Júlio Miragaya: “Lula, a Bolsa e o salário mínimo”
“Não pode o interesse econômico de um punhado de investidores bilionários substituir a vontade dos brasileiros”, afirma
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Ao escrever este artigo, ainda não havia sido concluído o julgamento do ex-presidente Lula no 4º TRF. Mas se algum leitor ainda não souber seu resultado, não precisa ir às páginas de política: basta conferir a abertura do pregão da Bolsa/SP. Se em forte elevação, Lula teve a condenação confirmada.
A manchete de um jornal: “O mercado quer 3X0”, é a expressão da inaceitável captura da justiça pelo mercado, deixando claro que este não aceita Lula na disputa presidencial, pois ele seria ameaça a continuidade da agenda de reformas pró-mercado.
Em entrevista ao mesmo jornal (sob a condição do anonimato), o presidente de um banco europeu, respondendo à pergunta sobre Bolsonaro, revelou que “qualquer coisa é melhor que Lula”.
Ora, o Brasil não é o mercado. Não pode o interesse econômico de um punhado de investidores bilionários substituir a vontade dos brasileiros. Mas o mercado já decidiu que o próximo presidente deve seguir com a agenda de reformas liberais de Temer/Meirelles/Maia, mantendo no porão a agenda social. Um exemplo cabal (e cruel) dessa opção foi a fixação do salário mínimo em R$ 954,00, reajustado em míseros 1,81%, o que sequer repõe o INPC (2,06%) ou o IPCA (2,94%).
Trata-se do menor reajuste do SM em 78 anos, desde sua instituição em 1940. Dezessete reais compram 1 kg de coxão duro ou ½ kg de queijo prato. Significa que os 50 milhões de brasileiros que recebem o SM terão R$ 220,00 a mais em 2018. À título de comparação, a Oxfam divulgou que a fortuna de 43 bilionários brasileiros alcançou R$ 549 bilhões, aumento de R$ 65 bilhões sobre 2016, ou R$ 1,5 bilhão a mais para cada um.
No Brasil, cerca de 500 mil pessoas aplicam na Bolsa e no mercado de câmbio, ao passo que metade da população (100 milhões) vive com o Salário Mínimo. O mercado sabe que são esses que decidem uma eleição e lembra que no governo Lula, o SM teve aumento real de 53,6%. Precisa dizer mais alguma coisa?
Por Júlio Miragaya, conselheiro do Conselho Federal de Economia e presidente da Associação Nacional das Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística