Campinas: candidato encara política como “dom” e doação à comunidade

Pré-candidato em Campinas, Márcio Pochmann (PT) aposta numa relação direta entre o político e o cidadão possibilitada pelas novas tecnologias

Paulo Pinto/Agência PT

Marcio Pochmann

Márcio Pochmann não se define como político profissional. Há 27 anos na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o economista se destaca pelo seu trabalho de pesquisa não só na universidade como também  em instituições de renome – foi presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da Fundação Perseu Abramo.

Há 4 anos, conseguiu 42.31% dos votos no segundo turno das eleições municipais em Campinas (SP). Agora, é novamente candidato pelo Partido dos Trabalhadores para a prefeitura do décimo primeiro maior PIB do Brasil.

Pochmann acredita que a política é uma espécie de dom, em que o político doa parte do seu tempo para a gestão pública. Se eleito, abriria mão do seu salário de prefeito, já que recebe remuneração como professor titular da Unicamp.

Em um cenário de descrédito na política, ele quer investir na relação cada vez mais direta com o cidadão – ampliando com mecanismos da era digital a participação que foi marca do PT na era analógica.

Apesar de ser o município com o maior oitavo maior orçamento do país, a atual gestão do prefeito Jonas Donizete (PSB) não soube administrar bem os recursos, segundo Pochamann.

“O prefeito vai deixar uma situação de dívida para o município porque não se preocupou com o novo cenário de controlar suas finanças e continuou aumentando gastos, sobretudo em ano eleitoral”, diz. Por isso, Campinas enfrenta situações como contratos suspensos por falta de verba e falta de medicamentos.

Para Pochmann, a gestão da cidade precisa ser feita de forma descentralizada. “Estudando Campinas nós percebemos que existe uma cidade com vários centros, uma multicentralidade. E a Prefeitura tem que estar em todos os centros”, diz ele.

Vista de Campinas. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Vista de Campinas. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Nova forma de fazer política

“A nova forma de de fazer política representa reconhecer o papel do eleitor e do cidadão. O PT desenvolveu uma ação marcante com a participação popular através dos conselhos municipais de educação e saúde, e a experiência do orçamento participativo sobre como realocar os recursos municipais. Mas ainda era uma fase do cidadão analógico. Nas grandes cidades, a participação é possível, mas ela não é tão simples em razão do grande deslocamento necessário das pessoas de suas casas até onde essas assembleias se realizam.

Nós temos uma nova circunstância que á cidadania e o eleitor digital pela presença das tecnologias de comunicação e informação. Essa nova condição faz com que o eleitor não olhe para o político como intermediário, mas numa relação direta, Isso se faz principalmente com o político local, porque de uma maneira geral o deputado estadual e federal tem uma relação muito distante da população.

E ainda há a questão da transparência. Todos os gastos devem ser compartilhados para além dos órgãos de fiscalização. O eleitor quer se fazer presente nessa administração.

A continuidade da forma de fazer politica tradicional de ir para a televisão e dizer que vai fazer tudo diferente, mas sem dizer como vai fazer, isso leva a um certo descrédito porque de certa forma a população está cansada de ouvir muita retórica, muitas falas dizendo que vai mudar e depois a pessoa assume e não muda. Esse compromisso direto com o cidadão nos parece uma maneira muito mais favorável de fazer política.”

Terminal de ônibus em Campinas. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Terminal de ônibus em Campinas. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Política como dom

“A forma tradicional de fazer política gerou um descrédito porque a fala e o discurso não são compatíveis com a prática. Nós trabalhamos a política como uma espécie de dom, você doa um tempo em prol da comunidade. Reverter essa circunstância de profissão política, para que a política seja feita de outra forma, que as pessoas se organizem para poder administrar uma cidade.

Eu não receberia salário da prefeitura, pois já sou funcionário público.”

Novo conceito de cidade

“Nós estamos trabalhando com um novo conceito de cidade. Existe um conceito de cidade que é a cidade que tem o centro e a periferia. Mas, estudando Campinas, nós percebemos que existe uma cidade com vários centros, uma multicentralidade, em parte pela grande quantidade de shopping centers – temos 10. Tivemos um esvaziamento do centro.

Aquilo que é definido como periferia, Ouro Verde, Campo Grande, que tem concentração de baixa renda, mas quando você compara a riqueza total, ela é comparável à riqueza do centro.

Nós queremos reorganizar a prefeitura para que ela esteja presente nesses bairros para que as pessoas evitem deslocamentos e possam ter serviços próximos a elas. Isso pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, e a prefeitura precisa inserir serviços públicos em todos os centros e não em apenas alguns.”

Má gestão

“A administração local não tomou nenhum cuidado em relação a administração saudável dos seus recursos. O prefeito vai deixar uma situação de dívida para o município porque não se preocupou com o novo cenário de controlar suas finanças e continuou aumentando gastos sobretudo em ano eleitoral.

Nesse sentido, tivemos uma série de situações com empresas que ficaram quatro meses sem receber, e terminaram rompendo contrato em função desses atrasos implicando em piora de serviços na saúde e educação, como a falta de medicamentos, situações que são comuns em cidades pequenas e agora estão ocorrendo em Campinas também.”

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Rua esburacada na região do Ouro Verde, periferia de Campinas. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Saúde

“Campinas, dos anos 1980 até 2000, foi uma cidade referencial no Brasil porque grande parte dos programas do SUS foram implementados aqui. Mas, infelizmente, a gestão atual abandonou o tema da saúde, perdemos a capacidade de oferecer serviços de qualidade, há um processo de desqualificação de equipamentos.

Fizemos visitas em diversas localidade –  nosso lema é Ouvir para Governar Melhor – e a população enfrenta problemas como a falta de remédios. Uma cidade tão rica e com orçamento grande tendo problemas de cidade pequena.”

Segurança Pública

“Em São Paulo, temos a referência do Haddad que avançou com o tema da iluminação, onde muitas vezes tinha os piores focos de violência. A gestão inteligente, a integração de ações. Nós temos uma guarda que foi implantada pelo governo do PT em 2001-2004 e a ideia dessa guarda era ter uma presença mais humanizada atuando de forma descentralizada nos diferentes bairros da cidade.

Agora a nossa guarda atua muito próxima da Policia Militar e apenas no centro, ausência nos bairros mais afastados da cidade.”

Educação

“Apesar de ter universidades de renome nacional e internacional e concentrar 15% da produção cientifica nacional, há uma desigualdade muito grande, com 27 mil analfabetos, 15% dos domicílios da cidade tem a presença de membros que não tem o ensino fundamental completo, o analfabeto funcional.

O tema da educação é muito importante numa sociedade do conhecimento como vivemos termos uma desigualdade tão grande, isso exige uma ação muito mais presente da prefeitura.”

Por Clara Roman, da Agência PT de Noticias

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