Prevent: “Depoimentos de médicos do Pentágono foram evasivos”, diz Donato

Amparados por habeas corpus, profissionais Cleber Nunes da Rocha e Roberto de Sá Cunha Filho disseram desconhecer atuação do órgão em relação a kit Covid e tratamento precoce

Foto: Reprodução

Vereadores da CPI se reúnem no Plenário 1º de Maio da Camara Municipal de São Paulo

Os depoimentos desta quinta-feira, 16, na Comissão Parlamentar de Inquérito da Prevent Senior, na Câmara Municipal de São Paulo, não avançaram nas investigações de atuação do chamado “Pentágono Central” e sua participação na determinação de uso do kit Covid e tratamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Amparados por habeas corpus, os médicos Cleber Nunes da Rocha e Roberto de Sá Cunha Filho, da direção da empresa e integrantes do Pentágono, limitaram-se a dizer que não conheciam, não participaram de pesquisas, não viram nada, se calaram ou disseram não ter atuado em protocolos de Covid-19.

O vereador e presidente da CPI da Prevent Senior, Antonio Donato (PT), afirmou que os depoimentos desta décima sessão de depoimentos da comissão parlamentar foram frustrantes.

“Na medida que eles tinham habeas corpus, não estavam obrigados a dizer a verdade. Foram evasivos e pouco acrescentaram em relação à estrutura organizacional da Prevent Senior”, comentou Donato.

Para ele, os médicos pouco contribuíram para a CPI. “A tal história do Pentágono parece ser o coração das operações da empresa e das decisões, segundo denúncias que recebemos, mas eles se esquivaram e, infelizmente, pouco contribuíram para o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito.”

Em seu depoimento, Roberto de Sá Cunha Filho, consultor executivo da Prevent Senior, afirmou que, de 20 de fevereiro de 2020 até 15 de dezembro de 2021, foram realizadas 18.339 internações de pacientes com Covid, incluindo rede própria e credenciada, das quais 6.117 foram em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e registrado nesse período 4.977 óbitos por Covid-19.

Donato questionou sobre o que achava de cerca de 5 mil óbitos em 6 mil internações de UTI. “Se a gente comparar a letalidade da Prevent Senior por faixa etária, o resultado é muito bom”, disse Roberto de Sá. Segundo números que apresentou, na Prevent, pacientes com 90 anos ou mais registram 29,1% de letalidade, ante 41% da grande São Paulo. Na faixa de 80 a 89 anos, os números seriam, respectivamente, 19,5% e 34,4%.

Recesso e balanço

Na sessão desta quinta-feira, a última de 2021, antes do recesso do Legislativo de São Paulo, que retoma os trabalhos em fevereiro de 2022, Donato apresentou um balanço parcial dos trabalhos e comentou que, em pouco mais de dois meses de trabalho, a CPI conseguiu quebrar a narrativa da Prevent Senior de que tudo foi feito corretamente.

“Nós ouvimos depoimentos de familiares de pacientes e de médicos que desmontaram a narrativa da operadora de saúde. Infelizmente, a Prevent usou habeas corpus como estratégia para os depoimentos de seus diretores responsáveis. Assim, não estavam obrigados a dizer a verdade, o que enfraquece muito os depoimentos, como ocorreu na sessão de hoje.”

O vereador fez um contraponto afirmando que também houve depoimentos contundentes, com apresentação de documentos e que até março, quando vence o primeiro prazo regimental da CPI, “a gente espera chamar a alta direção da Prevent para depor”. “Vamos apresentar um relatório baseado em fatos, mas bastante duro com as irregularidades da empresa. Nossa convicção é, cada vez maior, que muitas irregularidades foram cometidas e que terão, de alguma maneira, de serem punidas”.

Donato disse que houve testemunhas que depuseram à CPI, fizeram juramento de dizer a verdade, assinaram termo de responsabilidade e relataram que vieram do Pentágono as decisões de implementação do kit Covid e tratamento precoce.

“Aqui na CPI, os membros do Pentágono disseram que, segundo o organograma da empresa, é algo etéreo, pouco sólido. Portanto, são depoimentos muito fracos que mais têm o papel de se defender.”

Para o vereador, fica cada vez mais evidente que houve na operadora de saúde uma decisão organizacional de implementação do kit Covid. “Na semana passada, a empresa de moto-frete diz que distribuiu quase 25 mil kits. É um número assombroso que, certamente, não foi feito sem uma decisão central da operadora”, comentou.

Para Donato, está ficando caracterizada a linha de investigação do Ministério Público do Trabalho, segundo a qual existia na operadora de saúde um assédio moral organizacional. “Estamos falando de uma estrutura da empresa para seja moralmente funcional interferir na autonomia dos médicos. A gente ainda vai ouvir mais pessoas eu não quero fazer prejulgamento, mas isso é uma impressão bastante forte entre os membros da CPI”, comentou.

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Prevent Senior foi aprovada em 30 de setembro deste ano pela Câmara Municipal de São Paulo, a partir de requerimento do vereador Antonio Donato. A CPI foi instalada em 7 de outubro e teve sua primeira sessão de depoimentos no dia 14.

“Nesse período, foram 11 sessões, aprovamos até agora mais de 100 requerimentos, 37 convites, uma convocação, 45 requerimentos de informações, expedimos 111 ofícios e realizamos 35 depoimentos”, relatou o vereador.

Da Redação

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast