Legado de Chico Mendes, reserva que leva seu nome completa 30 anos sob ameaça

Em relação a 2018, número de queimadas na Resex Chico Mendes cresceu 340% em 2019, e o desmatamento subiu 305%

Divulgação

No dia 12 de março a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes completou 30 anos. Essa modalidade de área protegida, incluída no rol de unidades de conservação, e é um dos grandes legados da luta do líder seringueiro morto em 22 de dezembro de 1988. No entanto, como boa parte da Amazônia brasileira, ela também está em risco em um contexto de aumento da devastação ambiental.

Relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em fevereiro mostra que o Acre, estado em que fica a reserva, foi o segundo da região amazônica com maior aumento de desmatamento em 2019, comparando-se com 2018. A pesquisa destacou os efeitos das queimadas, que, além dos prejuízos relativos à biodiversidade, agravam as emissões de gases de efeito estufa e causam problemas de saúde para a população local.

No ano passado, foram 180.209 ha (1802 km2 ), aproximadamente 80% a mais do que no ano de 2018. Deste total, 14% foram em unidades de conservação. O município de Brasiléia, 5º entre os mais afetados e uma das cidades que abriga parte da Resex Chico Mendes, perdeu uma área de 13.125 ha, com 60% das queimadas ocorridas em em unidades de conservação.

Mas quando falamos especificamente da Reserva Extrativista que leva o nome do líder trabalhista, o cenário é ainda pior. O número de queimadas em 2019 cresceu 340% em relação a 2018, passando de 4.958 ha para 16.847 ha, aponta a professora da Universidade Federal do Acre e doutora em Ciências Florestais Tropicais pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Sonaira Souza da Silva, uma das autoras do estudo. O desmatamento foi de 2.474 ha para 7.541 ha, elevação de 305% de um ano para o outro.

Sonaira também revela outro dado ainda não publicado, a respeito dos ramais abertos em meio a floresta, caminhos feito a partir de outros já existentes. “A Resex tem 1.120 km de ramais visíveis em imagens de satélite Landsat em 2019. Desde o último mapeamento de ramais do governo do Acre, em 2014, a extensão aumentou 203%”, pontua. “Isso é muito para uma reserva extrativista. É como ir de Rio Branco a Cusco (Peru).”

Ataques do governo e do Legislativo

 

Entre os fatores que explicam esse aumento, Sonaira aponta o enfraquecimento das cadeias econômicas da floresta, e com isso falta de valorização da floresta em pé e a pressão econômica da pecuária. Aspectos agravados pelo discurso e posicionamento no âmbito político tanto do governo federal quanto do governo estadual (comandado por Gladson Cameli).

Em novembro de 2019, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se reuniu com cinco infratores ambientais, entre eles um ex-procurador-geral do Acre acusado de abrir uma estrada ilegal dentro da Resex Chico Mendes, uma pessoa sentenciada na justiça criminal por desmatamento e uma fazendeira que tinha um haras em unidade de conservação. Após o encontro, o governo federal suspendeu a fiscalização dentro da unidade de conservação.

Também presente na reunião estava a deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC), autora do Projeto de Lei 6.024/2019, que pretende reduzir a área da Resex Chico Mendes. Em resposta a mais essa ameaça, uma campanha foi lançada em 11 de março, na Câmara dos Deputados, em defesa das reservas extrativistas. Já em Brasiléia, no dia 12, 400 moradores da Resex protestaram contra a proposta.

“A luta continuará. Por nenhum palmo de terra a menos. Todos os companheiros estão super atentos a todas as falas e isso mostra que estão preocupados e se unindo cada vez mais em favor da importância que a Resex tem para nós. Aqui estão pessoas que fazem parte da história dessa luta desde o seu início até representantes da juventude, e a nossa mensagem é a de que não aceitamos em hipótese nenhuma que esse projeto seja aprovado”, disse a liderança de um grupo de jovens denominados “Protagonistas das Resex” Ronaira Barros, segundo o portal AC24horas.

Por Rede Brasil Atual

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