Retórica anti-China atrapalha luta contra pandemia e ameaça relação comercial

Além de maior parceiro comercial do Brasil, país asiático detém mais de 90% da produção mundial de equipamentos de proteção para profissionais de saúde e outros produtos médicos

Bruno Caramori

Apesar dos ataques do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no início da semana, e da forte reação da Embaixada da China – que cobrou satisfações do Brasil –, o Itamaraty e o Planalto estão fazendo de conta que nada ocorreu. Acusada de racista pelos chineses, a manifestação de Weintraub sucedeu a dois ataques preocupantes do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Apenas o ministro Mandetta fez referência à conversa com o embaixador chinês no Brasil, em sua entrevista na segunda-feira. A interlocução foi confirmada pelo próprio embaixador chinês no Brasil Wanming Yang, em sua conta do Twitter. Segundo ele, a interlocução tratou do fortalecimento da cooperação entre os dois países. 

Acusadas de racistas pela Embaixada da China, as manifestações anteriores do clã Bolsonaro já tinham sido criticadas pela presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “Além de vitimar a população chinesa, a epidemia também tem sido usada por vários grupos xenófobos contra o país”, alertou. O destempero de Weintraub já foi alvo de denuncia STF por prejudicar a relação entre os dois países e discriminar descendentes que vivem no Brasil.

“As provocações à China são gratuitas e irresponsáveis”, advertiu o embaixador Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, em entrevista ao Estadão. Para Amaral, neste momento de crise, as declarações do governo criam problemas desnecessários. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e, atualmente, é a principal fonte de equipamentos de proteção individual (EPIs), máscaras e respiradores para combater o Covid-19.

 

Arrogância

Em artigo nesta semana, o jornal chinês Global Times identificou manifestações de “arrogância” na relação do Brasil com o seu país, que estariam prejudicando a integração do povos para combater o Covid-19. Segundo o jornal, a arrogância brasileira tem caráter racial, cultural e também está relacionada à sua forma de governo. 

A “retórica anti-China”, por conta do alinhamento incondicional do bolsonarismo aos Estados Unidos, por outro lado, também pode resultar em prejuízos futuros na área econômica. Em 2019, o Brasil exportou para a China US$ 65,8 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 28 bilhões. Em contraste, diz Marcelo Zero, assessor da liderança do PT no Senado, exportamos apenas US$ 29,7 bilhões para os EUA, com déficit de US$ 375 milhões. Em meio ao conflito aberto pelo bolsonarismo, o governo chinês anunciou que passaria a comprar soja da China, por “razões de segurança”.

“Em 2002, um ano antes do governo Lula, exportamos para lá apenas US$ 3,04 bilhões. Com a consolidação da parceria estratégica nos governos do PT, essas exportações subiram para US$ 32,47, em 2010”, diz Zero. Ou seja, foram multiplicadas por 10, no governo Lula. Em 2013, já estavam em quase US$50 bilhões (US$ 49,4 bilhões) e, em 2019, mesmo após a crise, já estão em US$ 65,8 bilhões.

A China é especialmente importante para nossas exportações de commodities do agronegócio, com destaque para a soja. A China, sozinha, absorve cerca de 37% do total das exportações agrícolas do Brasil. Em relação aos EUA, o gigante asiático importa quatro vezes mais alimentos brasileiros.  

Nesta quarta-feira, um avião russo desembarcou com 40 toneladas de equipamentos vindos da China.

Nesta quarta-feira (8 de abril), a bordo de um avião cargueiro russo, 40 toneladas de máscaras vindas da China desembarcaram em Brasília. Ainda monitorando a situação em seu território, o país asiático está ajudando cerca de noventa nações a enfrentar a pandemia com equipamentos e inteligência. A liberação de atividades em Whuan na terça-feira, 7, após três meses, sinaliza a urgência em superar ultrapassados ranços ideológicos.

 

Da Redação, com agências de notícias

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