Mercadante: “O BNDES não vai se intimidar e será um banco industrializante”

Em seminário, presidente do banco defende queda da Selic para retomada do país e alerta para ameaças de setores contrários à política industrial: “O que fizemos de melhor na indústria teve participação decisiva do BNDES”

José Cruz/Agência Brasil

Mercadante: no Brasil há uma tentativa recorrente de criminalizar a política industrial

A América Latina só poderá superar suas mazelas econômicas e sociais se vencer as contradições impostas pelo atraso tecnológico e criar um ambiente para uma reindustrialização em novas bases sustentáveis. A aposta é do presidente do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

No seminário Financiamento para o grande impulso para a sustentabilidade, organizado pelo banco em parceria com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES), nesta segunda-feira (5), Mercadante falou dos desafios para a reindustrialização e do papel histórico do banco no caminho do desenvolvimento de uma economia verde no Brasil e na Região.

“Precisamos de uma neoindustrialização”, defendeu Mercadante. “Acho que é forte a ideia de uma nova industrialização, que seja transformadora, digital e sustentável, que impulsione a descarbonização da economia”, apontou Mercadante.

A descarbonização, segundo o dirigente, também vale para o setor agrícola. “Uma agricultura que preserve recursos naturais estratégicos, que dê ao Brasil uma gigantesca competitividade nesse setor”, defendeu. E reafirmou que será papel do BNDES fomentar o setor de serviços, o que mais gera empregos no país atualmente.

Elite não tem projeto de país

Ele criticou uma visão atrasada que existe no país, contrária à modernização e diversificação do parque industrial brasileiro. Razão pela qual a indústria teve sua participação no PIB encolhida de quase 25% nos anos 80 para pouco mais de 10% hoje.

“Tínhamos uma indústria no Brasil, nos anos 80, que era maior que a China e Coreia juntas. Venho repetindo isso porque é uma forma de a gente pensar no tempo histórico que nós perdemos”, advertiu, lembrando do papel fundamental do banco no desenvolvimento do país desde a sua criação, há 71 anos, por Getúlio Vargas. “O que fizemos de melhor na indústria brasileira teve uma participação decisiva do BNDES”.

Hoje, o país é fortemente dependente do setor agropecuário para alavancar o crescimento no PIB. ”Isso se deve à falta de perspectiva de toda uma elite dirigente, de setores do empresariado, que perderam um pouco essa visão em relação a um projeto nacional de desenvolvimento, de projetos estruturantes, transformadores de futuro”, lamentou o chefe do BNDES.

Subsídios

“É só olhar o tamanho dos subsídios que Estados Unidos e União Europeia estão dando à sua indústria. É uma política explícita”, argumentou Mercadante. “E aqui temos uma tentativa recorrente de criminalizar a política industrial”, continuou. “O BNDES não vai se intimidar, vai voltar a ser um banco industrializante”, disse.

Ele comparou a situação brasileira com a americana. “Acabou essa visão neoliberal nos EUA, avisou. “O Estado americano vai voltar a ser industrializante, vai ter subsídio, investimento, definição de setores estratégicos, não só com medidas de proteção comercial mas, sobretudo, de fomento ao investimento e ao desenvolvimento da economia”.

“Os Estados Unidos dão US$ 7 mil por carro elétrico fabricado. No Brasil, herdamos isenção fiscal para o carro importado. Qual é a chance de fazermos a transição da nossa indústria automotiva?”, indagou.

Juros e agenda ambiental

O capital financeiro, que atua para manter taxa exorbitantes de juro através do Banco Central e impedir a produtividade da indústria, também entrou no radar de Mercadante, durante a abertura do seminário. “Precisamos de uma taxa de juros que seja competitiva no cenário internacional”, defendeu.

“Hoje temos a maior taxa de juros da economia mundial. Precisamos de mais flexibilidade”, criticou o petista.

Ele finalizou alertando para a responsabilidade dos países desenvolvidos nas mudanças climáticas. “Nós não temos mais tempo a perder nessa agenda ambiental”, disse. “Ela tem uma urgência, uma emergência histórica. Ou o sistema financeiro muda para o mundo mudar ou o mundo definitivamente estará comprometendo seu futuro”, afirmou Mercadante.

CEPAL

No evento, a CEPAL apresentou a publicação “Financiando o Big Push: caminhos para destravar a transição social e ecológica.

Sobre a CEPAUL, Mercadante informou que um grupo de trabalho integrado por técnicos do BNDES e da comissão irá desenvolver uma rede de professores para impulsionar uma agenda de sustentabilidade na América Latina. “Temos que levar educação ambiental para dentro das escolas”.

Da Redação

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