Lula: “É irresponsabilidade manter a taxa de juros a 13,75%”

Em entrevista ao site Brasil 247, o presidente diz que não há explicação para a política do Banco Central, que prejudica a economia do país

Ricardo Stuckert/PR

Apesar da irresponsabilidade do Banco Central, Lula acredita na capacidade do governo de melhorar a economia: "Eu tenho essa obsessão" (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Na entrevista que concedeu nesta terça-feira (21) ao site Brasil 247 (assista abaixo), Lula voltou a criticar o patamar atual da taxa básica de juros, a Selic, mantida pelo Banco Central em 13,75% desde agosto de 2022. 

Segundo Lula — e também inúmeros economistas, incluindo o ganhador do Nobel Joseph Stiglitz —, o índice sabota a economia brasileira, prejudicando o crescimento e a geração de empregos no país.

“É irresponsabilidade do Banco Central manter a taxa de juros a 13,75%”, disse o presidente, lembrando que a inflação brasileira não é causada por excesso de demanda, o que poderia justificar a política do BC. “Então, não há nenhuma explicação, nenhuma lógica”, afirmou. 

E completou: “Só quem concorda com os juros altos é o sistema financeiro, que ganha muito dinheiro. As pessoas sérias que trabalham, os empresários que investem sabem que não está correto. Ninguém consegue tomar dinheiro emprestado a 13,75%, a um juro real de 8% se você descontar a inflação”.

O presidente disse ainda que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, nomeado por Jair Bolsonaro, não tem compromisso com a própria lei que determinou a autonomia da instituição. 

“A lei diz que é preciso fazer política monetária cuidando não só da inflação, mas também do crescimento de emprego. Então, eu vou continuar brigando para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para a economia voltar a ter investimento”, argumentou.

Os planos do governo

Porém, mesmo diante da irresponsabilidade do Banco Central, o governo trabalha para que o Brasil volte a gerar empregos e renda para os trabalhadores. 

“Nós vamos fazer a economia voltar a crescer”, garantiu Lula, dizendo ter como meta desmentir as previsões de baixo crescimento nos próximos anos, feitas por instituições como o FMI. 

“Esse é um dos objetivos porque, se não, você não consegue gerar emprego, fazer a distribuição de riqueza e de renda nem fazer o povo ficar alegre. Então, eu tenho essa obsessão, mas não espero fazer nada com a rapidez que não possa ser feita.” 

Os planos do governo, explicou, são estabelecer uma política de financiamento com os recursos públicos disponíveis, retomar as parcerias público-privadas (PPPs) e utilizar os bancos públicos para oferecer crédito a grandes, médios e pequenos empreendedores e cooperativas. “Tudo isso já está voltando.”  

Ele explicou que os 100 primeiros dias do governo estando servindo para retomar programas importantes que haviam sido abandonados, como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e a política de vacinação, entre outros. 

“A partir dos 100 dias, nós vamos mostrar outras coisas que faremos, sobretudo trabalhar fortemente para recuperar o poder aquisitivo também da classe média brasileira. Não só melhorar a questão do imposto de renda, mas também estabelecer um sistema habitacional para essa gente”, antecipou.

Responsabilidade fiscal

Questionado sobre por que a proposta de nova regra fiscal, que vai substituir o teto de gastos, ainda não foi enviada ao Congresso, Lula esclareceu que era preciso discutir o tema de maneira mais aprofundada e que o anúncio será feito depois que ele e sua equipe retornarem da viagem à China, que se inicia no próximo sábado (25).

“A gente não tem que ter a pressa que algumas pessoas do sistema financeiro querem. Nós precisamos saber o seguinte: nós vamos fazer o marco fiscal e eu quero mostrar ao mundo que eu tenho responsabilidade”, explicou.

E lembrou que agiu com extrema responsabilidade no seus dois primeiros mandatos, eliminando a dívida externa, reduzindo a dívida pública interna, controlando a inflação, fazendo superávit primário e construindo uma reserva de US$ 270 bilhões que sustenta o país até hoje.

“Não preciso que venha um banqueiro me cobrar responsabilidade”, frisou, lembrando que bancos estrangeiros que, até o ano passado, davam palpite sobre a economia dos países estão quebrando e sendo socorridos pelo Estado de suas nações.

“Eu posso fazer uma dívida com algo que tenha rentabilidade, tenha recebíveis garantidos. Posso aumentar a infraestrutura desse país, posso fazer uma dívida para fazer uma ponte, uma ferrovia, um aeroporto. O que não posso é gastar à toa. Vender a Petrobrás, a Eletrobrás para pagar juros da dívida interna, isso sim é irresponsabilidade”, analisou.

E deixou claro que o novo marco fiscal não vai comprometer os investimentos sociais como ocorreu com o teto de gastos: “Precisamos fazer as coisas com muito cuidado porque não pode faltar recursos para saúde, para educação”.

Estatais

As estatais brasileiras foram outro tema abordado na entrevista. Lula chamou a venda de ações que tirou do Estado o controle da Eletrobrás um “crime de lesa-pátria”. “Você privatizou uma empresa daquele porte e usou o dinheiro para quê? Os R$ 36 bilhões foram para pagar a dívida pública. E não existe sinal de que vai baixar o preço da energia”, criticou.

“E ainda fizeram uma coisa absurda. Embora o governo tenha 40% das ações, ele só participa da votação com 10%. Se o governo quiser comprar ações, tem que pagar o triplo do preço que paga uma empresa comum. Ou seja, foi feito para proibir a gente de tomar ela de volta”, denunciou. 

O presidente afirmou, então, que esse crime “não vai ficar por isso”. “Já entramos na Justiça contra o peso do governo nas votações e contra o preço das ações para o governo. É uma situação difícil, mas espero que um dia, se a gente tiver condições, a gente volte a ser o dono da maior empresa de energia do país.” 

Quanto à Petrobrás, Lula informou que o novo presidente da empresa, Jean Paul Prates, foi avisado de que é preciso suspender todas as vendas de ativos. “Obviamente que já tinham feito contratos com algumas coisas e há uma questão jurídica que vamos tentar resolver. Mas, de qualquer forma, a gente vai fazer com que a Petrobrás volte a ser uma grande empresa de investimento neste país. Ela não pode ser uma empresa só de óleo cru, só para distribuir lucro para acionistas.”

Da Redação

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