Novo satélite para o Inpe é uma “cloroquina espacial” 

O novo “sistema” que o Ministério Defesa pretende instalar é uma “cloroquina espacial”, adverte Gilberto Câmara, ex-chefe do Inpe de 2006 a 2013 e atualmente diretor do secretariado do Grupo de Observações da Terra (GEO), órgão é vinculado às Nações Unidas

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Um satélite para "chamar de seu", desnecessário e ineficiente

O governo anunciou a compra de um novo satélite para realizar monitoramento especial na Amazônia. Sem edital divulgado, nem identificação de possíveis fornecedores, o investimento previsto é de R$ 145 milhões. Ao mesmo tempo, o governo zerou o orçamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para 2021. Segundo especialistas, o novo novo satélite é desnecessário, pois o instituto já cumpre a função com eficiência. A iniciativa é mais um agrado aos militares, a exemplo do dinheiro público jogado fora para produzir cloroquina no laboratório do Exército.

O novo “sistema” que o Ministério Defesa pretende instalar é uma “cloroquina espacial”, adverte Gilberto Câmara, ex-chefe do Inpe de 2006 a 2013 e atualmente diretor do secretariado do Grupo de Observações da Terra (GEO), órgão é vinculado às Nações Unidas. Para o especialista, o satélite não traz nenhuma evidência de que executa sua função com a eficiência anunciada. Além disso, segundo ele, há tecnologias gratuitas de monitoramento por satélite com melhor desempenho, afirmou em entrevista ao jornal Estadão.

O equipamento que o governo pretende comprar é conhecido como sistema de micro satélites da constelação Iceye. Trata-se de um satélite para “olhar gelo”, desenvolvido na Finlândia, ou seja, com alcance “visual” limitado, segundo o especialista. Para Câmara, o sistema não tem capacidade de penetrar abaixo da copa das árvores para efetuar a coleta de dados necessários. Ainda segundo ele, o sistema anunciado pelo Ministério da Defesa levaria mais de dois meses para rastrear a Amazônia. Atualmente, com tecnologia própria, o Inpe realiza a mesma tarefa em apenas três dias.

“O Brasil é 1º mundo nessa área”, atesta Gilberto Câmara, questionando a compra do novo satélite e os ataques ao Inpe e seus técnicos e aos dados produzidos pelo instituto. “O monitoramento feito aí tem o respeito de todos países que integram o GEO. Todo o mundo conhece a seriedade do trabalho do Inpe”, diz. Segundo Câmara, o trabalho realizado pelo Inpe é reconhecida=o no Japão, na China, nos Estados Unidos e na Rússia. “É uma coisa que ninguém questiona”, argumenta ele, em matéria do Brasil de Fato.

O projeto GEO – Group on Earth Observations (Grupo de Observações da Terra) – é uma rede global de órgãos governamentais, instituições acadêmicas e empresas de 105 países voltada para a busca de soluções inovadoras para gestão de informações. Hoje à frente do GEO, Câmara é um dos principais responsáveis pela criação do sistema de alertas de desmatamento Deter, alvo do governo. Em sua gestão, desenvolveu software de código aberto, com acesso livre, afirmado o papel do Inpe na monitoramento e distribuição de imagens da região.

O novo satélite é o desdobramento da campanha patrocinada pelo governo contra o Inpe, que já resultou no afastamento de seu diretor e outros técnicos. Desde que assumiu, o governo colocou em xeque a veracidade dos dados do instituto, apesar de o órgão ser reconhecido internacionalmente pela qualidade das informações produzidas. Bolsonaro e os militares querem um satélite para “chamar de seu” para controlar os dados ambientais e monitorar a região de acordo com suas alianças geopolíticas.

Da Redação com Brasil de Fato

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