Elas Por Elas entrevista Márcia Tiburi: “É preciso preservar a vida analógica”

A filósofa figurou entre as 99 personalidades mais essenciais no Twitter em 2020. Confira entrevista sobre estar na batalha digital e ser mulher e petista no século 21. 

Da Redação, Agência Todas

A filósofa Márcia Tiburi é uma das petistas que figura entre os 99 perfis femininos mais essenciais no Twitter em 2020. O levantamento feito pela revista Bula considerou prevalecer o conteúdo, o engajamento e a interatividade, sendo permitido aos participantes da pesquisa indicar perfis seguidos por dezenas ou milhares de usuários. 

Depois de muito tempo longe das redes sociais, Márcia Tiburi voltou ao Twitter para contribuir com a ‘desintoxicação’ do ambiente digital e estar presente na guerra das narrativas. Ela conta que excluiu as duas contas (pessoal e pública) do Facebook para preservar não apenas a própria saúde mental, mas de seus seguidores e seguidoras. “Acho que não estou fazendo nenhuma falta no facebook”, afirma. 

Nesta entrevista, ela conta como é ser petista e estar nas redes, de sua saga na volta ao Twitter e a importância de colocar limites na relação com o ambiente virtual. “É importante estar presente para lutar a boa luta e não se deixar devorar. Preservar a vida analógica é fundamental diante do apelo e da sedução da vida digital”, afirma. Essa abordagem não é uma temática nova para a filósofa. Em 2014, ela escreveu o livro “ “Filosofia prática: ética, vida cotidiana e vida virtual” em que aborda a criação de um cotidiano virtual em que as pessoas inventam a própria realidade como se estivessem vivendo aquilo verdadeiramente. Não por acaso, esse diagnóstico hoje se confirma diante de governos que governam pelo twitter, como Bolsonaro e Trump. 

 

1)) Ser petista e estar nas redes é uma tarefa bastante árdua. Como você lida com a saúde mental?

 

Voltei para o Twitter porque acredito que precisamos estar presentes na guerra das narrativas, na luta pela narrativa verdadeira. Mas, ao mesmo tempo, não faço isso sem uma compreensão bastante clara do funcionamento da rede. É uma rede que eu posso participar, dentro dos meus limites, sem promover uma toxicidade com meu nome. 

No Twitter, é muito mais fácil de bloquear as pessoas e os boots parecem mais fáceis de controlar. Depois de tudo que passei, de todas as ameaças, eu sinto que, no Twitter, eu consigo bloquear e fazer denúncias. 

 

2) Você considera que é capaz de influenciar pessoas nas redes sociais? 

 

Eu não tenho uma participação nas redes sociais que visa influenciar pessoas. O conceito de influência é muito negativo, que, infelizmente, está em voga e precisa ser superado. Eu espero que a gente possa encaminhar para uma sociedade da verdade, do diálogo. E “influenciar pessoas” seja algo a ser superado. 

 

3) Como foi seu processo de “virar petista”? E como isso afetou sua relação nas redes? 

 

O petismo faz parte da minha vida como a literatura, filosofia, minhas aulas, como as coisas da minha vida que posso tornar pública. Sem dúvida, há um ataque antipetista muito pesado contra pessoas filiadas ao PT, ou pessoas de esquerda que são taxadas de petista, mesmo não sendo do partido. 

Existe uma campanha publicitária antipetista em voga há muito tempo, realizada pelas mídias tradicionais e pelos outros partidos — criando nas pessoas uma relação negativa com o partido. 

No entanto, eu acredito que a maior parte da população gosta do PT, mas não tem uma ação coordenada em nome da defesa do PT. O Partido dos Trabalhadores é gigantesco, o maior da América Latina, e nós não podemos esquecer disso. 

Eu resolvi assumir essa posição, me filiando ao partido, por considerar que como cidadã brasileira seria um gesto de gratidão, generosidade e de reconhecimento. 

No cenário brasileiro, falta gratidão para com o PT.

 

4) Qual foi a sua maior frustração em termos de expectativa X realidade no debate político virtual?

 

Eu não espero nada do debate político virtual, ele é um debate espectral. E quem participa está ali para se contrapor e resistir a um pensamento único. 

 

5) Na sua avaliação, qual o impacto da alcunha “petista” — que hoje tomou uma dimensão muito maior do que ser filiada/o ou não ao PT — na compreensão e formação das pessoas sobre política brasileira?

 

A partir de uma campanha publicitária proveniente da extrema direita, ser petista no Brasil vem sendo associado a uma característica negativa: ser comunista, ser esquerdista, são termos que vêm sendo usados, de forma pejorativa, contra pessoas que têm uma personalidade democrática. 

Acredito que nós precisamos nos afirmar como petistas — assim como negros, mulheres, trabalhadores, trabalhadores, brasileiros —  como pessoas que reconhecem a função do PT na construção de uma democracia no nosso país. 

Ser petista também é reconhecer a história da democracia no nosso país, a história política, a história cultural da política. 

 

É um ato de consciência ser petista. É um ato de gratidão e de reconhecimento para com os trabalhadores e trabalhadoras de nossa história que lutam pelo direito à vida, à terra, à democracia que estava em construção e subitamente sofreu um golpe. 

 

6) Dicas e conselhos para as novas gerações de petistas manterem a batalha virtual 🙂

 

É importante que as pessoas estejam presentes e ao mesmo tempo não deixem que essas redes tomarem conta de suas vidas. É importante estar presente para lutar a boa luta e não se deixar devorar. Preservar a vida analógica é fundamental diante do apelo e da sedução da vida digital. 

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