Gleisi: “O que faz crescer um país é investimento, é distribuição de renda”

Em entrevista à GloboNews, presidenta do PT defende meta de crescimento de 4% em 2024 e faz balanço positivo do primeiro ano de governo Lula: “O governo foi muito bem, a gente faz entregas importantes para o país”

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Gleisi: "Essa política do BC foi uma das grandes responsáveis por não deixar o país crescer mais do que 3%

O governo federal não pode abrir mão de investimentos para alavancar o crescimento econômico em 2024 e alcançar um PIB acima de 4%, repetindo a média dos governos anteriores do presidente Lula. A defesa foi feita pela presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, nesta sexta-feira (22). Em entrevista à GloboNews, Gleisi falou sobre meta de crescimento, defendeu o fundo eleitoral, condenou o aumento de verbas para emendas parlamentares e fez um balanço positivo do primeiro ano do governo Lula.

O governo foi muito bem, a gente faz entregas importantes para o país”, ressaltou Gleisi. “Primeiro pela recuperação de todos os programas e projetos que o presidente já tinha desenvolvido em outras gestões, e a presidenta Dilma também: a retomada dos investimentos, dos programas sociais. Não tenho dúvidas de que foi isso, com a PEC da Transição, que ajudou o Brasil a crescer 3%”, avaliou.

“Temos de continuar nessa agenda de entregas”, afirmou. “A coisa mais importante que temos de ter como foco é fazer o país crescer ano que vem além do que crescemos nesse ano”, pontuou a petista. “No ano que vem tem de ser no mínimo 4%, que foi aquilo que o governo Lula cresceu em média quando ele governou o país nos dois primeiros mandatos”.

“Disseram que eu defendi déficit para crescer e isso não é verdade”, enfatizou a deputada. “O que faz crescer um país é investimento, são políticas de distribuição de renda”, declarou Gleisi, na conversa. “Falei para o ministro [da Fazenda] Haddad, acho que a meta com a qual nós devíamos nos comprometer é a meta do crescimento econômico”, reiterou.

Arrocho monetário

Gleisi também manteve o tom crítico ao arrocho monetário promovido pelo Banco Central, que insiste em manter em patamares “estratosféricos” a taxa Selic, hoje em 11,75%. “[Os juros] poderiam ter caído muito mais do que caíram, diante da inflação que nós temos”, criticou. “O teto [da meta] é de 4,75%, já estamos com uma inflação abaixo, a previsão futura é para baixar ainda mais, não justifica uma redução a conta-gotas como a que está sendo feita”, observou a petista.

“Essa política do Banco Central foi uma das grandes responsáveis por não deixar o país crescer mais do que 3%. Poderíamos crescer até 4% ou mais se tivéssemos uma política de juros melhor, uma política que ajudasse no desenvolvimento do país”.

“Para você ter uma ideia, 1% da taxa de juros equivale a R$ 60 bilhões, isso é mais do que o PAC que temos previsto para esse ano no orçamento. Então é muito perversa essa política de juros”, explicou. “Espero que no próximo Copom, a gente possa ter uma queda mais expressiva, que seja mais célere para que realmente a economia, que agora está mostrando uma desaceleração, possa voltar a crescer”.

Fundo Eleitoral

Gleisi fez uma defesa do Fundo Eleitoral para as eleições de 2024, reiterando que os recursos destinados, de cerca de R$ 4,9 bilhões, poderão contribuir para uma renovação do quadros políticos nos municípios. “Na eleição passada, em 2022, nós tivemos cerca de 30 mil candidatos que disputaram perto de 1.700 cargos. Em 2020, nós tivemos mais de 500 mil candidatos disputando cerca de 67 mil cargos. Não é uma eleição menor”, disse, após uma comentarista sugerir que os recursos eram exagerados.

“Estamos falando em eleição nos mais de cinco mil municípios brasileiros”, apontou. “Tem material de campanha, tem programa de rádio para ser produzido, onde tem geradora de TV tem programa de TV, tem redes sociais. É uma eleição com muito mais candidatos, muito mais capilaridade, e precisamos de recursos”, defendeu.

Ao criticar a drenagem de parte do orçamento federal para as emendas parlamentares, agora em R$ 53 bilhões, Gleisi fez uma comparação com o Fundo Eleitoral, que não chega a 10% do montante.

“O Fundo Eleitoral, quando aplicamos, dividimos entre todos os candidatos. Essa é a regra no nosso partido: incentivamos candidaturas de mulheres, de negros de jovens”, comentou.

“As emendas só servem a quem já está no mandato. Então, a possibilidade que temos de renovação no Congresso é pequena porque quem tem esse empoderamento dificilmente perde uma eleição. A bem da democracia, precisamos ter financiamento para gente nova poder entrar”, argumentou.

Emendas X PAC

Gleisi condenou ainda o fato de o aumento de recursos nas emendas se equiparar aos investimentos previstos no Novo PAC: cerca de R$ 55 bilhões. “Os investimentos do PAC são estruturantes, são pensados do ponto de vista do desenvolvimento do país, planejado por regiões, as emendas, não”, comparou.

“Eu não sou contra emenda parlamentar, o Congresso é legítimo para fazer emendas, não só no sentido de o parlamentar distribuir dinheiro mas também de ajudar nos projetos, fazer o debate de conteúdo do orçamento” esclareceu. “O que não pode é ter o mesmo tanto para um investimento de Estado e para emendas parlamentares pulverizadas, as emendas têm que ser complementares a programas”, justificou. “Isso é errado, depõe contra o parlamento brasileiro, nós vivemos em um sistema presidencialista”.

Fim da reeleição

Gleisi se manifestou contra o fim da reeleição, como tem sido ventilado no debate público. “Temos de ter o mínimo de previsibilidade nas regras, gente. Vocês lembram quando o Fernando Henrique [Cardoso] instituiu a reeleição? Aliás, de forma bem oportunista porque ele estava na Presidência da República e instituiu a reeleição para a sucessão dele, para ele ser candidato novamente”, lembrou Gleisi.

Depois que o PT começou a vencer as eleições, apontou a deputada, começaram a mudar o discurso. “Começaram “Ah, tem que rever a reeleição, não é bom o instituto da reeleição”. É ruim isso. Agora vai mudar de novo, por quê?”, indagou.

Da Redação

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