Governo admite desastre: desemprego pode chegar a 18,5% em 2021

Secretário de Política Econômica desmente Bolsonaro e Guedes e admite que índice deverá sofrer alta histórica no próximo ano. Segundo ele, isso ainda não ocorreu porque boa parte dos desempregados ainda não busca trabalho e, então, não constam das estatísticas oficiais

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Bolsonaro continua a empurrar o pais para desemprego recorde

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, cometeu um sincericídio nesta quarta (28). Em encontro virtual com representantes do banco Safra, ele descortinou o fenômeno estatístico que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, repetidamente camuflam sob números positivos de criação de vagas de emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério da Economia.

Segundo o Caged, setembro foi o segundo mês consecutivo com saldo positivo de vagas (249 mil). Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Covid), criada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mensurar os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho e a saúde dos brasileiros, aponta que a taxa de desemprego subiu de 13,6% em agosto para 14% em setembro, maior alta da série histórica.

Para tentar vender a ilusão da “recuperação em V”, Bolsonaro e Guedes exibem os números do Caged enquanto tentam desqualificar os da Pnad-Covid. Com isso, mascaram a realidade de que o número de pessoas sem emprego e sem perspectiva de trabalho cresce a cada dia, mas está represado pela distribuição do auxílio emergencial, que permite às famílias mais pobres irem sobrevivendo, mesmo sem renda própria. Sachsida mostrou, com sua fala, que o rei e seu conselheiro econômico estão nus.

“Muitas pessoas perderam emprego e não estavam procurando porque a cidade estava fechada. Então as pessoas estavam desempregadas, mas não apareciam na pesquisa. No ano que vem vai acontecer o oposto, o desemprego real vai cair, mas as variáveis vão subir”, afirmou o tecnocrata, sem, no entanto, explicar exatamente como o desemprego real vai cair.

“A economia reabre, as pessoas passam a procurar emprego, algumas vão encontrar e, por isso, o desemprego real cai. Mas, como tem mais gente procurando, a variável taxa de desemprego vai aumentar”, acrescentou um dos principais auxiliares de Guedes, atribuindo a distorção estatística à metodologia usada pelo IBGE.

A realidade dos números

Enquanto o Caged considera só os empregos com carteira assinada, por meio dos dados que as empresas enviam ao governo, a Pnad Contínua faz amostra de domicílios com dados de vagas formais e informais, domésticos, empregadores e demais modalidades, e segue recomendações internacionais ao considerar desempregado quem busca uma vaga.

Para o IBGE, uma pessoa desempregada é aquela que não só tem idade para trabalhar (acima de 14 anos) e não está trabalhando, como também está procurando emprego e tem disponibilidade para assumir um posto. Portanto, nem todo mundo que não está trabalhando está tecnicamente desempregado. A pessoa que perde o emprego e não procura trabalho não entra na conta dos desocupados.

Os técnicos do IBGE argumentam que o crescimento do desemprego ocorre em função tanto das pessoas que perderam suas ocupações quanto das pessoas que começam a sair do distanciamento social e voltam a pressionar o mercado de trabalho. Segundo eles, embora a demissão tenha sido massiva, a maioria que perdeu seu emprego caiu na inatividade.

Nessa equação ainda figuram 11 milhões de trabalhadores do mercado formal cujos contratos foram suspensos ou tiveram jornada e salários reduzidos durante a crise do coronavírus. Estes poderão engrossar as estatísticas do desemprego caso o patronato não recupere o fôlego após o fim, em 31 de dezembro, da vigência do estado de calamidade que justifica tanto o auxílio emergencial quanto a suspensão dos contratos de trabalho. Segundo Sachsida, essa foi uma das estratégias do governo para limitar o número de demissões no país.

Governo Bolsonaro é responsável pelas maiores taxas de desemprego já registradas no pais. Foto: Reprodução

Desemprego pode chegar a 18,5% em 2021

A expectativa das consultorias econômicas é de que a desocupação encerre este ano em 15% e continue subindo, até chegar a um pico de 18,5% no primeiro trimestre do ano que vem, atingindo 15,5 milhões de pessoas. A estimativa é que o desemprego só volte ao nível dos 11% – em que estava antes da pandemia – em 2022.

“Isso, num cenário em que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresça em um ritmo de 3,5% em 2021 e 2022″, ressalta Bruno Ottoni, da IDados. ”A desocupação ocorria em rimo lento, mas os dados de julho assustam. Uma recuperação antes de 2022 é pouco provável.”

Em julho, o total de pessoas ocupadas no Brasil havia caído para 85,9 milhões, e o de desocupados totalizou 87,6 milhões, piores índices da série histórica da Pnad. Pela primeira vez, os desocupados superaram o número de ocupados. Esse recorde inclui a soma dos desalentados (que desistiram de procurar emprego), número que teve alta de 15,3% no segundo trimestre do ano, chegando a 5,4 milhões de brasileiros e brasileiras.

Em três meses, a taxa de ocupação encolheu 8,3%, ou 7,8 milhões de pessoas. Em um ano, o total de postos extintos superou os 11,5 milhões. Mesmo segundo o Caged, o saldo acumulado de empregos formais até julho ficou negativo em 1,092 milhão de vagas, o pior desempenho para o período na série histórica do ministério, iniciada em 2002.

A informalidade também caiu, de 40,6% para 37,6%, mas isso não foi positivo. “Numericamente, nós temos uma queda da informalidade, mas isso não necessariamente é um bom sinal. Significa que essas pessoas estão perdendo ocupação e não estão se inserindo em outro emprego. Estão ficando fora da força de trabalho”, avaliou Adriana Beringuy, analista de pesquisa do IBGE.

Para a semana de 6 a 12 de setembro, a Pnad-Covid estimou em 82,6 milhões a população ocupada do país, com estabilidade em relação à semana anterior (82,3 milhões de pessoas) e queda em relação à semana de 3 a 9 de maio (83,9 milhões de pessoas).

A população ocupada e não afastada do trabalho, estimada em 77,2 milhões de pessoas, ficou estável em relação à semana anterior (76,8 milhões), mas aumentou frente à semana de 3 a 9 de maio (63,9 milhões). O nível de ocupação (48,4%) ficou estável frente à semana anterior (48,3%) e caiu em relação à semana de 3 a 9 de maio (49,4%). A taxa de informalidade (34,3%) ficou estável em relação à semana anterior (34,6%), mas recuou frente à semana de 3 a 9 de maio (35,7%).

Sem sinal de recuperação

A população desocupada (13,5 milhões de pessoas) ficou estável frente à semana anterior (13,0 milhões de pessoas) e cresceu em relação à semana de 3 a 9 de maio (9,8 milhões). Com isso, a taxa de desocupação (14,1%) para o período de 6 a 12 de setembro ficou estável em relação à semana anterior (13,7%) e cresceu frente à primeira semana de maio (10,5%).

A população fora da força de trabalho (que não estava trabalhando nem procurava por trabalho) era de 74,6 milhões de pessoas, mantendo-se estável em relação à semana anterior (75,0 milhões) e, também, frente à semana de 3 a 9 de maio (76,2 milhões). Nessa população, disseram que gostariam de trabalhar cerca de 26,0 milhões de pessoas (ou 34,9% da população fora da força de trabalho). Esse contingente caiu frente à semana anterior (27,3 milhões ou 36,4%) e à semana de 3 a 9 de maio (27,1 milhões ou 35,5%).

Cerca de 16,3 milhões de pessoas fora da força que gostariam de trabalhar e não procuraram trabalho, não o fizeram por causa da pandemia ou por não encontrarem uma ocupação na localidade em que moravam. Elas correspondiam a 21,8% das pessoas fora da força. Esse contingente caiu em relação à semana anterior (17,1 milhões ou 22,8%) e frente à semana de 3 a 9 de maio (19,1 milhões ou 25,1%).

Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), afirma que os dados do IBGE mostram uma continuidade na deterioração do mercado de trabalho. “O que me surpreendeu foi que não houve qualquer sinal de recuperação ou de desaceleração da piora do mercado de trabalho pela Pnad Contínua”, comentou o economista.

Segundo ele, a Pnad Covid não dá qualquer indicativo de recuperação do mercado de trabalho. “Ou seja, as pessoas estão percebendo que, apesar do relaxamento das restrições, ainda não há nenhuma grande recuperação da economia e do emprego. Mas isso vai coincidir com a redução ou o com fim do auxílio emergencial, o que vai fazer com que muita gente volte a procurar emprego e isso vai pressionar bastante a taxa de desemprego”, avaliou.

Sobre a discrepância dos números de o desemprego no país, Duque alerta para a possibilidade de subnotificação das demissões no Caged, o que pode estar inflando os dados positivos.

Na avaliação do especialista, empresas podem ter fechado ou “hibernado” durante a crise, sem notificar o governo sobre as dispensas. Por outro lado, as companhias que mantiveram as atividades reportaram as contratações no período.

“Há um grande descompasso entre a Pnad e o Caged. A queda de empregos com carteira assinada na Pnad entre maio e junho foi de 1 milhão de empregos. No Caged, a redução foi de 11 mil. Isso não faz muito sentido. Mesmo com uma ou outra defasagem, não é o normal ter uma discrepância tão grande. Isso levanta algumas hipóteses, como o atraso no registro dos desligamentos”, aponta o pesquisador.

Da Redação

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