Inflação de Guedes faz brasileiro deixar produtos básicos no supermercado

Corrosão da renda é tão grande que até itens como leite, óleo de soja, açúcar e farinha de trigo são largados na boca do caixa. Alimentos continuam subindo acima do IPCA

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O efeito Bolsonaro-Guedes: brasileiros são humilhados nos supermercados com alta dos preços

Castigadas pelo desastre econômico do desgoverno Bolsonaro, com desemprego, inflação e juros em dois dígitos, cada vez mais famílias vêm sendo expostas à humilhação de deixar compras no carrinho do supermercado por não terem como pagar. Agora, além dos supérfluos tradicionalmente largados na boca do caixa em tempos de carestia, as famílias começam a deixar para trás também produtos essenciais da cesta básica.

Levantamento da Nextop, empresa especializada em tecnologia de segurança de varejo e prevenção de perdas, aponta que 4,997 milhões de itens foram abandonados nos carrinhos entre janeiro e junho deste ano. O volume é quase 16,5% maior que o do primeiro semestre do ano passado. São 704,9 mil itens a mais barrados na boca do caixa, revela pesquisa inédita feita a pedido do jornal O Estado de São Paulo.

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“Um crescimento de 16,42% na quantidade de itens abandonados é altíssimo e reflete que muita gente deve estar tomando susto”, comenta Juliano Camargo, CEO e fundador da Nextop. Embora não haja uma série histórica longa dos dados, Camargo, com 25 anos de experiência no setor, acredita que a quantidade de itens devolvidos na boca do caixa não teria aumentado, caso a inflação de alimentos estivesse controlada.

No Brasil de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, os bancos vão muito bem, acumulando lucros recordes ao longo dos anos. Já as famílias são obrigadas a conviver com uma inflação de alimentos de 9,83% neste ano até julho. No acumulado em 12 meses, a alta é de 14,72%, contra inflação geral de 10,07% registrada no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Em julho, enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou queda de 0,68% no IPCA, “tirada da cartola” com os cortes de impostos nos combustíveis e na eletricidade, a inflação do grupo alimentação acelerou. A carestia subiu de 0,80% em junho para 1,30% em julho. Para não perder vendas, os supermercados resolveram apelar para a “xepa” antes descartada.

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“Encalhe” nos mercados reduz encomendas à indústria

Os pesquisadores da Nextop levantaram informações do movimento de caixa de 982 supermercados de médio e pequeno porte de todo o país, incluindo estabelecimentos que atendem a todas as faixas de renda. Entre os supérfluos, refrigerantes, cervejas, molhos, biscoitos, hambúrguer e bebida láctea estão entre os mais descartados. Quatro itens da cesta básica também estão na lista: leite, óleo de soja, açúcar e farinha de trigo.

Leite, óleo, cerveja e biscoito estão entre os dez que registraram as maiores quedas nas vendas no varejo de autosserviço no primeiro semestre deste ano, conforme levantamento da NielsenIQ. Leite, café, óleo, carnes e biscoitos também são os que mais registram altas de preços nos últimos meses. Só o leite acumula alta de 57% este ano.

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“O carrinho que fica está refletindo a inflação e pega pobres e ricos, com itens básicos e supérfluos”, observa Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar). “O tamanho da pilha de produtos deixados no caixa pelo consumidor é a medida concreta do tamanho da crise que vivenciamos hoje”, conclui.

Segundo o economista, a situação causa um efeito em cascata na cadeia de abastecimento. Produtos que “encalham” são repostos a velocidade e volume menores, travando o ritmo de produção e atividade das indústrias. “Hoje o nível de estoques dos supermercados é o mais baixo dos últimos anos”, aponta Felisoni.

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O comportamento atinge gente como a aposentada Maria do Carmo Azevedo, que ganha um salário mínimo e faz bico como diarista. Ela confessa ficar constrangida quando isso ocorre. “Já aconteceu isso algumas vezes por eu ter feito conta errada e também por me surpreender com os preços: hoje é um e amanhã é outro.”

Mas até pessoas como Juliana Gomes Rosa, que trabalha no mercado financeiro e nunca teve de devolver produto no caixa, são obrigadas a modificar a atitude. “Tenho deixado de escolher coisas que gostaria de comprar”, admite. “Toda essa situação não impacta só as compras: é a viagem, a escola. Tudo isso a gente tira para poder se alimentar.”

Da Redação

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