Éden Valadares: “A pauta da impunidade já foi derrotada pela sociedade”

Em entrevista ao Poder em Pauta, secretário de comunicação do PT aposta nas ruas e nas redes para barrar anistia e enfrentar privilégios

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“O que vale para muitos pobres tem que valer para os poucos poderosos", reforça Éden Valadares

Em entrevista ao programa Poder em Pauta da revista Carta Capital, o secretário nacional de Comunicação do PT, Éden Valadares, fez uma análise sobre o partido e o cenário político brasileiro. Ele reafirmou a posição do PT contra qualquer tipo de anistia aos golpistas de 8 de janeiro, apontou a necessidade de transformar a mobilização das ruas em presença combativa nas redes sociais, defendeu a justiça tributária como resposta ao abismo social e reconheceu que a reforma política é um desafio ainda pendente para a esquerda.

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Mobilização nas ruas e nas redes

Para Éden, os protestos do último 21 de setembro, que tomaram mais de 70 cidades, mostraram a força da mobilização popular. Eles exigiram o arquivamento das propostas de proteger parlamentar fora da lei e de anistiar os golpistas. A primeira pauta já foi enterrada no Congresso. Quanto à segunda, afirmou: “não será difícil mobilizar a sociedade brasileira caso a gente consiga fazer o cidadão e a cidadã brasileira entenderem que se trata de mais uma manobra para garantir privilégios.”

O secretário afirma que o PT aposta em levar à internet a mesma combatividade que demonstrou nas ruas. “Esse exército de argumentos que destrói mentiras e combate o ódio precisa ocupar as redes. Isso exige investimento, qualificação e humildade para estudar e entender.”

Contra a impunidade

Valadares lembrou que a extrema-direita costuma adotar um discurso de linha-dura contra o crime, mas muda de tom quando se trata dos seus. “O pobre condenado por crimes menores não têm mobilização, não há tentativa de anistia. Quando poucos poderosos, alguns generais, um ex-presidente da República pela primeira vez são devidamente julgados, condenados e presos, o Parlamento vai se mobilizar para diminuir a pena? Está errado. O que vale para muitos pobres tem que valer para os poucos poderosos.”

Ele destacou que a tentativa de vincular a anistia a valores cristãos é uma manipulação política. “Há quem encare, ou foi levado a encarar, que anistia tem alguma correlação com perdão, misericórdia, piedade, valores cristãos […] Não se trata de um sentimento humano de perdoar aquele que errou, se trata de cidadania, se trata de cidadãos que desobedeceram as leis, e nós temos a Constituição e o Código Penal que prevêem as punições.”

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Justiça tributária como caminho

A defesa da reforma do imposto de renda apareceu de forma recorrente na entrevista. Éden lembra que a proposta do governo, que será votada na Câmara na próxima quarta-feira (1), pretende “taxar 140 mil pessoas que vão financiar a possibilidade de zerar o imposto, de isentar ou diminuir a alíquota para mais de 20 milhões de pessoas”. Para ele, a resistência de setores privilegiados a essa política demonstra como os interesses das elites ainda pesam contra os direitos da maioria.

Os monitoramentos realizados pelo partido indicam que mesmo entre eleitores de Bolsonaro há apoio à proposta de isentar salários de até 5 mil reais e taxar os milionários. Para ele, é um sinal de que a sociedade reconhece o tamanho do abismo social no Brasil e entende que as elites precisam “financiar ou co-financiar” o combate à desigualdade.

Reforma política e regulação digital

Segundo o secretário, uma falha do PT foi não ter avançado na reforma política entre 2003 e 2014. “A reforma do sistema político eleitoral do país talvez fosse a principal reforma que ao longo dos nossos governos a gente deveria ter feito e não fez.” Ele voltou a defender o relatório do deputado Henrique Fontana como referência para essa discussão, com voto em lista, financiamento público e fortalecimento dos partidos.

Também reiterou a necessidade de regulação democrática das plataformas digitais. “O que é crime, como se diz por aí, na vida real, precisa ser crime na vida virtual.” Para ele, não é aceitável que as big techs fujam de sua responsabilidade. “Não é possível, não é razoável que as plataformas não se aliem ao Estado brasileiro e não sejam corresponsáveis em impedir que esses crimes sejam propagados, propagandeados em suas próprias redes, e mais, que ainda consigam monetizar, ganhar dinheiro em cima disso.”

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Rejeição popular à anistia

Valadares também reagiu à manobra do relator do projeto de anistia na Câmara, Paulinho da Força, que tentou atrelar as mudanças no Imposto de Renda ao perdão dos golpistas, propondo a chamada “lei da dosimetria”. “Ele tenta salvar alguns poderosos sequestrando o governo para um jogo que não tem condições de impor. A pauta da impunidade já foi derrotada pela sociedade, todas as pesquisas mostram isso”, reforçou.

As pesquisas confirmam sua avaliação: Datafolha (54% a 39%), Atlas (57% a 40%) e Quaest (41% a 36%) mostraram, em setembro, maioria da população contra qualquer tipo de anistia.

Ao concluir, Valadares reforçou que o desafio da esquerda é manter a democracia em movimento. “Nunca nesse país, gente tão poderosa que articulou contra a nossa democracia e que tomou o caminho do golpe militar, foi devidamente julgado e preso. Não é dessa vez que a gente já deu esse salto que nós vamos deixar o Brasil andar para trás.”

Da Redação

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