Que palavrão é esse | Por que tudo está tão caro e o que o petróleo tem a ver com isso

Câmbio, barril, acionista, dividendo, empresa mista… como esses termos mudam sua vida não só na hora de comprar o botijão e encher o tanque do carro.

Reprodução

Plataforma da Petrobras

O preço da gasolina subiu nove vezes só neste ano. E uma coisa é certa: está mais caro comer — quando se tem comida. Agora, que você já entende um pouco melhor a dinâmica geral da inflação, vamos entender esse fenômeno de subida radical dos preços da gasolina e do gás e como  a política da Petrobras também influencia na hora que você vai fazer as compras no supermercado.

O preço alto do petróleo não afeta só quem compra botijão de gás (que já é bastante gente) ou quem vai direto na bomba de gasolina encher o tanque do carro.

O petróleo é o insumo básico para praticamente todos os produtos, porque ele está presente em todas as cadeias de produção.

Tudo que você consome no supermercado alguém precisou do petróleo para transportar ou para produzir a embalagem. Se o preço sobe de um elo da cadeia, sobe o preço de tudo.

Nos governos do PT, havia a política de controle de preço. Depois do golpe contra a presidenta Dilma, Temer mudou a política e o petróleo é reajustado pelo preço internacional. Com Bolsonaro, essa política permaneceu e piorou ainda mais por conta das mudanças no câmbio.

Nesta segunda matéria da série “Que palavrão é esse”, conversamos com a diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Izidorio Fogaça Vieira,  e juntas vamos explicar os termos relacionados à crise geral de preços. Assim, dá para entender melhor o noticiário e não deixar ninguém cair em fake news e combater a desinformação.

1) O que é barril de petróleo?

É uma medida internacional. É a medida que o mundo do petróleo usa para comercializar o produto. Assim como gado é em arroba. Um barril hoje tem 159 litros de petróleo.

2) Por que quando aumenta o petróleo, aumenta tudo (principalmente itens que compramos no supermercado)?

Quando a gente aumenta o preço do combustível, derivado do petróleo, muito utilizando na infraestrutura do Brasil, que é muito rodoviário. Aumenta o diesel, aumenta o custo para os caminhoneiros e pequenos transportadores. Aumenta o custo do foodtruck que trabalha com gerador a diesel, até do camelô que vende na praia e usa algum tipo de gerador. Em todos os setores, vai precisar de petróleo para transporte.

Se você tem um restaurante e vai comprar os ingredientes para fazer as refeições. Esses ingredientes chegam de algum lugar. No seu restaurante, você vai cozinhar, vai usar o gás. Depois, você vai distribuir de alguma forma. Delivery de pequeno comerciário é feito de carro ou moto, usando gasolina.

A lógica do restaurante serve para tudo. Se você for comprar um brinquedo para criança, esse produto foi transportado de alguma forma.

Aí gera esse efeito do dominó.

3) Se aumenta o preço do barril, aumenta o preço do combustível?

Não necessariamente.  É possível amortecer o preço do barril de petróleo para o preço do combustível. O governo pode intervir para que uma alta do preço do barril não seja repassada totalmente para o preço do combustível e do gás de cozinha.

O que gera o efeito dominó (de aumentar o preço de tudo) é o preço do combustível.

3) O governo pode controlar o preço do gás e da gasolina?

Sim. No caso específico dos preços dos combustíveis, ele pode controlar por meio da Petrobras, que é uma empresa de economia mista. Ou seja, uma parte dela é de acionistas privados e uma outra parte pertence ao Estado brasileiro (e cada governo comanda uma política).

No caso de tomadas de decisões, o governo possui maioria. Então, na prática, quem define a política de preços da Petrobras é o governo.

O problema é que o governo deveria defender os interesses do povo brasileiro, controlando os preços para não prejudicar o consumidor final. Mas não é o que acontece.

O governo Bolsonaro adota uma política de beneficiar o lucro dos acionistas privados e prejudicar a população.

4) Como assim?

Uma empresa estatal é diferente de uma empresa privada. O foco da estatal é o bem-estar do povo brasileiro, representado pelo Estado. Diferente de uma empresa privada que olha apenas para o lucro do patrão.

No caso da Petrobras, ela é de economia mista. Tem as duas lógicas ali dentro.

Sendo uma empresa com ações no mercado, ela precisa responder aos acionistas minoritários. Mas o acionista majoritário segue sendo o Estado, que precisa olhar a necessidade do povo brasileiro.

O acionista minoritário quer receber dividendos. Para receber, quanto mais você lucrar, mais você recebe dividendos. Isso um olhar a curto prazo. A longo prazo não é assim. Mas infelizmente o mercado financeiro tem olhar a curto prazo.   

 

6) Qual a diferença entre a política adotada pelo governo do PT e a adotada pelo governo Bolsonaro?

A Petrobras é uma empresa integrada. Ela pega o petróleo cru, tira do fundo do mar ou da terra. Tem toda a logística para fazer chegar na Refinaria. E tem as refinarias que transformam o petróleo em combustível e derivados.

Nos governos do PT, havia uma avaliação com base na necessidade do povo brasileiro.

Por exemplo, se o dólar estava alto, significava que o barril de petróleo estava valendo mais, então podia acontecer de a margem de lucro do refino não valer a pena. Então aumentava a extração de petróleo cru, botava pra exportar, aumentava a receita e, portanto, não era preciso repassar o aumento do petróleo para os derivados, no caso, o combustível.

Ou seja, havia um olhar da empresa como um todo. Garantia-se o lucro pensando em todas as etapas do processo. Então, quando havia um risco de encarecer demais o preço para a população, o governo optava por aplicar um política em algum ponto do processo para impedir o aumento absurdo.

Com os governos Temer e Bolsonaro, eles estão buscando maximizar o lucro dos acionistas privados em cada etapa. Eles querem o máximo de lucro no petróleo cru, o máximo de lucro no refino e  máximo de lucro na distribuição. Tudo isso em detrimento do bem-estar da população.

Por isso, deu início ao processo de impeachment da Dilma [que ela falou sobre]. Ela não permitia que os acionistas lucrassem mais do que já lucravam às custas do povo brasileiro.

 

9) Por que falam tanto em privatizar a Petrobras? Já não é de acionistas?

O governo e BNDES tem 36% do capital da empresa. 24% são acionistas privados do Brasil e 41% são acionistas não-brasileiros. Só lembrando que o governo é majoritário nas ações decisórias.

O poder de decisão de um Estado teria que ser exercido para tornar o produto da Petrobras mais acessível para o povo, enquanto  o acionista quer lucrar mais. Se privatizar a Petrobras, acaba essa dicotomia e vai visar só o lucro.

Se privatizar, vai piorar e aumentar o preço de vez. Muito mais do que acontece atualmente.

Ana Clara Ferrari, Agência Todas

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast