Gilney Viana: A vitória da militância e a derrota da direção

Direção nacional do PT foi atropelada pela militância, que ignorou dubiedades da nota que admitia possibilidade de se votar em golpistas no Congresso

Tribuna de Debates do PT

(Fernando Frazão/Agência Brasil)

A militância petista falou diretamente aos senadores e deputados federais do PT: “Petista Não Vota em Golpista” para as eleições das mesas diretoras do Senado e da Câmara. A bancada dos deputados por unanimidade adotou essa orientação, a dos senadores liberou o voto, embora a maioria tenha declarado voto em branco.

Na Câmara, a maioria da bancada votou no candidato do bloco PT-PDT. As diferenças de posicionamento no Senado e as prováveis defecções na Câmara só atestam o grau de divergência interna em ambas bancadas, mas não diminui a grandeza da vitória da posição defendida pela militância.

A direção nacional do PT, mais uma vez, foi atropelada pela militância que simplesmente ignorou as dubiedades da nota aprovada no dia 20 de janeiro que admitia a possibilidade de se votar em golpistas para assegurar a participação proporcional do partido, como manda as normas, nas mesas daquelas casas.

Este episódio não se resume a diferenças de opinião sobre tática parlamentar. Pelo contrário, ela expressa uma divergência estratégica: de como enfrentar o golpe que derrubou a presidenta Dilma e instalou um regime de restrição aos direitos da cidadania e desconstrução das conquistas da classe trabalhadora.

A maioria do diretório nacional considerou uma questão interna ao Parlamento, o que é meia verdade, porque esqueceu que este Parlamento foi e é protagonista do golpe. Supervalorizou os cargos a que teríamos direito porque ainda está dominada pelas ilusões parlamentares e eleitorais e subestimou o impacto que isto teria para as lutas extra parlamentares, como as manifestações de rua contra o golpe (“Fora Temer”), as greves e a resistência sindical em defesa dos direitos ameaçados (“Nenhum Direito a Menos”) e a resistência cultural contra o obscurantismo e a luta popular contra o desmonte das conquistas sociais. Ignorou o sentimento da militância petista que mais sofreu e sofre com o golpe e busca na direção do partido e nos nossos parlamentares referências políticas, ideológicas e morais para continuar a luta – e muitas vezes não as encontra e se sente não representada.

Alguns e algumas da maioria chegaram a negar o impacto de gestos simbólicos (como aparecer votando em golpista), outros e outras desvalorizaram as manifestações da militância e apoiadores pelas redes sociais e, suprema alienação, não imaginaram que a maioria da militância petista pudesse ter uma posição tão assertiva contra acordos e votos em golpistas (por isto mesmo se surpreenderam com tantas manifestações de dirigentes e diretórios municipais e zonais e petistas dirigentes sindicais e de movimentos populares que, acreditavam controlar por lealdades de tendência, grupos, mandatos e pretensões eleitorais articulados pela maioria da direção).

Não é a primeira vez que a maioria da direção se vê em minoria no conjunto da militância e da bancada parlamentar federal. O caso mais escandaloso ocorreu no V Congresso – Segunda Etapa, quando essa maioria apoiou o ajuste fiscal de Joaquim Levy enquanto a maioria da militância petista, sindical e social e das bancadas parlamentares foram manifestamente contrárias.

O que mais preocupa é que essas posições políticas e posturas da maioria no presente não me parecem “autocríticas na prática” em relação a erros do passado (como querem nos fazer acreditar líderes da maioria) e, o que é mais grave, me parecem políticas e posturas equivocadas que pretendem continuar dirigindo o PT no futuro. Não por acaso essa posição política negada pela militância petista foi a primeira demonstração de força e arrogância do novo Acordão que acha que já ganhou o VI Congresso, sem combinar com a militância e os filiados. Começou mal, com derrota pública, revisão sem autocrítica e pretensão de hegemonia que não existe mais.

Por Gilney Vianasecretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, para a  Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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