Edson Luís: Morto pela Ditadura e enterrado ao som do Hino Nacional

Em 28 de março de 1968, o menino paraense que sonhava em concluir o Ensino Médio no RJ tinha sua vida interrompida pelos militares

Os estudantes já haviam se habituado ao fato de o Restaurante Calabouço, cuja refeição cabia no bolso da maioria, ter se mudado um ano antes para a esquina da Avenida General Justo com a Rua Santa Luzia, no centro do Rio. Era 1968 e o local havia uma década era o templo sagrado da juventude que cursava o Ensino Médio – não havia assunto a tratar que não tivesse o local como ponto de encontro.

No dia 28 de março daquele ano, no entanto, o alvo do protesto de centenas de garotos e garotas – com idades entre 16 e 18 anos – era o próprio Calabouço, que anunciara aumento no preço da comida. Ali mesmo, entre as mesas dispostas naquele imenso barracão, passaram a organizar um protesto-relâmpago para acontecer ainda na tarde daquela data. Entre eles, estava o secundarista Edson Luís de Lima Souto, cuja história chegaria ao fim antes mesmo de realizar o sonho de concluir os estudos.

Antes mesmo de anunciarem o ato, os agentes do Golpe chegaram ao local e, logo na entrada, apresentaram o cartão de visitas da Ditadura Militar. Acuados, Edson Luís e outros cerca de 300 estudantes se aglomeraram dentro do restaurante. Quando alguns dos jovens decidiram reagir, a resposta veio com ainda mais violência e faria daquela data um marco negativo da história nacional.

Durante a invasão, um comandante da tropa da PM de nome Aloísio Raposo atirou e matou Edson Luís com um tiro a queima roupa no peito. Nunca houve tanto silêncio naquele restaurante, lugar em que o menino franzino, nascido no Pará e cujo objetivo era dar uma vida melhor para a mãe lavadeira, almoçou e jantou religiosamente durante os seis meses em que viveu no Rio de Janeiro.

No mesmo dia, o Calabouço fecharia as suas portas para sempre.

Nos braços do povo, sob o Hino Nacional

A noite já havia caído quando os peritos da PM chegaram para examinar o corpo enquanto o alto escalão do governo preparava o terreno para esconder a verdade sobre o caso. Mas não havia mais como apagar o estrago. A morte de Edson Luís, oficialmente o primeiro estudante assassinado pelo regime miliar, daria origem ao primeiro grande levante contra a Ditadura Militar com participação efetiva de artistas, intelectuais e outras camadas da sociedade antes inertes ao golpe.

No dia seguinte ao atentado, os secundaristas dariam seu recado ao governo autoritário: depois de velado na Cinelândia, onde os colegas impediram a PM de entrar, o corpo de Edson Luís seria levado nos braços do povo – alguns relatos falam em 50 mil pessoas – até o Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, numa das cenas mais emblemáticas do período.

No local, centenas de pessoas com faixas de protesto empunhadas choravam, gritavam palavras de ordem, gritavam de indignação. À beira do túmulo, enquanto Edson Luís era enterrado, a multidão ainda encontrou forças para executar a plenos pulmões o Hino Nacional.

Hoje, 51 anos depois, é de Edson Luís e outras tantas vítimas que a história se recorda quando Jair Bolsonaro sugere uma festa para a Ditadura Militar. Tanto que o Instituto Vladimir Herzog e a Ordem dos Advogados do Brasil enviaram à Organização das Nações Unidas, na manhã desta sexta-feira (29)  uma denúncia contra mais um delírio institucional do novo governo.

O fato é que o sangue do estudante secundarista estará sempre nas mãos dos que defendem o regime.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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