílias, cada vez mais pressionadas pela carestia, palavra que havia caído em desuso nos governos do PT. Se em 2018 o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 3,75% ao ano, em 2021 saltou para 10,06%, chegando a 11,30% em março.

Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a “prévia da inflação”, deu novo salto e ficou em 1,73%, maior nível para o mês desde 1995. Desde janeiro, os preços subiram 4,31%. Em 12 meses, a alta é de 12,03%.

Também o índice de difusão da inflação, que mede o percentual de produtos e serviços que subiram no mês, saltou para 78,7% em abril. Levantamento do Banco Modal a partir da série histórica do IPCA-15 aponta que esse é o maior índice já registrado em abril e o mais elevado para um mês desde fevereiro de 2003.

Desde o golpe de 2016, a inflação vem ganhando de goleada dos rendimentos das famílias, cada vez mais pressionadas pela carestia, palavra que havia caído em desuso nos governos do PT.

Ao g1, Fabio Louzada, analista com Certificado Nacional do Profissional de Investimento (CNPI) e diretor executivo da escola Eu Me Banco, explica que o peso da inflação recai com força sobre as pessoas, especialmente as mais pobres, porque o país vive “o pior cenário em termos de inflação versus reajuste de salários”.

O brasileiro sente mais a inflação porque está nos produtos e serviços que a população mais consome no dia a dia: gasolina, gás de cozinha, alimentos, energia elétrica e aluguel. Complementando, vem o salário do consumidor, que teve poucos reajustes nesse período, principalmente por conta da pandemia”, enumera o economista. Segundo ele, “nos outros anos, por mais que a inflação subisse, os salários também subiam, então afetava um pouco menos o poder de compra”.

A “reforma trabalhista” de Temer, que destroçou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), fez os trabalhadores paulatinamente perderem poder nas datas-base. A possibilidade de negociação direta entre patrão e empregado, sem a mediação de representantes sindicais, transformou os assalariados em presa fácil. Ao mesmo tempo, o desemprego elevado é argumento utilizado até contra categorias mais organizadas.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) vem acompanhado a deterioração salarial, agravada após a posse de Bolsonaro, para quem “é melhor trabalho sem direitos que direitos sem trabalho”. Em 2018, 9% das categorias negociaram reajustes abaixo da inflação, enquanto em 2021 o índice chegou a 47%.

Em 2022, até fevereiro, apenas 24% das categorias conseguiram reajustes acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que serve de referência para reajustes salariais.

“A gente vê os indicadores da economia, que ainda estão patinando. Esse é um contexto que joga contra as negociações coletivas. O que a gente tem observado é que as categorias mais sindicalizadas estão conseguindo repor pelo menos o INPC. É um cenário de muita instabilidade e vai requerer muita atenção dos trabalhadores, que têm de focar no poder de compra”, explica o sociólogo Luís Ribeiro, técnico responsável do Dieese.

Ao mesmo tempo, o Brasil não consegue superar a marca dos 12 milhões de desempregados. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em 29 de abril pelo IBGE, revelam 11,9 milhões de pessoas ainda lutando por uma vaga de emprego em março.

Políticas dos governos do PT resultaram em ganhos reais para trabalhadores

Em 2014, quando o país atingiu a inédita marca do pleno emprego sob Dilma Rousseff, 92% das negociações salariais resultaram em aumento real equivalente a 1,39%, enquanto 6% igualaram-se ao índice inflacionário, e apenas 2% não obtiveram recomposição salarial. Em toda a série analisada pelo Dieese, o percentual ficou abaixo somente do registrado em 2010 e 2012, quando a política de valorização do salário mínimo já havia sido adotada por Luiz Inácio Lula da Silva.

Até 2019, o salário mínimo federal era reajustado pela taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores, mais a taxa do INPC do ano imediatamente anterior. A partir da posse de Jair Bolsonaro, em 2019, o reajuste passou a acompanhar apenas a inflação medida pelo INPC, sem considerar o crescimento do PIB. Com isso, o piso nacional vem perdendo valor a cada ano.

O arrocho monetário implementado pelo Banco Central (BC) desde março do ano passado para alegadamente conter a inflação é apontado pela supervisora da área de preços do Dieese, Patrícia Campos, como outro elemento do empobrecimento do trabalhador brasileiro. “A política adotada é o aumento da taxa de juros, mas ela não trata a inflação na sua causa porque a economia brasileira está parada”, argumenta.

A partir da posse de Jair Bolsonaro, em 2019, o reajuste passou a acompanhar apenas a inflação medida pelo INPC, sem considerar o crescimento do PIB. Com isso, o piso nacional vem perdendo valor a cada ano.

As altas seguidas da taxa básica de juros (Selic) – que deve sofrer novo reajuste ao fim desta quarta-feira (4) – encarecem o crédito para empresas, que deixam de investir e contratar, e famílias, que, já “penduradas” em empréstimos e no cartão de crédito, reduzem drasticamente o consumo. Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em abril aponta que mais de 60% da população teve que cortar gastos nos últimos seis meses e mais de 30% fizeram cortes “grandes ou muito grandes” das despesas.

Economista-chefe da gestora WHG, Fernando Fenolio calcula que a massa real ampliada no Brasil, somando as transferências de auxílios emergenciais e outros tipos de renda, como aposentadorias, deve sofrer contração de 11,3% neste ano. As razões são a redução do valor dos benefícios pagos e, principalmente, a aceleração da inflação e o consequente – e ineficaz – ciclo altista da Selic.

“A poupança feita pelas pessoas durante a pandemia chegou a amenizar um pouco a mordida da inflação no bolso”, avalia Fenolio. “Mas, pensando no crescimento da economia em 2022, vemos o consumo afetado pela perda de renda via inflação elevada e crédito caro, com a alta maior dos juros”, finaliza o economista.

Da Redação, com informações do g1

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