Desemprego e redução da renda são as principais causas da inadimplência

Mais da metade dos brasileiros sabe pouco ou nada sobre a renda do próximo mês; 45% extrapolam limite do orçamento e 32% deixam de pagar alguma conta para comprar algo que desejam

Jailton Garcia

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A crise econômica, as altas taxas de desemprego e o emprego precário que se acentuaram nos oito meses de gestão do governo de Jair Bolsonaro (PSL) são responsáveis pelo drama da classe trabalhadora brasileira cada vez mais endividada, de acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

O estudo revela que 30% dos entrevistados que tinham dívidas em atraso há mais de três meses apontaram o desemprego ou a redução da renda como as principais causas de inadimplência. O percentual sobre para 31% nas classes C, D e E.

Outros 36% disseram que se endividaram por descontrole ou por conseguirem crédito fácil – compraram porque se fossem esperar sobrar dinheiro, demorariam para conseguir, argumentaram os entrevistados.

Já 33% disseram que aproveitaram as promoções oferecidas pelas lojas, sem avaliar o orçamento e 14% reconhecem não ter negociado bem os preços no momento da compra, enquanto 11% disseram estar tristes e, por essa razão, compraram mais do que o necessário para se sentir melhor.

O levantamento mostra também que muitos chegam até a negligenciar as despesas do dia a dia: 46% sabem pouco ou nada sobre o valor de suas contas básicas, como luz, água, telefone, aluguel, plano de saúde, condomínio e mensalidade escolar.

Outros 53% admitem ter pouco conhecimento em relação à própria renda do mês, entre salários, recebimento de aluguéis e demais rendimentos. Já mais da metade (52%) desconhece o número total de parcelas das compras realizadas por meio do crédito.

Estado emocional influencia inadimplência

42% dos entrevistados passavam por problemas financeiros e 14% foram levados pela ansiedade quando fizeram compras sem saber se conseguiriam pagar.

Outros fatores, um citado por 14% dos entrevistados, foi a ansiedade, e outro, citado por 12% foi a insatisfação ou problemas no trabalho.

Outros 9% contraíram dívidas enquanto passavam por dificuldades no relacionamento familiar. Por outro lado, 24% disseram não estar vivenciando nenhum problema emocional no período em que se endividaram.

Apesar dos transtornos provocados pela inadimplência, poucos são os que se mostraram dispostos a adotar novos hábitos para uma vida financeira saudável.

Entre os que se endividaram por descontrole ou compras por impulso, 47% reconhecem não ter feito nada para mudar de atitude. Metade desses alega não considerar o problema tão grande (52%), enquanto 34% argumentam que este hábito faz parte do seu jeito de ser e que nunca irão mudar. Já 11% afirmam que a situação não provoca nenhum tipo de incômodo. Em contrapartida, 53% tentaram mudar sua atitude para evitar gastos desnecessários.

Questionados sobre como lidaram com a inadimplência, seis em cada dez (66%) revelam que não buscaram qualquer ajuda para resolver suas dificuldades com o controle das contas. Nesse caso, 58% justificaram a decisão dizendo serem capazes de resolver os problemas sozinhos, ao passo que 24% afirmaram não ter dinheiro para contratar ajuda profissional e 18% não sabiam a quem recorrer.

Apenas um terço (34%) disse ter tomado algum tipo de providência, dos quais 62% pediram apoio a um amigo ou parente para organizar as contas, 19% procuraram ajuda profissional e 16% algum tipo de auxílio psicológico para ter mais controle sobre as compras e o orçamento. Outros 41% disseram ter tentado ajuda após outras medidas sem sucesso.

45% extrapolam o orçamento e 32% admitem às vezes deixar de pagar alguma conta para comprar algo que desejam

A impulsividade, motivada pelo desejo de adquirir um produto ou serviço sem pensar no impacto nas contas mensais, pode colocar em risco o equilíbrio do orçamento. Nesse aspecto, a pesquisa aponta certa contradição entre os inadimplentes ouvidos. Sete em cada dez (70%) entrevistados garantem que costumam avaliar os custos de serviços ou assinaturas para ver se podem cortá-los e 68% dizem planejar antes de fazer alguma compra.

Entretanto, nos últimos três meses, 33% fizeram compras, mesmo sabendo que seria difícil pagá-las, ao passo que 24% compraram sem pensar se conseguiriam pagar ou não e 17% fizeram aquisições sabendo que não teriam como pagar. Além disso, 45% declararam gastar mais do que o orçamento permite e 44% quase sempre costumam ceder aos desejos e impulsos quando querem muito comprar alguma coisa.

Ainda de acordo com o levantamento, a imprudência de alguns consumidores chega a tal o ponto em que se negligencia o pagamento de compromissos para satisfazer uma vontade: 32% admitem que às vezes deixam de pagar uma conta para comprar algo que se desejam. Além disso, 36% reconhecem que nos dias em que não estão muito bem acabam comprando coisas não planejadas para se sentirem valorizados.

Metodologia

A pesquisa ouviu 600 consumidores com contas em atraso há mais de três meses acima de 18 anos, de ambos os gêneros, de todas as classes sociais e que residem nas 27 capitais do país. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos a um intervalo de confiança de 95%.

Por CUT

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