Fantasma da fome volta assombrar o Brasil, alerta historiadora

“Se esse Estado que está hoje colocado não entende que essa população precisa sair da situação de fome, temos que fazer uma mobilização da sociedade civil e criar esse enfrentamento com o Estado”, clama Adriana Salay, integrante das ações de combate à fome ‘Quebrada Alimentada’ e ‘Gente Nasceu para Brilhar’, em entrevista à ‘Folha de S. Paulo’

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Fome ameaça os lares brasileiros

Depois de ter deixado o Mapa da Fome das Nações Unidas em 2014, o Brasil volta a ser ameaçado por um quadro de fome crônica. O alerta é da historiadora Adriana Salay, que fez uma avaliação do atual panorama da desnutrição no país. Em entrevista ao jornal ‘Folha de S. Paulo’, publicada no dia 12, Adriana afirmou que a fome epidêmica, provocada pela pandemia do coronavírus, vem somar-se à fome endêmica, de volta ao país após o abandono, pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos, de políticas sociais fundamentais para a manutenção de uma rede de proteção social. 

“Se esse Estado que está hoje colocado não entende que essa população precisa sair da situação de fome, temos que fazer uma mobilização da sociedade civil e criar esse enfrentamento com o Estado”, clama a historiadora, na entrevista.

Estudiosa da obra de Josué de Castro, autor de “Geografia da Fome” e integrante de ações de combate à fome em São Paulo, Adriana vê na fome endêmica um grande desafio ao país. “Alguém que ganha um salário mínimo (R$1.045) e vive com mais três pessoas, por exemplo, está em uma situação de fome estrutural, porque o salário mínimo hoje no Brasil não alimenta adequadamente quatro pessoas com os outros custos de vida”, observa. “Outras pessoas que não estavam nessa situação são alçadas a esse lugar porque perderam renda”.

“A fome é um processo, não é um fato posto”, aponta. “Primeiro, começa a diminuir a quantidade das refeições; depois, a mulher, que é a pessoa que faz a gestão da fome na maioria dos lares, começa a pular refeições. E só então os filhos deixam de comer”, diz ela, que está produzindo um documentário sobre o assunto.

Segundo a historiadora, políticas públicas para combater a fome, como o programa de aquisição alimentar para o PNAE, de alimentação escolar, foram abandonados pelo Estado brasileiro.

“A escola é um lugar privilegiado para acessar essas famílias em vulnerabilidade”, considera Adriana, lembrando que os centros de ensino têm um mapeamento das famílias e que o programa de aquisição de alimentos determina que 30% da produção venha da agricultura familiar. “Quando você desmantela esse programa, não são só essas famílias que são prejudicadas, como também esses agricultores”.

“Defendemos a implementação de algumas políticas como o auxilio aluguel, a intensificação dos restaurantes populares, e nada disso tem sido feito”, critica.” Não há uma política de contenção de fome em nenhuma das esferas de governo”, lamenta a historiadora.

Para a historiadora, os avanços dos governos do PT  na erradicação da fome “são inegáveis”, como demonstram os dados. “Mas pensando nos governos que estão instalados hoje, não me surpreende”, ressalta. “Quando a pandemia chegou, com o entendimento que tenho e olhando para os trabalhos de Josué de Castro, já sabia o que iria ocorrer. As crises são fatores geradores de fome”, diz. Para Salay, falta vontade política para mudar o quadro, uma vez que o Estado possui todas as ferramentas para intervir.

Da Redação

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