Ellen Costa: “O objetivo do 180 é salvar vidas”

Para coordenadora-geral do 180, campanhas educativas são importantes para sensibilizar e engajar a sociedade na luta contra a violência de gênero

Reprodução/TvPT

Ellen Costa, coordenadora-geral da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180

Em entrevista ao Jornal PT Brasil, da TvPT, Ellen Costa, coordenadora-geral da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, falou sobre a campanha do Ministério das Mulheres para divulgar o Ligue 180 e outras iniciativas da pasta relacionadas ao combate à violência de gênero. 

Segundo Costa, o Ligue 180 é um canal que orienta as mulheres, onde somente mulheres fazem o atendimento às vítimas para que elas se sintam, mesmo diante do medo e vergonha, acolhidas com uma mulher do outro lado da linha ou da tela: “As atendentes repassam informações importantíssimas sobre os mais diversos direitos que as mulheres têm. Então, às vezes a mulher tem medo de seguir em frente com uma denúncia, porque ela acha que vai perder a casa, vai perder a guarda dos filhos”, argumentou.

“O 180 serve também para repassar informações sobre os serviços que estão mais próximos daquela mulher. E também é o canal para se fazer denúncia para saber qual é o protocolo correto que ela deve seguir em situações de violência. Não apenas violência doméstica, como qualquer outro tipo de violência”, informou Ellen.

De acordo com o ministério, de janeiro a outubro deste ano, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 atendeu uma média de 1.525 ligações telefônicas por dia. Foram 461.994 atendimentos, sendo 74.584 deles referentes a denúncias de violência contra mulheres. Em 2022, nesse mesmo período, foram 73.685. 

Do total de denúncias recebidas pelo Ligue 180 no período, 51.941 foram realizadas pela própria mulher em situação de violência. Dessas, mulheres negras são as principais vítimas, somando 31.931 das denúncias:  parda: 24.785; branca: 19.507; preta: 7.146; amarela: 279; e indígena: 224.

Entre os principais tipos de denúncias estão a violência psicológica (72.993); seguida pela violência física (55.524); violência patrimonial (12.744), violência sexual (6.669); cárcere privado (2.338); violência moral (2.156) e tráfico de pessoas (41).

Dentro da programação dos “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres”, iniciativa da ONU que faz parte de um pacto global pelo enfrentamento à violência de gênero, Costa afirmou que o Ligue 180 pode ser estratégico como ferramenta no enfrentamento a essa violência: “Essas campanhas são importantes no sentido de sensibilizar toda a sociedade para o engajamento na luta contra a violência de gênero, que é toda e qualquer violência cometida contra as mulheres só pelo fato de serem mulheres”.

“Essa campanha dos 21 dias de ativismo traz para sociedade, e para o governo como um todo, a responsabilidade de colocar quais são as ações que nós estamos implementando, e chama a sociedade a pensar, a se sensibilizar sobre o tema. É o momento da gente intensificar os instrumentos que temos em mãos como a Casa da Mulher Brasileira, o Plano Nacional de Prevenção aos Feminicídios, que vai ser lançado, dentre tantos outros instrumentos”, afirmou. 

Reestruturação do 180 

A coordenadora destacou o empenho do Ministério das Mulheres em reestruturar o canal: “A qualificação, principalmente das atendentes, é um processo permanente porque o intuito sempre é fortalecer o canal. A gente vem nesse serviço árduo de reestruturá-lo e colocá-lo novamente de forma qualificada para atender toda a sociedade”.

“Depois de passar por todo processo de queda na procura do canal nos últimos anos”, prosseguiu costa, “a equipe entendeu que era preciso reforçar a Central de atendimento para estar disponível para que qualquer pessoa possa acessá-la de onde estiver: “Não só mulheres que sofrem violência, mas pessoas que conhecem mulheres que sofrem violência. E nós estamos trabalhando dia e noite pela qualificação do serviço, porque, muitas vezes, as mulheres, ou elas não têm serviço de atendimento na sua cidade e localidade, e essa é a realidade da maioria dos municípios do nosso país, infelizmente.”

O Ligue 180 possibilita que a mulher, ou qualquer outra pessoa, possa acessar de onde estiver, tanto por ligação, como por mensagem de forma anônima, 24 horas por dia, todos os dias, independente se é feriado. 

Em abril, o MMulheres lançou um canal do 180 exclusivo no WhatsApp. Para mandar uma mensagem direta ao Ligue 180  basta enviar uma mensagem para o número (61) 9610-0180, ou então clicar aqui

“Trabalhamos para ampliar a capilaridade dele nas regiões do país, que é enorme, continental. A gente está estudando, como as pessoas, as mulheres que moram em comunidades quilombolas, mulheres, indígenas que estão mais distantes possam também ter acesso ao serviço do Ligue 180. E nós estamos capacitadas para atendê-las também de acordo com as suas vulnerabilidades. Por isso que é uma ligação mais forte, porque vai ter uma outra mulher do outro lado da linha ou da tela falando do WhatsApp, que vai entender a situação que você está sofrendo, sem julgamentos”, informou  a coordenadora-geral. 

Painel do 180 

Costa informou que dentro da programação da campanha dos 21 dias, o Ministério lançará nos próximos dias o Painel do Ligue 180, que é mais uma ferramenta que reunirá informações da rede de serviços especializada de atendimento à mulher, que o 180 já informa por telefone e por WhatsApp. O novo equipamento servirá como termômetro também dos serviços que vêm sendo oferecidos, as políticas que vêm sendo aplicadas.

“É um painel bem intuitivo, acolhedor e de fácil acesso. Lá, a mulher vai saber que naquela localidade onde ela se encontra se existe serviço próximo dela, e onde não existir, o poder público vai ter acesso àquela informação e aí ele precisa se responsabilizar, cuidar e implementar esse serviço naquela localidade”, esclareceu.

“Posteriormente, esse painel também vai informar os demais dados da Central sobre os atendimentos que nós realizamos, os perfis das usuárias, das vítimas, os perfis dos agressores e as outras informações, Porque a gente acredita que quanto mais informação, e mais dados qualificados conseguiremos direcionar melhor as nossas políticas”, observou a coordenadora.

Desafios em rede para o enfrentamento da violência contra a mulher 

Questionada sobre a razão de o Brasil ser um país tão violento contra as mulheres, Costa destacou ser necessário entender que vivemos em um país machista e misógino, e que para transformar a sociedade é necessário haver um processo educacional, de valorização da mulher na sociedade.

“Temos ainda uma série de desafios pela frente que inicia na questão educacional, no combate ao machismo, que não é uma responsabilidade das mulheres, é dos homens também, e também do Poder Público em colocar orçamento nessas estruturas de defesa das mulheres. É preciso dar meios para que elas possam romper com esse ciclo de violência e mudar essa cultura”, disse. 

Como parte da estratégia de enfrentamento a essa epidemia de violência de gênero, o MMulheres lançou em outubro o programa “Brasil sem Misoginia” que objetiva construir a igualdade e acabar com o feminicídio e com a violência contra a mulher em todo o território nacional.  Por isso, há um esforço da pasta em popularizar o termo ‘misoginia’ e massificar seu significado, que quer dizer ‘ódio às mulheres’, a fim de somar parceiros contra esta cultura. 

Contudo, devido ao tamanho continental do Brasil, é essencial que haja um trabalho em rede, envolvendo estados e municípios. “A gente vê que os Organismos de Políticas para as Mulheres (OPM), que a gente chama secretarias ou coordenadorias de mulheres, já estão adotando essa palavra e explicando porque nós temos no Brasil uma cultura de machismo e de ódio às mulheres, onde as mulheres são vistas de forma subjugada e objetificada”, revelou.

No enfrentamento à misoginia, além de as mulheres conseguirem identificar que estão vivenciando uma situação de violência, os homens também precisam se responsabilizar e reconhecer que cometem as violências, além de ser preciso estruturar os serviços para acolher bem essas mulheres nos estados e municípios. 

“Há os serviços a nível federal, como as Casas da Mulher Brasileira e o Ligue 180. Mas os governantes e os gestores devem entender também que eles precisam disponibilizar serviços, como as delegacias que precisam ter pessoas no atendimento às mulheres, e devem ficar abertas 24 horas. É  preciso ter serviço de apoio psicológico e psicossocial para essa mulher. Nós estamos também repactuando com todos os estados da federação para que eles possam receber as denúncias do 180, dar encaminhamento a elas e que a gente possa fazer monitoramento e ter o  retorno do que está sendo feito com essa denúncia que chegou”, concluiu.

Da Redação Elas por Elas, com informações do Ministério das Mulheres 

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