Na CPI de SP, médicos da Prevent negam acusações e alegam autonomia

Citados por familiares de vítimas da Covid-19, atendidas pela operadora de saúde, profissionais depuseram na condição de investigados por vereadores da Câmara Municipal de São Paulo

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CPI da Prevent Senior, na Câmara de Vereadores de São Paulo

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) inquiriu, nesta quinta-feira, 11, quatro médicos da Prevent Senior que tiveram seus nomes associados por familiares de vítimas da Covid-19 à prescrição de kit Covid, aplicação de tratamento paliativo e uso de remédios sem comprovação científica. Durante a oitiva, os médicos Rafael de Souza da Silva, Daniella Cabral de Freitas, Rodrigo Barbosa Esper e Sérgio Antonio Dias da Silveira negaram as acusações ao serem confrontados pelos vereadores da CPI e reafirmaram a autonomia médica para prescrição dos medicamentos que julgarem corretos.

Na avaliação do presidente da CPI da Prevent Senior, Antonio Donato (PT), os profissionais confessaram uma grande contradição à medida que negam haver estudo científico enquanto a operadora de saúde distribui hidroxicloroquina. “Essa contradição, eles não conseguem explicar. Sem base científica, continuam distribuindo o kit Covid até hoje”, afirmou o petista.

Amparados por habeas corpus do Tribunal de Justiça de São Paulo, os quatro profissionais depuseram na condição de investigados pela CPI da Prevent Senior. Esta oitiva deveria ter sido realizada na quinta-feira passada, mas eles não comparecem presencialmente à reunião. O advogado da operadora de saúde solicitou, na ocasião, ao presidente da comissão que as oitivas fossem virtuais, o que não foi autorizado.

Primeiro a depor, Rafael Souza Silva, diretor de Telemedicina da Prevent, negou que os médicos fossem obrigados a prescrever o chamado kit Covid a pacientes da operadora de saúde. “O Conselho Federal de Medicina roga a nós a prerrogativa da decisão de autonomia médica. Essa prerrogativa dá ao médico a autonomia da escolha de opção de tratamento aos pacientes dentro daquilo que tange o benefício do paciente”, afirmou.

Ao ser questionado sobre estudo de abril de 2020 que apresentava o kit Covid à redução do número de internações por Covid-19, o cardiologista Rodrigo Barbosa Esper afirmou que cometeu um “equívoco” ao anexar um relatório manuscrito de “observação de mundo real” em pesquisa do médico Rafael Souza Silva – pesquisa essa que foi suspensa três dias depois de autorizada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Vereador Antônio Donato (PT), presidente da CPI. Foto: Divulgação

Donato disse várias vezes na sessão que não conseguia entender a indicação de remédios do kit Covid por parte de médicos da Prevent. “Era um tratamento que não funcionava e os senhores continuavam sugerindo aos médicos que apresentassem esse tratamento aos pacientes, quando o mundo inteiro já sabia que não tinha eficácia”, disse. “Eles tinham uma pesquisa registrada que não foi concluída e que negam ser pesquisa e sim um estudo observacional, mas continuaram indicando, até o último protocolo de 1º de março deste ano, a hidroxicloroquina e o kit Covid sem base científica.”

Sergio Antonio Dias da Silveira Junior (consultor na área de auditoria médica) e Daniela Cabral de Freitas (diretora clínica) também negaram haver pressão por parte da operadora de saúde para prescrição do kit Covid. Disseram tratar-se apenas de sugestão.

Donato perguntou ao médico Sérgio Dias o que significava o termo “Pentágono Central” e quais médicos fazem parte desse grupo, que recomendava, “até segunda ordem”, manter medicação para tratamento de pacientes internados e, em casos específicos de pacientes em tratamento domiciliar, “discutiremos com o Pentágono”. Primeiro o médico negou conhecer o termo e mais tarde afirmou, ao ser confrontado com mensagem de sua autoria, “não fazer mais parte desse grupo”.

O médico Rafael confirmou a existência do grupo “em algum momento” como forma de coordenação dos processos e “que isso fosse uma replicação do bom comportamento das boas práticas de conduta que São Paulo instituir”.

Donato afirmou que o objetivo dessa pergunta era identificar a cadeia de comando da Prevent Senior, que aguarda o aprofundamento das informações para decidir sobre depoimento dos donos da empresa.

Os vereadores também questionaram os médicos sobre a dívida de aproximadamente R$ 160 milhões em impostos atrasados de ISS da Prevent Senior com a Prefeitura de São Paulo. Mas os depoentes afirmaram desconhecer.

Os depoimentos de representantes do Centro de Vigilância Sanitária Estadual e da Secretaria Estadual de Saúde foram remarcados para a próxima quinta-feira, 18.

Da Redação

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