Marcio Macedo: Bolsonaro: jogador de pôquer ou de roleta russa?

“Como chefe da nação, estadista, ele foi o que ele é, medíocre, pouco preocupado com o conjunto da população, com as presentes e futuras gerações”

Arquivo pessoal

Marcio Macedo

Depois de rever com muita atenção o pronunciamento de Bolsonaro, de ver a cobertura jornalística, os comentários, as análises políticas e sanitárias de diversas matrizes políticas, ideológicas e científicas, fiquei ainda mais perplexo.

Por que Bolsonaro fez aquele pronunciamento? Por quê?

Porque é um psicopata, irresponsável e não tem qualquer condição de ser o líder da maior democracia dos trópicos, da maior economia do cone sul? E não tem autoridade política e ética pra liderar um país continental como o nosso num momento de crise como esse? É bem provável.

Porque Trump, seu líder inspirador, tem uma posição parecida com a que ele reverberou? É possível.

Poderia ser pela evidente mudança de linha editorial da globo? Pode ser.

A imprensa ensaiando um discurso preocupado com uma saída para crise, com alcance social, com preservação da economia, tomando-lhe, eventualmente, o discurso que, em tese, seria seu, para depois o responsabilizar pela quebra do país e expor o total fracasso do projeto neoliberal entreguista de Bolsonaro/Guedes/Moro? É bem factível.

A impopularidade alta, os crimes de responsabilidade praticados e evidenciados, os ataques às instituições democráticas que culminam com um processo crescente de possibilidade de impeachment do chefe do clã dos Bolsonaro? É crível.

Bolsonaro parece ter percebido a possibilidade desses movimentos e se antecipou. Percebeu rápido que o cenário mundial pode mudar e alinhou o seu relógio ao de Trump. Criou um fato político.

Queria ele sinalizar para uma suposta base social a ser reconquistada e/ou conquistada de grandes e médios empresários, comerciantes, pequenos empreendedores, vacinando-se de uma futura quebra de negócios, fechamento de empresas, pequenos e micro negócios, perda do comércio, mercadorias e desemprego em alta escala? É presumível.

Bolsonaro está lendo os fatos a seu modo, irresponsavelmente, é bem verdade, com o povo e com a nação. Mas fazendo política, falando para pessoas que já estão vivendo a realidade das perdas com a paralisação da economia. O ambiente social poderá ficar rapidamente difícil e o vírus do desespero é tão rápido e letal quanto o coronavírus. Ele está jogando combustível nesse fogaréu. Ele aposta que o desespero coletivo possa levar o povo às ruas para apoiá-lo, inclusive com medidas de endurecimento do sistema.

Bolsonaro, no seu pronunciamento, antecipou-se em apontar os possíveis culpados por uma provável queda da atividade econômica: a imprensa, os governadores e prefeitos que estão protegendo as fronteiras, bloqueando estradas, monitorando aeroportos e portos, fechando o comércio. Para assim, esconder o total fracasso do seu desastroso governo.

Bolsonaro está transferindo a responsabilidade para outros, da cobrança que fatalmente chegará a ele nos próximos dias quando não houver salário, quando as contas chegarem para serem pagas e as pessoas não tiverem dinheiro para efetuá-las, quando a revolta popular aparecer. Bolsonaro vem ensaiando esse discurso, testando os limites da sociedade, usando o método científico de tentativa e erro. No pronunciamento à nação, definitivamente, verbalizou, sem arrodeio, em cadeia de rádio e televisão. Apostou alto.

Bolsonaro sinaliza para o imaginário coletivo que ele se preocupa com a economia, com o desenvolvimento do país, com o emprego, com a fome do pobre, com os pequenos, médios e grandes empresários. Menospreza o coronavírus, sua proliferação e as consequências para a sociedade. Que é um super homem pronto para enfrentar o vírus e proteger a sua gente e o seu país. Trabalha para ganhar o senso comum. Um blefador no jogo de pôquer.

Bolsonaro foi treinado para guerra, só sobrevive no conflito, não tem nenhuma preocupação com as pessoas, com o país. Agiu como o animal político que o orienta, como os fascistas fazem para se manter no poder.

Como chefe da nação, estadista, ele foi o que ele é, medíocre, pouco preocupado com o conjunto da população, com as presentes e futuras gerações. Ele está se movimentando no tabuleiro político para se manter no poder, derrotar os setores democráticos do país, se eximir de qualquer culpa pelo fracasso do seu governo, elegendo inimigos públicos como é o receituário clássico do nazifascismo, sem qualquer preocupação com as mortes em massa que poderão acontecer no Brasil.

Um jogador de roleta russa.

Marcio Macedo é Vice-presidente Nacional do PT. Biólogo, Professor e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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