Rogério Correia: “É preciso ver quem beneficiou essa quadrilha”

Na CPMI do INSS, deputado reforça que investigação vai além do financeiro, expondo vínculos com políticos de alto escalão dos governos Temer e Bolsonaro

Alessandro Dantas

"Cabe à comissão expor o papel de cada envolvido”, afirma o deputado Rogério Correia

O empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, ex-sócio do advogado Nelson Wilians, que é suspeito de lavagem de dinheiro do esquema fraudulento de descontos, compareceu nesta segunda-feira (6) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Investigado pela Operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, Cavalcanti é apontado como um dos envolvidos em um esquema de fraudes bilionárias em aposentadorias e pensões.

Cavalcanti chegou protegido por um habeas corpus concedido pelo ministro do STF Luiz Fux. Logo no início, recusou-se a prestar o compromisso de dizer a verdade. Respondeu a algumas perguntas do relator e depois permaneceu em silêncio. 

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“Nunca fui laranja, operador ou beneficiário de qualquer esquema. Os pagamentos por mim recebidos sempre foram compatíveis com minha atividade empresarial”, disse Cavalcanti, que atribuiu o patrimônio ao crescimento do escritório de advocacia em que atuava.

Em seu poder, a PF apreendeu recentemente 21 veículos de luxo, entre eles uma Ferrari de R$ 4,5 milhões, uma réplica de Fórmula 1, além de relógios, vinhos e obras de arte avaliados em milhões de reais. 

O deputado Rogério Correia (MG) defende uma investigação profunda, até que se descubra os verdadeiros culpados. “É preciso ver quem beneficiou essa quadrilha politicamente”.

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A fortuna inexplicável

O relator da CPMI quis saber como alguém que, em 2017, ganhava R$ 5 mil como assessor na Assembleia Legislativa de São Paulo passou, em poucos anos, a ter um patrimônio milionário. “O senhor está no epicentro da maior fraude contra os aposentados do Brasil”, afirmou. O empresário respondeu que todos os bens estão declarados à Receita e que parte ainda está sendo financiada. Disse também que sua empresa Valestra tem “lucro aproximado de R$ 20 milhões por mês”.

Cavalcanti negou qualquer relação com a Associação de Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), investigada por aplicar descontos indevidos em benefícios do INSS. Mas as conexões entre ele, Maurício Camisotti, conhecido como o “Careca do INSS”, e Nelson Wilians continuam no centro das investigações.

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A teia de relações políticas

Para o deputado Paulo Pimenta (RS), as fraudes no INSS não seriam possíveis sem apoio político e proteção dentro do próprio Estado durante o governo Bolsonaro. “Eu não acredito que um esquema dessa magnitude pudesse existir sem suporte político. Esses jovens bilionários não são os autores intelectuais. Alguém os colocou nas posições que ocuparam entre 2019 e 2022”, afirmou.

Pimenta também chamou a atenção para o fato de que em todas as datas citadas pelo depoente, entre 2017 e 2020, os governantes não eram do PT. E reforçou que o esquema se formou “no final do governo Temer e no governo Bolsonaro. Essa gente saiu do esgoto do governo Bolsonaro”. 

Em entrevista à imprensa, o deputado Rogério Correia  lembrou que as relações entre os investigados extrapolam o campo financeiro. Cavalcanti, segundo ele, tinha vínculos com políticos de alto escalão e fez doações à filha de Ricardo Barros (PP), ex-ministro da Saúde de Temer e líder do governo Bolsonaro. “Cabe à comissão expor o papel de cada envolvido, mostrando quem se beneficiou e quem permitiu que os aposentados fossem lesados”, escreveu em suas redes sociais. 

Correia destacou ainda que o governo atual determinou a interrupção dos repasses às associações suspeitas e a devolução dos valores aos aposentados lesados. “Foi Lula que mandou encerrar todos os procedimentos e garantir o ressarcimento aos aposentados”, pontuou.

Em sua intervenção na CPMI, Paulo Pimenta ironizou a fala “indignada” do senador Izalci (PL) na comissão. E lembrou que Izalci foi gravado dando carona para o dono de uma empresa acusada de envolvimento nos desvios.

A CPMI avança

Fernando Cavalcanti confirmou ter relações próximas com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e com o deputado distrital Joaquim Roriz Neto (PL). Admitiu ainda ter feito doações eleitorais a partidos, alegando que foram legais e declaradas. Mostrado em vídeos com governadores como Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr. e o próprio Ibaneis, o empresário minimizou, dizendo que apenas “gosta de ajudar amigos e apoiar projetos”.

A CPMI agora aguarda o retorno do ministro André Mendonça, do STF, sobre o pedido para ouvir Maurício Camisotti, figura central nas investigações. Enquanto isso, as suspeitas continuam crescendo. O depoimento de Fernando Cavalcanti, entre pausas, negativas e silêncio, reforçou o retrato de um esquema montado para enriquecer poucos às custas de milhões de aposentados.

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Da Redação

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