‘Isolamento vertical’ de Bolsonaro é descarte dos idosos

De acordo com o Dieese, 24,9% dos domicílios no Brasil têm pessoas de 60 anos ou mais, que contribuem com mais de 50% da renda domiciliar. A constatação dessa realidade deveria levar o governo a adotar cuidados especiais no tratamento dos idosos diante da pandemia. Mais do apenas tentar aplicar uma política higenista, ou seja, de exclusão de parcela da população

Wôlmer Ezequiel

24,9% dos domicílios no Brasil têm pessoas de 60 anos ou mais, que contribuem com mais de 50% da renda domiciliar.

A combinação das teses da “imunidade de rebanho” com o “isolamento vertical”, defendidas por Bolsonaro, é a mais recente manifestação do preconceito contra os idosos do país. Em seus ataques aos isolamento social, Bolsonaro defende a segregação dos idosos, como se fossem descartáveis.

De acordo com a pregação de Bolsonaro, trancafiados em casa, os idosos estariam “protegidos” da exposição a ação mortal do vírus. Uma inverdade flagrada pela forma de convivência das famílias brasileiras e pelo papel social e econômico desempenhados pelos idosos.

A tese defendida por Bolsonaro mostra ignorância, desconhecimento ou má-fé em relação à realidade da população idosa do país. Pesquisa divulgada em abril (8) pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) mostrou que 10,53% da população brasileira têm 65 anos ou mais, ou seja, mais de 20 milhões de pessoas.

Os idosos, por outro lado, são referência ou chefes de família de 19,3% dos domicílios brasileiros.  De acordo com o Dieese, 24,9% dos domicílios no Brasil têm pessoas de 60 anos ou mais, que contribuem com mais de 50% da renda domiciliar. Somente 9% não ajudam com as despesas familiares.

Não bastasse a propaganda enganosa, desmentida por dados da FGV e do Dieese, estudos internacionais evidenciam a maior fragilidade dos idosos ao Covid-19. A constatação dessa realidade, no caso do Brasil, deveria levar o governo a adotar cuidados especiais no tratamento dos idosos durante a pandemia. Mais do apenas tentar aplicar uma política higenista, ou seja, de exclusão de parcela da população.

Maior risco, mais cuidado

É isso que mostra um estudo realizado com pacientes idosos em Nova York. Segundo o estudo, o acesso aos melhores tratamentos, em especial a respiradores, não impediu a morte de 39% dos casos mais graves. O estudo partiu de um universo de 40 mil pacientes acometidos por Covid-19, e internados entre os dias 2 de março e primeiro de abril.

Destes, 1.150 foram internados em dois hospitais ligados à Universidade de Columbia, responsável pela avaliação. Dos 1.150, 257 pacientes se encontravam em estado grave, com idade média de 63 anos. De acordo com o estudo, apesar de todos terem sido colocados em respiradores, 39% morreram, enquanto outros 37% continuaram hospitalizados nos hospitais de Milstein e Allen.

O levantamento indica que idade é o maior fator de risco perante a Covid-19, principalmente se o quadro estiver agravado por doenças crônicas relativamente comuns nessa faixa etária, como hipertensão, diabetes, obesidade e problemas cardíacos. No caso das pessoas com mais de 80 anos, 80% das pessoas, mesmo com uso de respiradores, não sobreviveram. A taxa de mortalidade coincidiu com situações semelhantes verificadas na China e na Europa.

No caso do Brasil,  69% das mortes por COVID-19 ocorrem entre as pessoas com mais de 60 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Em países como Itália e Espanha, 95% dos óbitos ocorrem entre os maiores de 60 anos. A diferença se deve à pirâmide populacional do Brasil, onde 13,6% dos brasileiros têm mais de 60 anos, frente a 25% dos espanhóis e 28% dos italianos.

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