Desprezo: Bolsonaro culpa o povo pela pobreza em seu desgoverno

Campeão da fome e do desemprego, chefe do Executivo mente sobre o Bolsa Família e diz que “é trabalho gigantesco” tirar as pessoas da miséria. Lula e Dilma conseguiram

Roberto Parizotti / Site do PT

Jovem pede comida nas ruas de São Paulo. Foto: Roberto Parizotti/Site do PT

A metralhadora giratória do “vergonha brasileira” não para. Só para variar, as famílias mais pobres desse país devastado e faminto foram novamente o alvo preferencial das calúnias de Jair Bolsonaro. E os fatos foram mais uma vez torturados pelo candidato à reeleição, que na sabatina da emissora católica Rede Vida voltou a negar que no Brasil haja 33 milhões de pessoas passando fome. “Não é esse número todo”, esquivou-se.

Há mais de 30 anos Bolsonaro repete a cantilena de que pessoas mais pobres são assim por “preguiça”, “falta de iniciativa” ou qualquer outro preconceito que lhe venha à cabeça. Nesta quarta-feira (21), o sujeito que mandou o Brasil de volta ao Mapa da Fome reclamou que “tirar as pessoas da linha da pobreza é um trabalho gigantesco”, omitindo que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff conseguiram. Quem é o preguiçoso aí?

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Os pobres são pessoas que foram ao longo dos anos acostumadas a não se preocupar, ou o Estado negar uma forma de ela aprender uma profissão”, prosseguiu o inquilino do Palácio do Planalto na série ‘Diálogo com Candidatos à Presidência do Brasil’, da Rede Vida. Sem o menor constrangimento de se expor ao enésimo desmentido sobre o tema.

Há quase um ano, na Rede Tv!, o futuro ex-presidente havia se referido às pessoas mais pobres como “17 milhões que não têm como ir mais para o mercado de trabalho”. “Com todo respeito, não sabem fazer quase nada”, tripudiou, desrespeitosamente.

Naquela vez, o desmentido veio com antecedência. Dez dias antes, O Estado de S. Paulo apresentara estudo sobre os beneficiários do Bolsa Família revelando que, do 1,15 milhão de pessoas que começaram a receber a ajuda em 2003, 795 mil (69%) devolveram o cartão. Dignamente, alegavam ter conquistado uma fonte estável de renda e, por isso, abriam mão do benefício em favor de quem ainda precisava.

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Desemprego sob Bolsonaro dobrou em relação aos governos do PT

A diferença entre os maus e os bons tempos é que a taxa de desemprego no Brasil dobrou sob Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes em relação aos governos do PT. É o que aponta o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no relatório ‘As contradições da melhora dos indicadores econômicos no Brasil’, divulgado na semana passada.

Fundamentado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo revela que a taxa média de desocupados, que era de 12,4% em 2003, primeiro ano do Governo Lula, caiu 45%, para 6,8%, em 2015, último ano integral do Governo Dilma. Michel Temer encerrou o mandato com o desemprego em 11,7%. Dois anos depois, na primeira metade do mandato bolsonarista, a taxa atingiu 14,2%.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua mais recente, referente a julho deste ano, mostra que o número de desempregados continua na fronteira dos dois dígitos (9,9 milhões). Já o contingente de trabalhadores em serviços informais, sem proteção da lei, bateu novo recorde (39,3 milhões de pessoas).

No último dia 9, após prometer que manteria o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023 e enviar ao Congresso Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) com o benefício em R$ 405, Bolsonaro debochou no programa eleitoral, prometendo o pagamento extra de R$ 200 “para quem começar a trabalhar” entre os beneficiários do programa.

No Twitter, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Governo Dilma Rousseff, Tereza Campello, lembrou que “Bozo” prometeu o benefício em agosto de 2021, quando criou o Auxílio Brasil, mas até hoje não o implementou. É dessa forma que “Bozo” vai camuflando a total incompetência para administrar o país. O negócio dele é outro.

Bolsa Família tirou 36 milhões da pobreza extrema

Extinto por Bolsonaro após 18 anos, o Bolsa Família foi um dos maiores programas de transferência de renda do mundo. Utilizado como complemento da renda familiar de 70% das famílias beneficiadas, que já estavam no mercado de trabalho, o programa foi um dos principais responsáveis por tirar 36 milhões de pessoas da pobreza extrema.

As condicionalidades do Bolsa Família incluíam cartão de vacinação completo para crianças de até 5 anos, frequência mínima à escola e pré-natal por gestantes. A inclusão produtiva das famílias beneficiadas era um dos objetivos do programa – e se tornou, durante o governo Dilma, um dos principais eixos do Plano Brasil Sem Miséria, criado em 2011. Em três anos, 22 milhões de pessoas ascenderam socialmente.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) gerou 1,215 milhão de matrículas em 578 cursos de qualificação profissional distribuídos por 3.217 municípios. Entre os inscritos, 68% eram mulheres e 50% tinham entre 18 e 29 anos.

Quem trabalhava por conta própria foi contemplado com o Microempreendedor Individual (MEI), formalizando o ofício. Teve à disposição o programa de assistência técnica e gerencial, coordenado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e acesso ao microcrédito produtivo orientado dos bancos públicos.

VEJA O LEGADO DO PLANO BRASIL SEM MISÉRIA

No campo, o Brasil Sem Miséria criou uma rota específica de inclusão produtiva para agricultores familiares, assentados da reforma agrária, acampados, extrativistas, pescadores, quilombolas, indígenas e outros povos e comunidades tradicionais. Dessa forma, 286,3 mil famílias receberam assistência técnica para aumentar a produção e melhorar a renda. Até 2014, 75,8 mil delas já recebiam recursos de fomento.

O Programa Água para Todos construiu 579,6 mil cisternas para universalizar o acesso à água no semiárido e outras 60 mil cisternas de produção e outras tecnologias sociais para recuperar a capacidade produtiva de famílias afetadas pela estiagem prolongada.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) realizou em três anos 192,3 mil operações com agricultores familiares de baixa renda. O Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste atendeu 1,12 milhão de famílias, 655,1 mil (58,6%) delas, beneficiárias do Bolsa Família, e 834,3 mil (74,6%), inscritas no Cadastro Único (CadÚnico).

O Bolsa Verde beneficiou com projetos de Inclusão Produtiva Rural 59,8 mil famílias de extrativistas, assentados e ribeirinhos, para que pudessem continuar produzindo e conservando o meio ambiente. E o Luz para Todos realizou 283 mil ligações para famílias do CadÚnico, 203 mil delas beneficiárias do Bolsa Família.

Em 2013, o Bolsa Família recebeu um prêmio internacional. Na Suíça, a Associação Internacional de Seguridade Social (ISSA) anunciou o Brasil como vencedor do I Award for Outstanding Achievement in Social Security, em reconhecimento ao sucesso do Bolsa Família no combate à pobreza e na promoção dos direitos sociais da população mais vulnerável do Brasil. Um ano depois, o Brasil saía do Mapa da Fome.

Uma das responsáveis por elaborar a parte do combate à fome do atual plano de governo de Lula, Tereza Campello adiantou a volta do Bolsa Família em caso de vitória da Frente Brasil da Esperança. Segundo ela, o novo programa será “revisto, ampliado e fortalecido, para que responda aos atuais desafios da fome e da pobreza”. “Vamos garantir os R$600 como valor permanente, e não um improviso eleitoral. A nova Bolsa resgatará segurança e estabilidade”, garantiu a ministra que representou o Brasil na premiação na Suíça.

Da Redação

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