Mateus Santos: O 7º Congresso e a construção de um PT para outros tempos

O maior partido de esquerda da América Latina discutirá seus rumos políticos num cenário extremamente adverso, do ponto de vista da conjuntura nacional

Agência PT
Tribuna de Debates do PT

Delegados no 6º Congresso Nacional do PT

Congressos partidários sempre são bem-vindos. De forma ampla, tais espaços são uma excelente oportunidade para fomentar o debate sobre a vida da organização, mas também momento propício de acumulação de forças para as lutas que vivemos e aquelas que ainda estão por vir.

O 7º Congresso do Partido dos Trabalhadores aponta nesse sentido. O maior partido de esquerda da América Latina discutirá seus rumos políticos num cenário extremamente adverso, do ponto de vista da conjuntura nacional. Um ano após a eleição de Jair Messias Bolsonaro, fantasmas da reforma da previdência, da criminalização dos movimentos sociais e das esquerdas ainda assombram e aparecem na vida dos trabalhadores e trabalhadoras deste país, sendo tarefa de urgência nos preparar para uma virada nessa história.

O aprofundamento do golpe de 2016 com a prisão de Lula e a eleição do referido presidente colocaram as esquerdas brasileiras num cenário quase que impensável se olharmos os últimos tempos. Após 13 anos de governo petistas e de avanços sociais, todo o trabalho realizado foi desmoronando, por meio da implantação de um projeto ainda mais neoliberal durante a gestão ilegítima de Temer. Apesar de todos os estragos realizados pelo Mdbista, a agenda econômica, “ponte para o atraso”, não foi ainda completada, estando a serviço do atual executivo dar continuidade à destruição de nossos direitos.

De forma ainda mais perversa, a radicalização de setores da direita, base do atual governo, acena com a perseguição aos movimentos sociais, ao PT e aos demais grupos de esquerda, num discurso que apregoa a eliminação política dos adversários e a condenação do pensamento crítico.

Em quase tempos de guerra abertamente promovida pela coalizão golpista, será preciso a realização de um Congresso que seja um verdadeiro divisor de águas na história recente do Partido dos Trabalhadores. As eleições de 2018 marcaram uma verdadeira derrota estratégica, por meio da falência do modelo de conciliação de classes, uma das marcas dos 13 anos de governo Lula e Dilma e ainda sobrevivente aos primeiros passos do golpe.

Contudo, esse mesmo pleito demonstrou também a força petista, ao eleger a maior bancada no legislativo, num cenário de maior fragmentação eleitoral e enfrentando fortes ataques da direita. Nesse sentido, pensar na reorganização da classe trabalhadora e dos setores de oposição efetiva ao governo Bolsonaro passa pela própria reorganização do PT e a definição de seus rumos.

Num momento como esse, cabe a pergunta: qual o partido que queremos? Um partido de massas, compromissado com o socialismo e que esteja à frente das lutas necessárias para a sobrevivência política e econômica dos trabalhadores ou apenas mais uma legenda em meio a muitas na institucionalidade? O desafio hoje é demonstrar aos brasileiros e brasileiras a singularidade do PT nas estruturas políticas nacionais. Um partido que nasceu dos trabalhadores para os trabalhadores. Da resistência para a resistência.

Este é o PT que o Brasil e as esquerdas precisam urgentemente. Para tal, precisamos tocar em questões estruturantes do partido, aspectos que podem parecer verdadeiros calcanhares-de-Aquiles em sua história, mas que não podem estar à margem de uma reorganização de suas estruturas. Eis alguns pontos:

Mandatos do partido ou partido de mandatos? Para um novo PT será preciso redefinir as relações entre nossas representações políticas e a militância. É tarefa urgente reaproximar nossos mandatos no legislativo e no executivo da base partidária, numa perspectiva de construção coletiva de nossa ação na institucionalidade. Na atualidade, apesar de vivermos em tempos de exceção, determinados representantes atuam de forma distanciada das principais bandeiras partidárias e de questões caras à militância.

Hoje é possível ver petistas flertando com propostas do governo Bolsonaro ou mesmo acreditando ser possível dialogar com um governo autoritário. Essas e outras questões evidenciam a necessidade de pensarmos em nossas posturas no parlamento ou nos governos estaduais. O PT que queremos é aquele que, no âmbito das instituições, de fato venha a representar os interesses da classe trabalhadora, contribuindo para nossa resistência.

A falência da conciliação de classes em nível nacional é uma luz de emergência para a organização da política nos Estados. Vitórias eleitorais expressivas nos Estados nordestinos escondem, por um lado, o desgaste dessa estratégia naquelas unidades da federação. Costuras políticas com setores de centro-direita e direita, negociações programáticas com a coligação golpista e mesmos discursos que destoam completamente com aquilo que se espera de um membro do Partido dos Trabalhadores são sinais de que um PT para outros tempos também precisa bater na porta de nossos governadores e aliados políticos.

A sobrevivência do partido não depende de concessões desenfreadas aos setores políticos que não convergem conosco programaticamente. O verdadeiro gás ao petismo nos Estados pode ser construído a partir da organização de mandatos mais populares, com diálogo e espaços para a intervenção da classe trabalhadora. Este é o PT necessário, que faça do Nordeste efetivamente um espaço de resistência.

Uma efetiva reorganização partidária depende do estabelecimento de um programa político que seja capaz de enfrentar os desafios impostos na atualidade. Em defesa do Lula Livre, contra a Reforma da Previdência, em favor da revogação de todas as medidas nocivas aos trabalhadores e pelo direito à liberdade de expressão devem ser palavras de ordem para o próximo período. Contudo, ao contrapormos uma agenda como esta apresentada pelos setores golpistas, precisamos ter em mente o que de fato queremos mostrar como alternativa. Em nosso entender, não podemos abrir mão de um programa socialista para o Brasil. Colocar de lado este horizonte é dizer aos trabalhadores que não temos a capacidade de transformar estruturalmente este país, estando, portanto, a mercê das concessões de uma direita que demonstra diariamente não estar disposta a nenhum tipo de mudança em favor dos mais pobres. Falar em socialismo hoje também é um exercício de desconstrução frente à opinião pública. Hoje vemos trabalhadores que tem medo ou rejeitam um governo para os trabalhadores. É preciso enfrentar isso!

Um PT nas ruas, nas casas, no campo e na cidade. O lema do “retornar às bases” precisa ser concebido como tarefa de ordem. Reorganizar e dar vida aos diretórios municipais, restabelecer os núcleos de base e dar maior apoio aos setoriais nos mais diferentes níveis são algumas das medidas que nos parecem necessárias para a construção de um Partido mais aberto à sociedade e com maior espaço para a intervenção da militância. Para a construção de um Brasil democrático e dos trabalhadores é preciso, antes de qualquer coisa, implantarmos com maior força tais questões nas estruturas partidárias. Que a organização do PT seja um verdadeiro espelho para a proposta de Brasil que queremos defender desde o agora.

Este é o verdadeiro PT que desejo, assim como acredito que seja também aquele esperado por milhares de militantes espalhados neste Brasil. Não se trata aqui de tecer críticas irresponsáveis, mas apenas o exercício básico do ser militante, preocupado com o presente e o futuro dessa organização que construímos. Enquanto historiador, sei de nossas limitações quanto ao tentar prever o futuro. Contudo, ao olhar para o passado recente e as possibilidades colocadas no nosso presente, espero daqui a alguns anos estar lendo estas palavras e tendo a felicidade de dizer que este 7º Congresso que hoje aguardo com boa expectativa foi um verdadeiro marco na história do PT, capaz de dar a força necessária pra os trabalhadores neste momento.

Mateus Santos, Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia. Militante da Juventude da Articulação de Esquerda (JAE) – Bahia. Membro da executiva da JPT – Bahia.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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