Extrema direita quer arquétipo cândido para comportamento da mulher

Reflexão foi apresentada durante Seminário de Comunicação do PT sobre atuação da extrema direita mundial nas redes

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Fernanda Sarkis, mestre em Comunicação Política pela Universidade do Porto, e Marcus Nogueira, sociólogo, durante painel “Mapa das Redes - Cartografia de Controvérsia”

No primeiro dia de realização do Seminário Nacional de Comunicação PT Brasil 2023 (13) organizado pela Secretaria Nacional de Comunicação do PT, o painel “Mapa das Redes – Cartografia de Controvérsia” apresentado por Fernanda Sarkis, mestre em Comunicação Política pela Universidade do Porto, e Marcus Nogueira, sociólogo, apresentou o funcionamento das redes transnacionais da extrema direita e sua relação com o Brasil na política na formação das fake news.

A dupla é especialista em desnudar o modus operandi da extrema direita em espalhar milhares de desinformações. A este método muito bem organizado e orquestrado os pesquisadores chamaram de “ecossistema de desinformação“. 

A religião é um dos fatores utilizados pela extrema direita para se aproximar da população conservadora, com o propósito de dialogar e falar o mesmo idioma que aquelas pessoas que creem. Segundo o casal, a direita disputa o arquétipo da mulher no imaginário daquelas pessoas que orbitam o universo conservador.

É o que explica Nogueira: “O embate está, sobretudo, na mulher, na absorção da imagem da Maria, porque a mulher é a batuta do comportamento que eles disputam. Por isso, é muito importante que não pode o aborto e a disputa da família porque é o enquadramento do patriarcado. Então, o ponto de fundo dessa disputa é que a mulher tem um papel absolutamente fundamental porque é a alma feminina que eles disputam como o arquétipo de Maria. Que Maria é que o Ocidente vai respeitar? É a Maria de todos os continentes ou é a única Maria com um único tipo de personalidade? Por isso, a mulher é fundamental nessa guerra cultural.”

Figura da mulher santa reflete ausência de autonomia 

Ao falar sobre como o papel da mulher é utilizado pela extrema direita, mas sob a ótica da comunicação, Sarkis explica que o referido campo ideológico adotou a imagem de Nossa Senhora  como modelo a ser seguido para as mulheres conservadoras.

“A gente percebe usando, como exemplo essa questão de Nossa Senhora, que é essa figura imaculada, cândida, quase como um modelo de mãe, que é a personificação de um modo de ser de uma mulher, ou de como ela deveria ser. E o que percebemos, na rede, é uso instrumental dessa figura para torturar as mulheres psicologicamente. Ele diminui o espaço das mulheres, encurta a autonomia delas. E como enfrentar isso? Esse é o grande ponto do debate que temos hoje”, reflete. 

Sarkis explana que o campo progressista se encontra “dentro de um labirinto narrativo quando se fala de gênero”. Para ela, a esquerda precisa aprender urgentemente a dialogar com essas mulheres que são conservadoras, sendo preciso encontrar um fio comum entre todas: “Essa forma como a gente reivindica a mulher, a forma como a gente argumenta o lugar da mulher conversa só com a gente (esquerda). Não dialoga com uma outra mulher que se percebe conservadora, que tem medo culturalmente de determinadas mudanças, que se sente ameaçada por questões que, para ela, são mínimas. Ela vai sendo colocada em lugares de medo e eles (homens da direita) sabem usar muito bem esses espaços de medo”.

“Portanto – continua Sarkis – no final das contas, o que acaba acontecendo é que por mais que a gente tenha legitimidade para reivindicar uma mudança de posição, que a gente tenha mais mulheres do que homens na sociedade, que a gente já tenha um discurso organizado com alguns parâmetros, do ponto de vista da comunicação a gente não está conseguindo enfrentar isso de uma forma que nos tire de um gueto ou labirinto.”

Questionada sobre o fato de, durante a gestão passada, o número de mulheres terem sido vítimas de tantas violências, a pesquisadora afirma que “a mulher que não é cândida, que não é santa é a mulher que merece a correção. É uma correção autorizada”

“Eu acho que o que o bolsonarismo fez foi a autorização da violência, a instrumentalização da mulher em direção a essa figura cândida, e vão criando medidas de repressão para aquela que desvirtua desse caminho. Voltando ao tema do labirinto narrativo, quando a gente faz determinadas colocações dizendo que são machistas e que incentivam a violência, a mulher conservadora não enxerga assim. Porque, para ela, não é violentada, nem vítima, ela é cândida”, finaliza a pesquisadora.

Da Redação Elas por Elas, com informações de Piauí

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