Negócio de ministro de Temer supera em 15 vezes seu patrimônio, diz jornal

Segundo a “Folha de São Paulo”, com bens declarados de R$ 1,8 milhão, ministro da Saúde, Ricardo Barros, virou sócio de área de R$ 56 milhões no Paraná

Wilson Dias/Agência Brasil

Ricardo Barros, ministro da Saúde do governo golpista de Michel Temer

Com bens declarados de R$ 1,8 milhão, o ministro da Saúde do governo ilegítimo de Michel Temer, Ricardo Barros, fez negócio incompatível com seu patrimônio.

Segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, Barros adquiriu, em 2014, metade de um terreno de R$ 56 milhões em Marialva (PR). A reportagem foi publicada nesta sexta-feira (10), a partir de documentos obtidos pela Folha em cartórios.

Naquele ano, Barros era secretário de Indústria e Comércio do Paraná, disputou uma vaga de deputado federal pelo PP e declarou à Justiça Eleitoral o seu patrimônio.

Em 2015, já na condição de deputado, Barros apoiou, por meio de um requerimento, a liberação de R$ 450 milhões de emenda da União para a construção de uma rodovia de 32 km que passa a 3 km do terreno adquirido por ele. A emenda foi, posteriormente, congelada em razão do ajuste fiscal.

A nova rodovia, batizada de Contorno Sul Metropolitano, faria uma ligação mais rápida da propriedade com outras localidades.

A emenda havia sido apresentada um ano antes pela bancada de parlamentares do Paraná, que incluía a mulher do ministro, a então deputada federal Cida Borghetti (PP), hoje vice-governadora do Estado governado por Beto Richa (PSDB) e sócia dele na compra da propriedade.

Vale ressaltar que, na eleição de 2014, a esposa do ministro declarou um patrimônio de R$ 805 mil.

A justificativa dada pelo ministro ao jornal para explicar o negócio 15 vezes maior que seu patrimônio declarado foi um empréstimo de R$ 13 milhões da empresa Paysage, sócia dele na aquisição.

Para comprar sua parte, Barros usou duas empresas, a MRC e a RC7, com um capital social de R$ 10 mil cada. Elas foram criadas em outubro de 2013 e maio de 2014 em nome dele e da mulher.

A MRC, sediada no escritório político do ministro em Maringá, foi montada 20 dias antes da divulgação do estudo de impacto ambiental da rodovia pela prefeitura.

O prefeito de Maringá na época do negócio era um aliado de Barros, Roberto Pupin (PP). Ele havia sido vice-prefeito do irmão do atual ministro, Silvio Barros, que administrou Maringá de 2005 a 2012.

De proprietário a fiador

Em dezembro de 2014, já como deputado eleito, Barros assinou um documento de reconhecimento de dívida.

A partir de 2016, ele e sua mulher passaram a aparecer como “fiadores” e não mais como proprietários, ou seja, responsáveis por dívidas não pagas pelo responsável direto.

Segundo o ministro, foram as vendas à Paysage de suas duas microempresas recém-criadas que levou à “quitação” do empréstimo de R$ 13 milhões.

Em janeiro, as famílias Faion e Dada, que venderam o terreno, ajuizaram uma ação para cobrar uma dívida que, em valores atualizados, atingiria R$ 7,5 milhões.

Pelo acordo feito entre Barros e a Paysage no final de 2015, a empresa também assumiu esse pagamento, segundo o ministro. Se fosse mantido o primeiro arranjo, de compra meio a meio entre as duas partes, Barros teria de pagar R$ 3,7 milhões.

Ao final da operação, ele teve dois ganhos: deixou de ser responsável direto pela dívida e não arcou com o prejuízo de um possível insucesso do empreendimento, cuja execução começou a dar problemas.

Operação incomum

Dois especialistas em contabilidade consultados pelo jornal disseram que se tratou de uma “operação incomum”, destacando o fato de uma incorporadora ter emprestado R$ 13 milhões a duas empresas que, somente pelo capital social, não possuíam capacidade financeira para honrar o compromisso.

“É uma operação não usual, muito estranha. A incorporadora ter passado o dinheiro e ter recebido a empresa de volta sugere que ela aceitou um prejuízo. É uma operação que revela uma relação de amizade”, disse à “Folha” o vice-presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Zulmir Ivânio Breda.

“O montante emprestado é atípico. Você cria uma empresa de R$ 10 mil para montar uma lojinha, um carrinho de cachorro quente, não para comprar um imóvel de mais de R$ 50 milhões. Não é comum no mercado”, disse o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Idésio Coelho.

Golpes em série

Ricardo Barros não é o único membro do alto escalão do governo golpista de Temer a ter o nome envolvido em denúncias, que já levaram à queda de seis.

No final de 2016, o ex-ministro golpista da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, enviou carta de demissão a Temer, após escândalo de uso de sua posição no governo para conseguir vantagens pessoais, denunciado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, que também se demitiu.

Outros três caíram em decorrência de denúncias ligadas a Operação Lava-Jato: Romero Jucá (Planejamento), Henrique Alves (Turismo) e Fabiano Silveira (Transparência, Fiscalização e Controle).

Além desses, Fábio Medina Osório deixou o cargo de ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), após afirmar que o governo golpista queria abafar as investigações da Lava Jato.

Mesmo não resultando em queda de ministro, o caso mais recente de denúncia envolvendo o governo golpista são os supostos indícios de que o ministro da Justiça de Temer, Alexandre de Moraes, indicado por ele para ocupar vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), teria cometido plágio em sua tese de doutorado.

Da Redação da Agência PT, com informações da Folha de S. Paulo

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