Imprensa internacional repercute a prisão política de Lula

Os veículos destacam a perseguição política ao ex-presidente em uma acusação sem provas e criticam o sistema judiciário do país

Ricardo Stuckert

Lula nos braços do povo em São Bernardo

O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o ato ecumênico em homenagem ao aniversário de sua esposa Marisa Letícia, em frente a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na manhã deste sábado 7, foi destaque na imprensa de todo mundo. Jornais internacionais cobriram in loco a comoção popular e o xadrez quem envolvia a rendição do ex-presidente à Polícia Federal.

O assunto está nas primeiras páginas de jornais e é um dos principais temas das agências internacionais de notícias. A foto de Lula, cercado por uma multidão em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tirada por Francisco Proner, foi distribuída pela Reuters para todo o mundo e reproduzida em jornais influentes, como o inglês The Guardian e o canadense The Globe and Mail.

Os veículos destacam a transformação de Lula em preso político e a desconfiança e criticam o sistema judiciário do país. O material produzido pelas principais agências de notícia AP, Reuters, Bloomberg, AFP, EFE, DW e Prensa Latina  ganhou o mundo.

O americano The New York Times traz longa reportagem em que afirma: “Sua prisão é uma reviravolta ignominiosa na notável carreira política de Lula, filho de trabalhadores rurais analfabetos que enfrentou os ditadores militares do Brasil como líder sindical e ajudou a construir um partido reformista de esquerda que governou o Brasil por mais de 13 anos”.

O americano Washington Post destaca em foto Lula sendo levado nos braços do povo no berço do sindicalismo brasileiro. A prisão “intensificou o drama político na maior nação da América Latina”, afirma o jornal, lembrando a frase do ex-presidente Barack Obama, que chamou Lula de “o político mais popular da Terra”.

O inglês The Guardian reproduz a foto distribuída pela Reuters com Lula cercado pela multidão e destaca que o ex-presidente promete provar sua inocência.

O site russo Sputnik reporta que Lula cumpriu o mandato de Moro, e reitera que a Justiça não apresentou provas e que o ex-presidente é líder inconteste nas pesquisas de opinião para voltar ao poder nas eleições previstas para este ano. “A direita brasileira joga com fogo”, destaca.

A emissora de TV Russia Today destacou no final da noite que Lula acabou com o impasse e se entregou à polícia. A reportagem aponta que, em discurso, Lula afirmou: “Quanto mais dias eles me deixarem (na cadeia), mais Lulas nascerão neste país”. A multidão gritou: “Libertem Lula!”.

Na Argentina, o jornal Clarín destacou em manchete de primeira página, que Lula já está em Curitiba. Outro jornal argentino, o Página 12, aponta que a detenção de Lula é um segundo golpe que o país vive, e que, durante todo o dia, o líder do PT recebeu o apoio e solidariedade de milhares de militantes e simpatizantes.

Ele falou à multidão, onde disse que o único crime que cometeu “foi tirar milhões da pobreza” e que o golpe que começou com a deposição de Dilma Rousseff terminou com a decisão de impedi-lo de ser candidato à Presidência. Também o La Nación destacou em primeira página que Lula já está na sede da PF em Curitiba, onde cumprirá sua pena.

Agências internacionais

Matéria da AP, reproduzida em 10,6 mil sites noticiosos, relatou trecho do discurso: “Lula disse que sua condenação por corrupção era simplesmente uma maneira de os inimigos garantirem que ele não fugisse – e possivelmente vencesse – as eleições presidenciais de outubro”.

Reportagem da AFP aponta-o como favorito da eleição presidencial de outubro. O despacho destaca que “Lula se considera vítima de uma trama da elite para impedir que concorra a um terceiro mandato”. O jornal traz declaração forte do ex-presidente: “A obsessão deles é ter uma foto do Lula prisioneiro”, disse. O material foi replicado por 3,7 mil veículos de imprensa no mundo.

A agência espanhola EFE, em despacho divulgado no final de sábado, destaca trecho do seu discurso em que confessou ter cometido um delito. “Eu cometi um crime: trazer os pobres para a faculdade, o que lhes permite comprar carros, eles têm alimentos”. “Serei um criminoso pelo resto da minha vida”.

Texto, vídeo e fotos foram reproduzidos em 2.590 sites e veículos noticiosos em todo o mundo.

Texto da Reuters, com a foto de Lula cercado pela multidão de simpatizantes e militantes de esquerda no pátio do sindicato onde começou sua vida política, foi reproduzido em dezenas de sites de notícias. A reportagem aponta que Lula se entregou à polícia, acabando com o impasse, no início da noite de sábado.

Segundo a agência, “a prisão de Lula remove a figura política mais influente do Brasil, líder da campanha presidencial deste ano”. O despacho da agência foi reproduzido por 2.480 sites e jornais, inclusive o The New York Times.

A Deutsche Welle, agência alemã publicou: “Vários pedidos para permanecer em liberdade até o final do apelo foram negados”, relata a agência alemã. “Lula também pediu ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra uma liminar para evitar a detenção”.

Jornais europeus

O diário espanhol El País deu manchete de primeira página, destacando no título trecho do discurso do ex-presidente: “Não sou um ser humano mais. Eu sou uma ideia. E as ideias não se encerram”.

O jornal francês Le Monde, por exemplo, em editorial na edição de sábado avalia que a Justiça brasileira terá que provar ao mundo que sua mobilização contra a corrupção é capaz de atingir também a outros grupos políticos. “A Operação Lava Jato deve demonstrar ao país que a prisão de Lula não é um ato político”, aponta o editorial.

“A prisão daquele que continuará sendo um dos dirigentes mais marcantes da história do país não significa o fim dos processos. (…) A Lava Jato precisa ter a mesma severidade com outros caciques de partidos do centro e da direita”. E cita o ex-presidenciável tucano Aécio Neves, “suspeito de corrupção passiva e obstrução da justiça”, estranhando que “seu caso ainda não foi examinado pela Suprema Corte”.

Em reportagem da correspondente Claire Gatinois, o Le Mondedestacou que Lula cumpriu o mandado, abrindo a notícia com a declaração do ex-presidente para “uma multidão em lágrimas” de que “podem matar um combatente, mas a revolução continua”. “Ofegante e animado”, descreve a jornalista, “o velho confirmou a sua rendição”.

O tradicional jornal Liberation questionou em sua edição de domingo se a ida de Lula para prisão poderia ser interpretado como “um golpe de misericórdia na esquerda latina”.

O jornal L’Humanité aponta um “golpe judicial e militar contra Lula”. “O Supremo Tribunal do Brasil rejeitou na quarta-feira a libertação do ex-presidente Lula, que é o candidato presidencial em outubro. Contra o pano de fundo das ameaças do exército”, resume. O também francês Le Fígarodestacou que Lula anunciou que aceitava a sua prisão, mas a matéria ressalta que ele contestou as acusações que pesam contra si e disse que vai provar que seu julgamento é um “crime político”.

O português Diário de Notícias, em reportagem do correspondente João Almeida Moreira, destacou que o último dia de liberdade de Lula, poderia ser de tristeza, com sua despedida e a missa em memória da sua falecida mulher como panos de fundo. Mas se tornou uma festa, com direito a set list escolhida pelo ex-presidente: “Asa Branca” e “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, “Apesar de Você”, de Chico Buarque, e o samba “Deixa a Vida me Levar”, de Zeca Pagodinho.

A matéria reproduz trechos do discurso de Lula – “Eu não sou um ser humano, eu sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula, eles acham que tudo o que acontece nesse país é responsabilidade do Lula, agora eu responsabilizo vocês” – e diz que o petista também citou Martin Luther King.

Na Bélgica, a RTBF manteve flashes sobre Lula e a sua iminente prisão, durante a programação de sábado.  Foram quatro destaques sobre o líder brasileiro, a última reportagem apontando que o petista foi impedido de se entregar à polícia pelos simpatizantes.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações de CartaCapital

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