Reforma da Previdência não resolve crise econômica, adverte economista

André Lara Resende alertou que “busca do equilíbrio fiscal no curto prazo, quando há desemprego e capacidade ociosa, termina por aumentar o peso da dívida em relação ao PIB”

Roberto Parizotti/CUT

A reforma da Previdência não vai contribuir para resolver a crise econômica no Brasil, avisa o banqueiro e PhD em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e um dos pais do Plano Real de Fernando Henrique Cardoso, André Lara Resende.

A medida “não será suficiente para resolver o problema fiscal dos próximos anos” nem “será capaz de despertar a fada das boas expectativas”, afirma ele em artigo publicado no jornal Valor nesta segunda-feira (13).

Golpe fatal

A advertência de Resende — que considera a reforma da Previdência “necessária” — não desafina dos sucessivos alertas que vêm sendo feitos por analistas mais identificados com a esquerda desde que a medida foi anunciada por Jair Bolsonaro: tirar dinheiro de circulação (reduzindo a renda dos mais pobres) pode ser um golpe fatal em um tecido econômico à beira da necrose.

Disse Resende: “Como demonstra de forma dramática a experiência recente da Grécia, a busca do equilíbrio fiscal no curto prazo, quando há desemprego e capacidade ociosa, não apenas agrava o quadro recessivo, como termina por aumentar o peso da dívida em relação ao PIB.”

Receita de sucesso

Sem jargão acadêmico, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resumiu uma das medidas cruciais para oxigenar o cenário econômico e retomar o crescimento: “Se cada pobre comer dois pãezinhos e tomar dois cafezinhos, se cada um comprar um sapato, uma camisa, uma calça, um tijolo a mais, a economia começa a funcionar”, resumiu ele na entrevista à rede britânica BBC, divulgada na última sexta-feira (10).

O consumo das famílias é um dos pilares do crescimento econômico — ao lado dos gastos governamentais, os investimentos e as exportações. A ênfase no fortalecimento do mercado interno foi ingrediente fundamental na receita que deu certo durante o governo Lula, o período de maior prosperidade econômica experimentado pelo Brasil.

Trator desgovernado

A reforma da Previdência de Bolsonaro investe como um trator desgovernado contra o pilar do consumo — o mercado interno — ao desidratar ainda mais a renda dos mais pobres.

O texto em tramitação prevê o corte a menos da metade dos valores pagos como Benefício de Prestação Continuada (BPC), o extermínio dos abonos do PIS (que equivalem a 7% da renda de quem recebe até dois salários mínimos), a transformação da aposentadoria rural uma quase-quimera e extinção da obrigatoriedade de reposição da inflação para os benefícios acima de um salário mínimo.

Autoimposição suicida

Tudo isso em um Brasil onde “a economia continua estagnada, com a renda abaixo do que era há cinco anos e o desemprego acima de 12% da força de trabalho”, aponta o economista Lara Resende.

Para Lara Resende, a “obsessão pelo equilíbrio fiscal no curto prazo é uma autoimposição tecnocrática suicida”, uma dose venenosa receitada pelo dogmatismo.

Por PT no Senado

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