O que as crianças estão enfrentando após dois anos de confinamento

Novos protocolos, distanciamento, dificuldades de socialização. Mães e pais relatam dificuldades na volta às aulas e a adaptação do ‘novo normal’

A flexibilização do confinamento e o retorno gradual das aulas têm colocado na esfera pública uma preocupação que estava restrita à individualidade das famílias: o impacto da pandemia no desenvolvimento das crianças.

Atrasos de fala, medo excessivo de adultos desconhecidos, bruxismo noturno, unhas roídas, ranger de dentes, dificuldades em socializar com outras crianças entre outras manifestações de ansiedade e desconforto estão trazendo novos desafios para mães, pai, educadores, psicólogos e especialistas em desenvolvimento infantil.

“Aqui, 2 anos e 3 meses, ela não consegue interagir com outras pessoas fora do círculo familiar. […] quando chega outra criança ou um adulto que ela não conhece, ela congela e não se mexe. Fica assim um bom tempo até voltar a querer brincar ou pede colo para sair do local. Geralmente acontece no playground ou quando alguém fala com ela na rua”, relatou uma mãe na rede social.

“Minha filha não brinca com outras crianças, em casa brinca horrores com a gente. chega na rua vê outras crianças e trava. É muito triste”, relatou outra mãe.

“A minha passou a cutucar o cantinho das unhas. As vezes, chega a sangrar e ela não para”, desabafou uma mãe.

A primeira infância é o período mais importante no desenvolvimento cognitivo do ser humano e fundamenta as bases de socialização e aprendizado. Uma criança, por exemplo, que nasceu no começo da pandemia, teve um terço de sua primeira infância abocanhada pelo confinamento e os impactos coletivos da pandemia. Até bebês que já tinham de 6 meses a um ano e meio, quando as medidas foram instauradas, não tiveram a oportunidade de se desenvolver como em contextos considerados normais. Em outras palavras, dois anos é muito tempo.

“Eu tenho escutado relatos de famílias, de mães, que dizem que as crianças estão nervosas, estressadas, que elas não sabem lidar com o sentimento delas nesse processo de pandemia. Muito parecido com o de adultos. Isso para os pais em casa é muito difícil: lidar com crianças que não sabem lidar com o próprio sentimento”, explicou Luana Bezerra, educadora infantil.

Essa constatação levanta uma série de desafios para a elaboração de políticas públicas nesta área que não podem estar restritas somente às crianças, mas também ao olhar para as mães que se esgotam sem a rede de apoio e com os receios de enviar à escola, mesmo com o vírus ainda no ar. “Importante salientar as angústias, principalmente das mães: são as mais afetadas do ponto de vista de quem cuida. Elas ficam muito desesperadas. Elas pedem muita ajuda. Não só porque estão cansadas e exaustas, mas porque não sabem o que fazer”, reforçou Luana.

O descaso do governo Bolsonaro com as 600 mil vidas perdidas também se refletiu no cuidado com as crianças. A completa desorganização da gestão da pandemia, deixou as famílias vulneráveis à ansiedade, à longa espera da vacinação, confinando crianças sem uma política específica de amparo ou de orientação. As mulheres foram as que mais perderam seus empregos por conta da crise econômica e são as primeiras a serem atingidas, sendo privadas de sua autonomia financeira ou acumulando funções, mesmo as que conseguiram manter trabalhos remotos. A fatura da desumanidade afeta também as crianças que agora enfrentam enormes desafios para retornar à socialização e ao estágio de pleno desenvolvimento.

“Bolsonaro deixou o país em ruínas. Não há reconstrução do Brasil possível que não passe pelas mãos das mulheres, das mães trabalhadoras que lutam pela sobrevivência de sua família dia após dia. Nós, mulheres do PT, acreditamos que é possível reerguer esse país e construir um futuro melhor para nossas crianças”, finalizou Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT. 

Elas por Elas

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