Golpe de Estado e “risco Bolsonaro” afugentam investimentos

Gastos em modernização e ampliação de estrutura de empresas listadas na Bolsa caíram desde o afastamento de Dilma Rousseff

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Queda de investimentos

Vendido como a “redenção” da economia brasileira, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff empurrou o país no abismo, e o fracasso da política do ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, sob o “risco Bolsonaro”, agrava a queda desestimulando investimentos. Além do sintoma mais evidente – o fechamento de fábricas tradicionais – a queda do investimento voltado para modernização e a ampliação das estruturas de companhias listadas na Bolsa brasileira se acelerou nos últimos anos.

A Economatica, empresa provedora de dados financeiros, analisou o comportamento de 221 companhias de capital aberto nos últimos dez anos. Segundo o estudo, tema de reportagem da ‘Folha de São Paulo’ de sábado (3), o desembolso, considerando a inflação, caiu de R$ 338 bilhões, em 2011, para R$ 272 bilhões em 2019, chegando a R$ 153 bilhões no ano passado.

Os pesquisadores consideraram os investimentos puros, como compra de maquinário, veículos e imóveis para modernização ou expansão. É o chamado capex, ou despesa com capital. Quando o índice resultante da relação entre capex e depreciação do patrimônio fica abaixo de 100%, o investimento é insuficiente para repor a perda de valor da empresa. Desde 2011, o indicador registrou uma retração de 130 pontos percentuais.

Os setores que mais reduziram o investimento em 2020 foram veículos e peças, agronegócio, telecomunicações, papel e celulose e petróleo e gás. “Quando todo mundo reduz esse tipo de investimento é sintoma de que algo está errado na macroeconomia, e não simplesmente no ciclo da empresa”, apontou Joelson Sampaio, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP).

“É preciso lembrar que investimento geralmente visa uma expansão com a previsão de determinado cenário econômico e, se esse crescimento não ocorrer, a empresa se ferra.”

Segundo a reportagem, em 2011, a relação estava em 219,5%, desacelerando desde então. Em 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada, ele chegou a 101%, caindo a 94% em 2017, sob o usurpador Michel Temer. No fim da gestão golpista, em 2018, passou para 109,3%, caindo para 91,1% no primeiro ano do desgoverno Bolsonaro. “Tivemos uma forte crise em 2015 e 2016 da qual nunca saímos”, afirma Sampaio.

Retração nos setores público e privado

Acompanhando os dados das Contas Nacionais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou retração não apenas no setor privado, mas também no público, comprometendo o ambiente de negócios de forma generalizada.

Um levantamento da Inter.B Consultoria mostra que, em 2020, os investimentos em infraestrutura no país somaram R$ 124,6 bilhões, o menor patamar desde 2007, quando foi de R$ 100,8 bilhões.

No caso da indústria, houve contração média anual de 1,6% nos últimos dez anos, acompanhada do aumento da capacidade ociosa, que levou a um processo de desinvestimento.

“Desde 2011, você tem uma indústria praticamente estagnada, com muitas, inclusive, largando o país. O fenômeno é simbolicamente representado pela saída da Ford”, afirma o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca. Em janeiro, a montadora americana anunciou que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil em 2021.

Levantamento feito pela CNI no início do ano mostrava que os empresários estavam otimistas com a possibilidade de superação da crise sanitária ao longo de 2021. O otimismo acabou em março, com o acirramento de contágios e mortes, a volta do isolamento e a demora na vacinação.

Diante das incertezas sobre o rumo da economia brasileira, os estrangeiros reduziram em mais da metade os investimentos diretos realizados no Brasil. Dados do Banco Central (BC) explicam que o Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 34,2 bilhões em 2020. Quinta maior queda do mundo, o resultado é o menor desde 2009 e é 50,5% menor que os R$ 69,2 bilhões que ingressaram no país em 2019.

O IDP representa os investimentos produtivos realizados por estrangeiros no país, como os investimentos fabris, e estão em queda desde meados do ano passado.

Os estrangeiros também retiraram US$ 8,5 bilhões de aplicações financeiras brasileiras em 2020. A saída foi 27% maior que a registrada em 2019, quando saíram US$ 6,7 bilhões das aplicações financeiras do país. E representa a maior retirada desde 2018, quando o país perdeu US$ 9,5 bilhões em investimentos estrangeiros.

Para André Castellini, consultor da Bain & Company, o país não cresce e o governo é malvisto em práticas ambientais, sociais e de governança. Isso é o que afugenta os investidores. É o “risco Bolsonaro”.

Da Redação

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